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Helena Theodoro
Dulce Pereira
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22/4/2021 | Atualizado 10/10/2021 às 17:01
Preparação dos panelões de feijoada [fotografo]Arquivo pessoal[/fotografo][/caption]Os amigos vindos do Rio como Yara Will e seu marido Jorge, minha comadre Mary, Paulinha minha afilhada e seu marido e muitos outros ajudavam fazendo doações de feijão, carnes, couve, cerveja, mas sempre Fernando Jorge, eu, Nelson Alexandre e Nelsinho íamos em Inoã comprar o básico para a festa.
Contamos sempre com a colaboração das mulheres da família: Márcia, mulher do Nelson, Angelina, esposa do filho Nelson Alexandre, Dona Regina, mãe de meu marido, a querida Zezé, madrinha do Fernandinho, Jorginho de Guaratiba, que pintava minha casa e ajudava a servir, sem esquecer do Babalaô Marco Aurélio que nos cedeu muitas cervejas e do Álvaro que cuidava da iluminação, sempre pronto a ajudar na estrutura geral.
Os filhos de Fernando Jorge, a filha de Nelson, os filhos de Márcia, meu filho e netos, todos participaram. Impossível dizer o nome de todos e todas que nos apoiaram durante 18 anos. Enfim, amigos e comunidade participaram das festas na Rua 27, Quadra 37, Lote 29, Guaratiba, Maricá, durante 15 anos. Muitos tocaram, outros cantaram, outros curtiram as inúmeras melodias feitas em homenagem a São Jorge e a Ogum que tivemos o cuidado de gravar e apresentar, mas todos estavam com sua fé, seja no santo católico ou no orixá nagô, buscando resolver as dificuldades do dia a dia.
Maricá tem inúmeros grupos que homenageiam São Jorge, sendo que no dia 23 de abril contávamos com alvorada com fogos às 6h, encontro para café comunitário em casa de amigos, após uma noite inteira fazendo feijoada na lenha para cerca de quatrocentas pessoas. As camisetas eram distribuídas gratuitamente, conseguimos oferecer as bebidas e, logicamente, muito samba e muita fé. Às 18h, tínhamos uma roda de orações sob meu comando, onde saudávamos São Jorge e Ogum guerreiro, agradecendo a todos pela presença e pela energia boa que criamos.
[caption id="attachment_491940" align="alignnone" width="1024"]
[fotografo]Mariana Maiara[/fotografo][/caption]Consolidamos nossa tribo, com laços de amizade e de solidariedade, provando que podemos juntos vencer os problemas e as dificuldades.
Não posso deixar de mencionar os amigos do universo do samba, que prestam muitas homenagens neste dia 23 de abril, apontado na história como sendo da morte de São Jorge em 303 a mando do imperador Diocleciano. Inúmeros são os sambas que tratam do tema. Jorge Bem fez letra e música intitulada Jorge da Capadócia, que exprime bem o sentimento da comunidade preta, por conta da falta oportunidades e de assistência em que vive:
"Jorge sentou praça na cavalaria, eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia, eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge, para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem."
As desigualdades gritantes da sociedade brasileira cada vez mais expostas nesta pandemia nos fazem buscar as proteções de nossa fé, já que não temos vacinas suficientes e nem atendimento hospitalar adequado, justificando o canto de Zeca Pagodinho com a música de Pecê Ribeiro:
"Vou acender velas para São Jorge. A ele eu quero agradecer. E vou plantar comigo ninguém pode. Para que o Mal não possa então vencer. Olho grande em mim não pega. Não pega em quem tem fé no coração. Ogum com sua espada encarnada me dá sempre proteção. Quem vai pela boa estrada no fim dessa caminhada encontra em Deus perdão."
Nada mais pertinente do que rezar para Ogum e São Jorge neste momento de tantas perdas, já que o samba é o canto e a dança da reza, pois nos coloca em sintonia com o cosmos em busca de equilíbrio. Mais uma vez uso a arte de Zeca Pagodinho e Jorge Benjor para enfrentar estes momentos difíceis que estamos vivendo:
"Eu sou descendente Zulu
Sou um soldado de Ogum
Devoto dessa imensa legião de Jorge
Eu sincretizado na fé
Sou carregado de axé
E protegido por um cavaleiro nobre
Sim vou na igreja festejar meu protetor
E agradecer por ser mais um vencedor
Nas lutas nas batalhas
Eu canto pra Ogum
Ogum
Um guerreiro valente que cuida da gente que sofre demais.
Ogum"
Homenagear hoje meu primo Nelsinho, que tinha fé na vida e muita alegria de viver é reafirmar a importância de nossa família e dos amigos, apoiada nos que já se foram mas continuam presentes em nossas emoções e pensamentos, forjando um agora que nos leve a um mar de esperança que traga bonança para o nosso amanhã.
Desde 2018 não consigo ir para Maricá, mas preciso voltar ao meu lugar, no caminho de Ogum e Iansã. Lá tem muita energia boa, que nos permite muita ginga no andar e lembranças de momentos carregados de axé. Salve Jorge! Salve Ogum! Salve Nelson Tadeu!
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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