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Política internacional

Entre Trópicos de Jacarta a Belém, o roteiro Brasil-Indonésia

Visita de Lula à Indonésia marca início de uma estratégia Sul-Sul que mira cooperação em clima, alimentos e transição energética.

Caio Favaretto

Caio Favaretto

23/10/2025 16:36

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Em meio ao desarranjo do multilateralismo - da paralisia da Organização Mundial do Comércio (OMC) ao recrudescimento da guerra tarifária liderada por Washington -, a visita do presidente Lula a Jacarta, em outubro, é mais que protocolo: é estratégia. Diante de ameaças de novas tarifas de 100% sobre importações chinesas e de regras globais sem árbitro, o Brasil precisa diversificar parceiros e reduzir riscos de dependências unilaterais.

Por que Jacarta? Porque a Indonésia combina estabilidade macro com crescimento em torno de 5% no pós-pandemia e ambição de chegar a 6% sob a nova equipe administração do presidente Prabowo. A Grande Jacarta reúne mais de 32 milhões de habitantes e o país abriga a maior população muçulmana do planeta - um mercado e uma ponte diplomática de primeira ordem para o Sul Global.

Presidente Lula ao lado do presidente da Indonésia, Prabowo Subianto.

Presidente Lula ao lado do presidente da Indonésia, Prabowo Subianto.Ricardo Stuckert / PR

Às vésperas da COP30 em Belém, Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo (RDC) - as três grandes bacias tropicais - podem liderar padrões de integridade para créditos de carbono: rastreabilidade e salvaguardas aos povos originários. Essa governança deve nascer no Sul, evitando captura por interesses externos. O lançamento do Fundo Florestas Tropicais (TFFF), veículo de financiamento para conservação e bioeconomia, pode ser um catalisador estratégico nesse movimento.

Segurança alimentar e justiça climática são frentes imediatas. A produtividade agropecuária brasileira - fruto de décadas de pesquisa da Embrapa - pode elevar rendimentos na Indonésia, reduzindo a pressão fundiária sobre biomas sensíveis, como Papua, e estruturando cadeias halal de alto padrão. No entanto, o quadro social pede urgência. O papel da Aliança Global contra a Fome e a pobreza é central na troca de experiências concretas de programas de alimentação popular e distribuição de renda, duas questões críticas enfrentadas por Brasil e Indonésia; o programa de refeições escolares do governo Prabowo, já com dezenas de milhões de beneficiários mas encontra desafios, é terreno natural para cooperação em parcerias estratégicas.

Nos minerais estratégicos, a convergência é nítida. Ao proibir a exportação de minério de níquel e atrair capital - sobretudo chinês - para o processamento, a Indonésia encurtou a distância até a cadeia de baterias elétricas, centrais na transição energética global. O Brasil, dono de lítio, níquel, manganês e grafite, precisa acelerar o "middlestream" de suas cadeias produtivas (refino, cátodos, componentes). Uma futura plataforma BNDES-Danantara poderia mitigar riscos de projetos de longo prazo, compartilhando garantias, padrões ambientais e conteúdo local. O novo fundo soberano indonésio, lançado em 2025, já mira energia, alimentos e infraestrutura - janela ideal para joint ventures alinhadas às estratégias nacionais.

Há ainda um trunfo brasileiro: biocombustíveis. Do etanol de cana ao SAF/HVO, o Brasil domina tecnologias que ajudam a substituir carvão e reduzir a dependência indonésia de combustíveis fósseis importados. Jacarta discute mandatos de mistura de etanol e, ao mesmo tempo, busca diminuir a histórica concentração de importações refinadas vindas de Cingapura. Transferência tecnológica, investimentos cruzados e certificação de sustentabilidade podem acelerar essa transição.

Esse movimento aproxima o Brasil do "novo triângulo dourado" - ASEAN, Golfo e China -, onde circulam os fluxos mais dinâmicos de comércio e capital. O Brasil pode ser arquiteto de pontes: de créditos de carbono a proteínas halal; de biocombustíveis a baterias. Para dar certo, a agenda precisa de salvaguardas democráticas: uma sociedade civil vibrante, transparência, consulta às comunidades, proteção aos povos originários e métricas de impacto social.

Em Jacarta, Lula pode inaugurar um roteiro Sul-Sul que una florestas e fábricas, proteína e processadores, ciência e soberania. Em tempos de tarifas e árbitros ausentes, a densidade dessas alianças desenha um novo multilateralismo - paritário, pragmático e orientado a resultados. A hora é agora - e ganha impulso em Jacarta.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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