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2/1/2021 | Atualizado 10/10/2021 às 16:59

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População negra aparece nas estatísticas em São Paulo como mais vulnerável ao coronavírus[fotografo]David Mark/Pixabay[/fotografo]

População negra aparece nas estatísticas em São Paulo como mais vulnerável ao coronavírus[fotografo]David Mark/Pixabay[/fotografo]
Neste ano de distanciamento preventivo para reduzir os riscos de circulação da covid-19, saudades do que foi vivenciado, e do que não foi, tem sido tema constante de diálogos  sobre os vários tempos da vida e das  trajetórias.   É como se o distanciamento demandasse  encontros com memórias  que ancoram a percepção do lugar histórico  individual e dos grupos sociais.  2020  foi um ano de exposição  à perversidade ditatorial do comando do Executivo do país, principalmente no que se refere à vulnerabilização  coletiva à pandemia, como escancarou-se também da brutalidade assassina, racista, impiedosa, que ceifou vidas negras aos olhos do conjunto social. Soma-se o fato de, quem se importa, ao se manifestar contra as atrocidades,  ter encontrado   até entre os seus, sintonia com a herança genocida de escravocratas e de capitães do mato, que  referendaram a irracionalidade da omissão e   violência. Respirar ficou tão difícil que, oxigenar o cérebro  e conectá-lo ao coração  parece ter sido a saída para buscar o que há de reserva de decência em  humanos, nesta terra brasilis. Além do entendimento do racismo estrutural, estes tempos de passagem para o novo ano  conduzem a entendimentos específicos sobre o cotidiano produzido pelas iniquidades. A percepção da morte coletiva, pontual, de um conjunto humano, nos tempos de festa e encontro, induz à necessidade ética de se aprofundar nos processos de  vida dos que se foram e dos que ficam. O que desenhou  a  existência e a jornada de quem partiu e de quem foi deixado para trás?  Qual o sentido da mortalidade de  homens  negros pela covid em São Paulo, que é de 250 óbitos para cada 100 mil habitantes, sendo que  entre os brancos, são 157 mortes a cada 100 mil, segundo estudos do Instituto Polis. No caso  de  mulheres negras  são 140 mortes por 100 mil habitantes, contra 85 por 100 mil entre as brancas.  Segundo o IBGE,  na análise das mortes no Brasil, pretos e pardos representam 57% dos mortos pela doença, enquanto brancos são 41% dos mortos e, ademais, as distâncias tendem a aumentar com o novo crescimento da pandemia. Entre os profissionais de saúde, também são os negros, na linha de frente, que mais vão a óbito. O que mudou no Natal e o que muda no Ano Novo das famílias negras, dos que sobrevivem, que têm nos encontros o fortalecimento para   continuar?   No  profundo apartheid brasileiro,  exceto no mundo dos negros que ascenderam economicamente de forma individualizada e se integraram à classe média urbana, que romperam com   a vivência cotidiana com suas famílias suburbanas ou rurais, os encontros  natalinos e de ano novo têm contornos próprios.  São resultado do desenvolvimento desigual. Mas também são fonte de inspiração, energização e referências para a sobrevivência às estratégias de exploração e de extermínio, de ruptura das redes familiares e de afeto, que são promovidas pelos vampiros operadores das desigualdades, cuja  finalidade é o  controle social para assegurar o próprio bem viver e a segurança do capital.     Nos anos 40, com a industrialização  e a urbanização, a maioria das famílias negras  teve  filhos que migraram para as cidades, onde compunham mão de obra barata. Esses negros brasileiros trabalhavam produzindo os natais de quem comandava o conjunto social. Assim, depois de servirem os "de cima", como  identificou Florestan Fernandes, seguiam para suas famílias, levando o que haviam comprado com suas economias e, ainda, o que era doado pelos patrões, geralmente o que sobrava das refeições e roupas usadas.  Contam, os mais velhos, que um dos irmãos buscava os que trabalhavam nas cidades  de charrete, de forma que estivessem em casa no dia 25 à tarde, quando a família celebrava abrindo os presentes. Essa circulação de negros para os interiores, para a roça, para os quilombos, para as favelas, logo depois do trabalho nos ofícios do Natal,  e até o dia de Reis, foi intensa até o início de 2020. Havia  um vai e vem, vez que as visitas aos familiares dos centros urbanos também eram  frequentes.  O porco assado, a lentilha, o pão doce na passagem do ano, depois, em 6 de janeiro, a queima da palhinha, a fé e fogo na desmontagem dos presépios, o terno de reis e toda a comilança, este ano só nos espaços íntimos e na saudade. Há encontros virtuais, para quem assim consiga se comunicar. Chorar os mortos será solitário. Se para  o mundo a torcida para que  a vacina de prevenção à pandemia seja acessível é enorme, para os negros é o desejo maior nesta passagem. A irresponsabilidade dos dirigentes brasileiros, que nos põem atrás de vizinhos  da América Latina e de quase todo o mundo, recai  como o raio da morte sobre os afro-brasileiros, muito mais expostos. Pelo direto aos encontros, à comilança compartilhada e ao fortalecimento, vacina já é o  sonho negro para 2021! Outros artigos da coluna Olhares Negros    
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Ano Novo Natal racismo América Latina apartheid negros brancos desigualdade racial pardos negras Vacina covid-19 pandemia racismo estrutural pretos Olhares Negros Dulce Pereira

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