Na queda-de-braço entre os fundos de pensão e o banqueiro Daniel Dantas, cada lado se arma silenciosamente. Dantas tem utilizado o PFL para operar a seu favor no Congresso. A oposição, por sua vez, acusa parlamentares ligados ao ex-ministro Luiz Gushiken de tentarem proteger as entidades fechadas de previdência complementar. Ninguém assume, porém, a defesa explícita de uma das partes.
Mas a divisão é nítida para os parlamentares distantes da briga, como o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (PE): "Daniel Dantas tem representantes no PFL aqui no Congresso, da mesma forma que os fundos de pensão têm representantes petistas. Essa disputa pode até ser legítima, mas o Congresso não pode ser palco dessa disputa e ficar paralisado".
Defensor da convocação do banqueiro e do ex-ministro, o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) não tem dúvidas de que os dois depoimentos vão tornar o clima mais tenso na comissão. "Interesses de todos os lados serão feridos", diz.
Outro integrante da CPI dos Correios, o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) afirma que tanto Dantas quanto Gushiken têm muito a esclarecer. "Fica cada vez mais claro que as aplicações de Gushiken nos fundos, a partir de 2003, aumentaram muito e foram estapafúrdias. Já Dantas terá de explicar o incremento enorme dos pagamentos da Amazônia Celular a ele", diz.
Qualquer revelação que comprometa os fundos de pensão pode ser encarada como um ponto a favor para os negócios de Dantas na disputa judicial com os fundos. O eventual comprometimento do banqueiro com irregularidades pode, por outro lado, selar definitivamente sua derrota na disputa pela Brasil Telecom. Outra possibilidade não pode ser descartada: a de Dantas fazer revelações não apenas sobre os fundos de pensão, mas também a respeito de membros dos governos Lula e FHC.
No episódio das fitas grampeadas no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), durante o mandato de Fernando Henrique, o então presidente da instituição, André Lara Resende, e o ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, perderam seus empregos sob a suspeita de favorecimento a Dantas.
O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), cotado no momento para se candidatar à presidência do partido encabeçando a chapa do chamado Campo Majoritário, dá uma no cravo e outra na ferradura. De um lado, cobra mais transparência dos fundos de pensão. "A responsabilidade com os ativos é a questão mais importante de um fundo de pensão", enfatiza. Do outro, Berzoini, que foi ministro da Previdência em 2003, transfere parte da responsabilidade por eventuais irregularidades cometidas pelos fundos ao governo Fernando Henrique Cardoso.
"Depois que o PFL teve influência sobre os fundos, o ministério percebeu várias movimentações que não estavam de acordo com os princípios da boa governança", afirmou ao Congresso em Foco . O ex-ministro não entrou em detalhes sobre que irregularidades seriam essas. Outros petistas, protegidos pelo off, são mais explícitos: demonstram curiosidade em conhecer as circunstâncias em que o Opportunity obteve dos antigos dirigentes dos fundos de pensão compromissos que lhe davam uma margem de manobra excepcional sobre as empresas das quais as entidades de previdência se tornaram acionistas.
|