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Racismo estrutural
9/7/2025 14:00
Na noite de 4 de julho de 2025, Guilherme Ferreira, 26 anos, negro, trabalhador, casado e prestes a ser pai, foi morto com um tiro nas costas por um policial militar de folga. Ele apenas corria para pegar o ônibus após mais um dia de trabalho. Foi confundido com um assaltante. Não teve chance de se explicar. Sua única "culpa" foi ter o corpo negro em movimento.
Esse caso, como tantos outros, não é exceção. É o retrato cruel do racismo estrutural no Brasil. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023, 76% das pessoas mortas pela polícia no país eram negras. O Atlas da Violência já alertava: jovens negros têm quase três vezes mais chances de serem assassinados do que jovens não-negros. O que esses dados escancaram é uma realidade seletiva, em que a cor da pele determina o risco de morrer.
É importante afirmar: nem todo policial é racista. Muitos atuam com coragem e respeito. Mas há um padrão que não pode ser ignorado. A cultura policial brasileira foi forjada sob práticas de repressão à população negra e periférica. Isso se traduz em abordagens violentas, julgamentos instantâneos e mortes evitáveis. Quando um PM atira pelas costas de um jovem negro que corria para o ponto de ônibus, é porque o sistema o ensinou que esse corpo em movimento é perigoso.
Guilherme é mais um entre muitos: João Pedro, 14 anos, morto dentro de casa no Rio; Evaldo Rosa, músico, executado com 80 tiros por militares; Genivaldo de Jesus, morto asfixiado por agentes da PRF em uma viatura. Todos negros. Todos inocentes. Todos vítimas de uma mesma estrutura racista.
A indignação seletiva também precisa ser questionada. Quando um jovem não-negro morre tragicamente, há comoção nacional. Quando é um jovem negro, é comum que a sociedade pergunte primeiro: "mas ele tinha passagem?" Ou, "estava fazendo o quê ali?". Como se a vida negra precisasse ser constantemente justificada.
A luta contra o racismo não é contra a polícia, é contra o preconceito que habita nela e em tantas outras instituições. O combate ao racismo institucional exige reformas profundas: protocolos de abordagem, formação antirracista nas corporações, controle externo das ações policiais e políticas públicas que promovam equidade racial.
A pergunta que fica é: até quando vamos normalizar a morte de pessoas negras inocentes em nome do "engano" ou da "suspeita"? Até quando correr será sinônimo de culpa?
Guilherme não volta. Mas sua história precisa ser o ponto de virada. A vida negra importa. E deve importar agora.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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