Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Congresso em Foco
21/12/2005 | Atualizado 22/12/2005 às 8:07
Diego Moraes
A julgar pelas declarações de seus integrantes, o documento apresentado pela CPI dos Correios nesta quarta-feira (21) tinha tudo para ser morno. Tinha. As revelações da prestação de contas da comissão sacudiram o Congresso e transformaram-se no último fato político de 2005. A sustentação de que o pagamento de mesadas pelo PT a parlamentares existiu e a descoberta da operação "Visanet 2" prometem deixar o governo preocupado com a o que está por vir no ano eleitoral.
A prestação de contas, como foi apelidado o texto de 411 páginas apresentado pelo relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), mostra que o Banco do Brasil repassou, em todos os contratos, R$ 73 milhões para as contas de Valério por intermédio da Companhia Brasileira de Pagamentos (Visanet). A empresa opera os cartões Visa no país e tem contrato de publicidade com as agências do empresário. O BB é o responsável pelos pagamentos porque detém um terço do controle acionário da operadora.
Visanet-2
O documento mostra ainda uma segunda versão, mais sofisticada, da operação pela qual a Visanet repassou dinheiro para o valerioduto. Em apenas uma semana, R$ 9,7 milhões, de acordo com Serraglio, foram lavados nas contas de Valério e justificaram um dos empréstimos de fachada tomados por ele no Banco Rural.
No dia 19 de maio de 2003, o Banco do Brasil depositou R$ 23,3 milhões nas contas da DNA Propaganda, uma das agências de Valério, a título de antecipação de lucros. No mesmo dia, a empresa aplicou quase toda a quantia no BB Fix, um fundo de investimento.
Em seguida, a DNA tomou um empréstimo de R$ 9,7 milhões no Banco do Brasil e transferiu para a conta da SMP&B, outra agência do empresário, no Banco Rural. No outro dia, a DNA transferiu outros R$ 9,7 milhões, na forma de empréstimo, para a conta da SMP&B no Rural. Em seguida, a SMP&B fez um empréstimo junto ao Rural de R$ 18,4 milhões e devolveu os R$ 9,7 milhões do empréstimo para a DNA.
Porém, a CPI afirma que o empréstimo feito no Rural foi forjado, para justificar os R$ 19 milhões depositados, com dinheiro do Banco do Brasil, pela DNA na conta da SMP&B. A comissão acredita ainda que os R$ 9,7 milhões que ficaram disponíveis na conta do Rural serviram, na verdade, para alimentar o valerioduto.
O esquema foi apelidado de "operação Visanet 2" porque é semelhante ao divulgado pela CPI em outubro. Em 2004, a Visanet fez outra antecipação de R$ 10 milhões para as empresas de Valério. No mesmo dia, o empresário fez um empréstimo no mesmo valor, supostamente de fachada, no Rural. O dinheiro público ficou disponível na conta da SMP&B no Rural e provavelmente serviu para financiar o valerioduto.
Movimentação bilionária
O relatório aponta tráfico de influência de Marcos Valério junto a membros do alto escalão do governo, especialmente a partir da chegada do PT ao Planalto. O deputado relatou que o empresário tinha relacionamento com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e reunia-se com freqüência na Casa Civil, chefiada pelo então ministro José Dirceu. Também tinha trânsito na diretoria do Banco Central e prestou favores ao procurador afastado da Fazenda Nacional Glênio Guedes.
O documento mostra ainda que a movimentação de Marcos Valério entre 1997 e 2005 chegou a mais de R$ 2,6 bilhões. O dinheiro passou por mais de 90 contas em 13 bancos diferentes, o que, na avaliação do relator da CPI, é uma prática que tipifica a lavagem de dinheiro. No rastreamento bancário de Valério, foi identificado ainda que saiu mais dinheiro do que entrou nas contas do empresário.
Serraglio ressaltou que os empréstimos de R$ 55 milhões feitos pelo empresário nos bancos Rural e BMG e repassados para o PT eram provavelmente de fachada, para justificar recursos públicos desviados. Até porque o pagamento de políticos via valerioduto identificado até agora chegou a R$ 51 milhões. Essa diferença indica que a versão dos empréstimos pode ter sido arranjada posteriormente.
Além dos contratos dos Correios e da Eletronorte, a CPI descobriu que o contrato de publicidade de Valério com o Banco do Brasil também foi dado em garantia a dois empréstimos tomados por ele no Banco Rural. A prática de dar contratos públicos na garantia de empréstimos é proibida por lei.
Mensalão
No relatório, o deputado reforçou a existência do pagamento de mesadas pelo PT para que deputados da base votassem com o governo. Argumentou que muitos dos repasses do caixa dois petista para os aliados ocorreram fora do período eleitoral, o que desmontaria a tese de dinheiro para pagar dívidas de campanha. Ele enfocou ainda a questão das trocas partidárias e disse que bancadas de legendas como o PP e o PL cresceram significativamente entre 2003 e 2004.
O PL, de acordo com as investigações, recebeu recursos semanalmente por intermédio da Guaranhuns. Durante quatro semanas, o PL teria recebido R$ 500 mil. Depois, o partido recebeu mais cinco parcelas de R$ 300 mil. Em seguida, mais seis parcelas de R$ 200 mil. Completariam os repasses depósitos variados que somariam R$ 1,33 milhões.
De acordo com a prestação de contas, o pagamento de "mensalão" se concentrou também em maio de 2003, "com intenso ingresso de parlamentares no PTB".
O mesmo fato é apontado em relação ao PP: "concentração de pagamentos entre janeiro e fevereiro de 2004, com mudança de parlamentares para o Partido Progressista". Os repasses ao PP teriam intervalos de 48h a 72 h e foram feitos por intermédio da corretora Bônus-Banval.
"Existiu um sistema de corrupção de parlamentares que compromete, inclusive, as nossas decisões", enfatizou Serraglio, referindo-se à relação entre as datas dos pagamentos e a votação de projetos importantes na Câmara, como a PEC Paralela da Previdência. O parlamentar mostrou ainda uma lista que detalha o pagamento a parlamentares. Ele afirmou que os pagamentos obedeciam uma periodicidade, embora nem sempre mensal.
Oposição e governistas divergiram
Apesar das revelações, o relatório de Serraglio foi criticado pelos parlamentares governistas da CPI. Durante a apresentação, vários petistas não aceitaram os dados contidos no documento e se indignaram com a afirmação de que o mensalão existiu de fato. O relator lamentou as críticas. "Eles (os governistas) procuram defender o indefensável", devolveu.
O deputado Maurício Rands (PT-PE) disse que o relator não enfocou o uso do valerioduto pelo senador tucano Eduardo Azeredo (MG) quando ele concorrera ao governo de Minas Gerais, em 1998. "O relatório se concentrou na movimentação de Marcos Valério entre 2003 e 2004 apenas", afirmou. "É um documento qualificado que aponta fontes e destinatários", rebateu o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
O presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS), disse que o relatório é consistente, mas cobrou cautela dos colegas. "As informações precisam ser melhor trabalhadas. Mas alguns dados surpreendem", declarou.
Temas
PEC da Blindagem
Silvye Alves pede desculpas por voto a favor da PEC da Blindagem
PEC da Blindagem
Em vídeo, Pedro Campos diz que errou ao apoiar PEC da Blindagem
PEC da Blindagem
PEC da blindagem
Artistas brasileiros se posicionam contra a PEC da Blindagem
SERVIDOR LICENCIADO