O advogado Rogério Tadeu Buratti confirmou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos o depoimento que prestou ao Ministério Público Estadual de São Paulo na última sexta-feira, quando envolveu o atual ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, em um esquema de corrupção. Buratti reiterou que, durante a administração de Palocci, a empresa Leão e Leão pagou propina de R$ 50 mil por mês à prefeitura de Ribeirão Preto (SP). O destino do dinheiro, segundo ele, era o caixa do diretório nacional do PT.
De acordo com o advogado, o pagamento era feito ao então secretário da Fazenda de Ribeirão, Ralf Barquete dos Santos, que morreu de câncer em julho de 2004. O esquema, segundo ele, era de conhecimento de Palocci. "Nenhuma empresa faz uma contribuição, qualquer que seja o tamanho, sem que o patrão - no caso, o prefeito - saiba. Então, acredito que Palocci soubesse, sim."
Buratti afirmou, no entanto, que não tem como comprovar a denúncia, que abalou o mercado financeiro na última sexta-feira. "É muito difícil você falar de uma coisa, da qual você tem informações e não tem provas, porque a única prova é uma pessoa morta. Eu conversava muito com o Ralf", admitiu.
Secretário de Governo durante a primeira gestão de Palocci em Ribeirão Preto , o advogado também revelou que a renovação do contrato da Gtech (empresa de fornecimento e manutenção de máquinas para casas lotéricas) junto à Caixa Econômica Federal (CEF) fazia parte de um acordo eleitoral fechado em 2002. Buratti explicou que a negociação foi fechada a partir da contribuição de empresas ligadas a jogos à candidatura do PT à presidência da República.
Acordo rompido
Em depoimento ao Ministério Público, ele já havia dito que a Gtech ofereceu propina de R$ 16 milhões ao PT para que o contrato de fornecimento de tecnologia para a Caixa Econômica Federal (CEF) fosse renovado. O negócio não foi fechado, segundo Buratti, porque Palocci resolveu não participar do acordo.
O advogado afirmou que não tem conta no exterior, como foi sugerido anteriormente, e que não é "exatamente amigo" de Palocci, embora tenha respeito pelo ministro. "No entanto, tenho o compromisso de falar a verdade". Também negou ter envolvimento com irregularidades supostamente cometidas pelo Partido dos Trabalhadores. "Nunca fui operador do PT, nunca carreguei dinheiro do partido", declarou.
Convocação em aberto
Após o depoimento de Buratti, o relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), afirmou que ainda não há elementos que justifiquem a convocação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "Precisamos refletir mais e aprofundar a investigação. Mas não descartamos a convocação". O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse, no entanto, que acredita que a convocação de Palocci seria oportuna. "Os indícios são extremamente comprometedores. Além disso, é o ministro que segura a chave do cofre da Nação. Não pode pairar sobre ele nenhum tipo de suspeita."
Histórico das denúncias
Buratti foi preso por dois dias, mediante acusação de lavagem de dinheiro e destruição de documentos. Na última sexta-feira (19), depôs ao ter a garantia de delação premiada: ou seja, dependendo do grau de veracidade das afirmações, poderá ter sua pena reduzida. Além de ter sido assessor de Palocci na prefeitura, o advogado trabalhou para a Leão e Leão até 2004.
Em seu depoimento ao Ministério Público, Buratti afirmou que Palocci recebia pagamento de R$ 50 mil por mês da Leão e Leão, empreiteira que cuidava do serviço de lixo na cidade. Buratti informou ainda que o dinheiro era repassado ao diretório nacional do PT para fazer caixa de campanha. O negócio seria intermediado por Ralf Barquete dos Santos. Em entrevista coletiva no último domingo, o ministro rebateu a denúncia. O Grupo Leão e Leão divulgou nota oficial na qual também negou a acusação.