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Artigo
15/9/2025 16:00
Há pouco tempo, um seguidor das minhas redes, talvez eleitor, decepcionado, me pediu: "Otoni, volte a ser da extrema direita". Ao ler esse apelo, tive dois sentimentos: o negativo, por já ter sido visto como representante do extremismo, e o positivo, por saber que hoje essas mesmas pessoas reconhecem que não pertenço mais a esse mundo.
Sim, já estive no extremo. Mas decidi sair quando percebi que não me parecia mais com Jesus. Não era sobre voz firme ou discursos inflamados, mas sobre o fato de usar um dom pastoral dado por Deus para alimentar ódio e rancor. Xinguei, odiei, e me deixei levar pelo ego inflado pelos aplausos de quem se inspirava em mim para também odiar. Acusava a esquerda de intolerância, mas era eu quem patrocinava o radicalismo.
O ponto de virada veio quando me vi em vídeo, na tribuna, dizendo que se Lula fosse à minha casa eu o receberia a bala. Eu nunca tive arma, nem pensava assim de verdade. Fui engolido por um personagem que me afastava de Cristo e me aproximava de políticos que eu idolatrava. Senti vergonha de mim, dos meus irmãos, das minhas ovelhas, da minha família e da minha liderança pastoral. Percebi que, na arrogância e brutalidade, não era diferente de um extremista de esquerda.
Resolvi mudar, mesmo sabendo que pagaria caro. Renunciei aos aplausos e decidi dizer publicamente que não era mais bolsonarista. Sabia que enfrentaria a máquina de triturar reputações, poderosa em determinar a quem devemos odiar e chamar de traidor. Assinei meu atestado de óbito político, mas não queria mais viver um personagem.
Entendi que meu erro maior, aos olhos deles, foi me tornar uma voz libertária dentro da igreja. Mostrar que é possível ser de direita e conservador sem raiva do outro. Que somos cristãos antes de sermos bolsonaristas ou lulistas. Que a igreja não pertence a partidos ou líderes, mas a Jesus. Dizer que, seja qual for o presidente, o Brasil continua sendo do Senhor, era uma ameaça ao domínio que os extremos buscam manter.
Assumi o preço dessa decisão, mesmo com ameaças diárias. Antes de político, sou pastor. Sei que Deus, que me levantou sendo eu preto, pobre e da Baixada, é quem decide se terei ou não mais mandatos. Não sou anti-Bolsonaro, continuo oposição à pauta progressista, mas não negócio valores, não coloco caráter no balcão da política. Quero fazer política de verdade: com diálogo, defesa da família, valorização do SUS, combate à criminalidade, educação de qualidade e transporte digno. Política que põe comida na mesa do trabalhador e não se limita a debates intermináveis.
Um amigo me disse: "Otoni, você não mudou, apenas encontrou sua essência cristã". É isso. Ao seguidor que pediu que eu voltasse à extrema direita, respondo: esse sou eu. Não que antes eu fosse de mentira, mas eu vivia verdades que não eram minhas. Hoje apenas tento me parecer mais com Jesus - inclusive na forma de fazer política.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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