Segundo reportagem da revista Veja desta semana, uma análise dos dados da última pesquisa Datafolha, que apontou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com 33% das intenções de voto, revela que desse percentual, 85% dos eleitores pertencem às camadas mais pobres e menos escolarizadas do país. De acordo com a revista, desde as primeiras eleições diretas para presidente, em 1989, nunca um candidato se apoiou tão pesadamente na massa mais empobrecida do país.
"Nem Collor, que tinha os descamisados, era tão dependente dos pobres", diz o sociólogo Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha.
No Brasil, os pobres - assim considerados os que ganham até cinco salários mínimos -, formam 82% do eleitorado total. O restante divide-se em 12,5% de classe média e 5,5% de ricos, cuja renda familiar é superior a dez salários mínimos. Nesse contexto, claro que qualquer candidato sempre terá mais pobres em seu eleitorado do que ricos ou remediados. Em 1994, o eleitorado de Lula era formado por 78% de pobres. Em 2002, o número subiu para 80%. Agora, saltou para 85%.
De acordo com a revista, a explicação para o presidente Lula ter se tornado o candidato mais dependente dos pobres reside em dois fatores.
Em primeiro lugar, Lula perdeu um pedaço significativo do apoio da classe média, incluindo categorias de históricos eleitores petistas, como servidores públicos, profissionais liberais, universitários e até sindicalistas. "Esse eleitorado costuma votar pela moralidade administrativa, pela ética, pela boa condução da economia", diz o cientista político Michel Zaidan, da Universidade Federal de Pernambuco. "Ao falhar na moralidade e na ética, o PT perdeu o grosso desse eleitorado e ficou com os votos mais atrasados e mais conservadores."
O outro dado que explica o novo eleitorado de Lula é o investimento em programas de governo voltados para a população de baixa renda. O exemplo mais claro é o Bolsa Família, que distribui renda em troca da permanência das crianças nas escolas. Até a eleição, a previsão é que o projeto atenda entre 11 milhões e 12 milhões de famílias.
O eleitorado nordestino, onde reside a população mais pobre do país, tem sido reforçado à base de investimentos importantes. "O governo fará uma refinaria em Pernambuco, a Ferrovia Transnordestina, a duplicação da BR-101, a transposição do Rio São Francisco, a exploração de petróleo na Paraíba. É uma série de boas notícias que reforça o prestígio do presidente na região", analisa o deputado Eduardo Campos, do PSB de Pernambuco, ex-ministro da Ciência e Tecnologia.
"Lula é um líder com um traço popular e populista forte, que se comunica muito bem com as classes C, D e E, tanto pelo discurso quanto pelos projetos", analisa o filósofo Denis Lerrer Rosenfield, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A grande dúvida é saber se um candidato consegue eleger-se - e governar - sem contar com respaldo na elite e na classe média e sem ter, ainda por cima, maioria no Congresso Nacional.
O passado político informa que isso é dificílimo. "Não há na história recente um presidente que tenha sido eleito sem forte apoio na classe média", diz o cientista político Rogério Schmitt, da Tendências Consultoria. "Caso o eleitorado de Lula se restrinja às camadas mais pobres, ele terá apoio suficiente para chegar ao segundo turno, mas dificilmente vencerá", aposta.