O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou hoje que as críticas feitas ao presidente Lula, por causa do tom diplomático com que tratou a nacionalização do gás da Bolívia, são "eleitorais".
"Essas pessoas que reclamam dureza muitas vezes foram muito flexíveis e até excessivamente flexíveis com demandas de grandes potências. Isso tudo entra no meio da campanha eleitoral", afirmou.
A oposição cobrou ontem, depois do discurso em que Lula defendeu novos investimentos na Bolívia, uma posição mais dura do governo.
O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, havia declarado, antes do pronunciamento de Lula, que o Brasil não faria novos investimentos no país e que questionaria imposições de aumento de preços do gás em uma câmara de arbitragem internacional.
O presidente da República, no entanto, amenizou a fala de Gabrielli e afirmou que pretende aumentar a integração na América Latina. A declaração foi feita após a reunião ontem em Puerto Iguazú, com os presidentes Evo Morales (Bolívia), Néstor Kirchner (Argentina) e Hugo Chávez (Venezuela).
"O presidente Lula disse com toda a franqueza tudo o que tinha que dizer, obteve respostas favorecendo o diálogo", afirmou. Segundo ele, o acordo firmado ontem foi importante porque garantiu o fornecimento do gás boliviano ao Brasil.
Amorim observou, contudo, que o Brasil pode deixar de importar o gás boliviano caso haja uma elevação excessiva no preço do produto. Uma alternativa seria importar gás liquefeito da Nigéria ou de outros países.
"Não sei nem os percentuais. Acho que isso não é uma tarefa nossa (do Itamaraty), é da Petrobras e do Ministério de Minas e Energia. O problema é que, se os aumentos forem excessivos, simplesmente o gás se inviabiliza", disse. "O gás só existe no Brasil porque ele chega aqui a um preço competitivo em relação ao óleo combustível, em relação ao gás liquefeito e a outras fontes de energia. A questão do preço fica condicionada a isso."