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COP30

O prato que devasta e o prato que regenera

Coalizão propõe cardápio que respeita clima, floresta e agricultura familiar na conferência do clima em Belém.

Maurício Alcântara

Maurício Alcântara

15/7/2025 14:00

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Os sistemas alimentares ocupam papel central na emergência climática, responsáveis por cerca de 1/3 das emissões de gases de efeito estufa no mundo. No Brasil, agropecuária e desmatamento respondem por cerca de 74% dessas emissões. As maneiras como produzimos, transportamos, consumimos e descartamos os alimentos impactam diretamente o clima do planeta e, ainda assim, a alimentação segue à margem das principais discussões ambientais, como se houvesse separação possível entre o que se serve no prato e a saúde das pessoas e do meio ambiente.

Esse distanciamento se reflete na forma tímida como o tema aparece nas mesas das grandes negociações ambientais. Isso favorece que a lógica que rege os sistemas alimentares predominantes continue acelerando o colapso climático. Florestas são derrubadas para dar lugar a monoculturas extensivas; fertilizantes e agrotóxicos contaminam solo e água; cadeias logísticas longas e baseadas em combustíveis fósseis conectam hemisférios para entregar um cardápio que muitas vezes empobrece territórios e corpos. As emissões não vêm apenas dos caminhões, navios e aviões que levam comida mundo afora, mas do próprio modo de produzir: intensivo, desigual, baseado na prática da extração e não da regeneração.

Além do impacto direto, esse modelo compromete a segurança hídrica, reduz a biodiversidade e contribui para a instabilidade dos ciclos de carbono e do clima, desequilibra o clima e fragiliza a resiliência dos ecossistemas e das sociedades. É um sistema que se diz eficiente na escala e na exportação de commodities, mas revela-se frágil quando o objetivo é alimentar populações com qualidade nutricional e com justiça ambiental e climática.

Iniciativa propõe cardápio agroecológico na COP30 e insere o debate alimentar no centro das decisões climáticas.

Iniciativa propõe cardápio agroecológico na COP30 e insere o debate alimentar no centro das decisões climáticas.Freepik

A COP30 oferece ao Brasil a oportunidade de liderar um novo capítulo na diplomacia climática. Um capítulo em que os sistemas alimentares não sejam tratados como um detalhe logístico, mas como um eixo estratégico da discussão. A proposta da coalizão "Na Mesa da COP30", coordenada pelo Instituto Regenera e pelo Instituto Comida do Amanhã, inscreve-se nesse esforço.

Além de trazer para o debate global a questão dos sistemas alimentares, essa coalizão da sociedade civil propõe que o exemplo comece justamente aqui, com um novo olhar sobre a comida que será servida nesse grande evento internacional. A iniciativa quer colocar na mesa da conferência um cardápio alinhado ao debate climático: saudável, diverso, agroecológico e produzido majoritariamente por agricultores familiares e povos tradicionais da Amazônia.

A proposta prevê que pelo menos 50% dos insumos consumidos durante o evento sejam adquiridos de produtores locais. O impacto é expressivo: além de movimentar a economia regional, com estimativa de R$ 5,5 milhões em compras da agricultura familiar, a ação visa consolidar um modelo alimentar que respeite a floresta e seus guardiões. Mais que uma decisão logística, trata-se de uma escolha política com potencial de influenciar o desenho de práticas públicas alimentares mais justas e sustentáveis.

Servir alimentos que preservam o clima e a saúde não é apenas coerência. Inserir os sistemas alimentares na pauta climática é reconhecer que nenhuma transição será possível sem mudanças profundas na forma como se produz, distribui e consome alimentos. E este é um debate que não pode se encerrar com o evento. Seu legado deve influenciar políticas públicas alimentares, redefinir compras institucionais e inspirar novos modelos de desenvolvimento para a Amazônia e outras regiões. Há comidas que degradam e outras que regeneram. A COP30 tem a chance de mostrar essa diferença ao mundo, com a floresta no centro do prato e da mesa de negociações.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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justiça climática COP30 agricultura familiar
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