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TECONOLOGIA
11/12/2025 16:30
A inteligência artificial deixou de ser assunto de laboratório e passou a transformar rotinas em empresas, bancos e serviços públicos. Sistemas que automatizam tarefas repetitivas aceleram processos e reduzem custos. Ao mesmo tempo alteram funções e exigem que trabalhadores e gestores repensem competências e rotinas. A escolha entre investir em formação e regular o uso da tecnologia definirá se a IA será motor de inclusão ou vetor de desigualdade.
Dados oficiais mostram que a adoção de tecnologias digitais avançadas no Brasil cresceu de forma acelerada. A Pesquisa de Inovação Semestral do IBGE (PINTEC) indica que o uso de inteligência artificial em empresas industriais subiu de 16,9% em 2022 para 41,9% em 2024, um aumento de 163% em dois anos.
O mesmo levantamento registra que em 2024, 77,2% das empresas já utilizavam computação em nuvem, cerca de 50,3% adotavam Internet das Coisas e 30,5% faziam uso de robótica. Esses números mostram que a IA integra um movimento mais amplo de digitalização produtiva e não atua isoladamente.
Relatórios internacionais reforçam a dimensão do fenômeno. Um estudo conjunto do Banco Mundial e da Organização Internacional do Trabalho sobre IA generativa na América Latina e no Caribe estima que entre 26% e 38% dos postos de trabalho podem ser expostos à IA de alguma forma.
Do total, entre 2% e 5% correm risco de automação completa. O mesmo relatório aponta que entre 8% e 14% dos empregos podem se beneficiar da IA generativa com ganhos de produtividade, especialmente em setores urbanos, formais e com maior escolaridade. Esses ganhos, porém, dependem de infraestrutura digital e de políticas de formação que permitam aproveitar as vantagens tecnológicas.
O Barômetro de Empregos em IA 2025 mostra que as habilidades procuradas pelos empregadores estão mudando 66% mais rápido nas ocupações mais expostas à inteligência artificial, em comparação com as menos impactadas, um salto em relação aos 25% registrados no ano anterior.
Os setores mais aptos a usar IA apresentam crescimento três vezes maior na receita por trabalhador. Desde 2022, quando a conscientização sobre o poder da IA disparou, a produtividade nos setores mais bem posicionados para adotá-la quase quadruplicou, enquanto caiu ligeiramente nos menos expostos.
Trabalhadores com competências em IA, como engenharia de prompts, têm hoje um prêmio salarial de 56%, frente aos 25% do ano passado, reforçando o valor desses profissionais.
Ainda, de acordo com o Barômetro, 100% dos setores estão ampliando o uso da IA, inclusive os tradicionalmente pouco tecnológicos, como mineração e construção. No Brasil, o crescimento das funções ligadas à IA foi de 264% nos últimos três anos, contra 291% nas funções menos expostas. Globalmente, a tendência se mantém, mas em ritmo mais lento: 38% nos últimos cinco anos, contra 65% nas funções menos impactadas.
As ocupações mais vulneráveis são aquelas centradas em tarefas previsíveis e repetitivas. Atendimento padronizado, registro de dados, operação de caixa e teleatendimento são exemplos em que a automação já substitui etapas inteiras do trabalho.
Por outro lado, funções que demandam julgamento complexo, empatia, cuidado direto e criatividade mantém espaço para atuação humana. Saúde, educação, engenharia e áreas de tecnologia tendem a crescer, mas exigirão novas habilidades e certificações. Há casos práticos de ganho de eficiência no setor público e privado.
Municípios que digitalizaram licenças e protocolos reduziram prazos e custos administrativos. Há casos práticos de ganho de eficiência no setor público e privado. A Gerdau aplica sistemas de inteligência artificial para examinar cotações de aço e documentos industriais com maior precisão, reduzindo custos internos e ampliando a velocidade das análises. O Itaú Unibanco colocou em operação uma plataforma de IA generativa que permite a clientes executar consultas e serviços pelo WhatsApp, registrando crescimento acelerado na adoção desses sistemas.
A Prefeitura de Varginha adotou plataforma digital para aprovação de projetos de construção civil e relatou redução significativa no tempo de tramitação dos processos. Empresas industriais e financeiras relatam uso intensivo de modelos de aprendizado de máquina para atendimento, detecção de fraudes e análise de documentos. Esses exemplos mostram benefícios concretos para a produtividade e para o cidadão quando a tecnologia reduz tempo de espera e melhorar serviços.
Ao mesmo tempo, micro e pequenas empresas enfrentam barreiras para incorporar IA. Falta de infraestrutura, escassez de crédito e ausência de consultoria técnica limitam a modernização. Se o apoio público não for direcionado a esses negócios a distância entre grandes grupos e pequenos empreendimentos aumentará, com impacto direto no emprego formal e na renda local. A adoção desigual pode ampliar vulnerabilidades regionais e setoriais.
A resposta pública e privada precisa combinar três frentes. Primeiro programas de requalificação modulares e certificados que permitam transição rápida entre ocupações. Segundo linhas de crédito e consultoria técnica para digitalização de micro e pequenas empresas. Terceiro regras de transparência e auditoria para sistemas usados em decisões laborais, de modo a evitar vieses e discriminação. Políticas bem desenhadas reduzem riscos e ampliam benefícios.
O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial prevê investimentos públicos e privados para mitigar lacunas e fortalecer infraestrutura e capacitação, com previsão de recursos até 2028, o que pode ajudar a reduzir a assimetria entre empresas de portes distintos. O Congresso Nacional discute projetos de lei que tratam da regulamentação ética e legal da IA e é essencial que o debate incorpore metas de inclusão e mecanismos de fiscalização.
A regulação precisa acompanhar a tecnologia sem sufocá-la. Normas que exijam transparência sobre como modelos são usados em seleção, avaliação e desligamento protegerão trabalhadores. Ao mesmo tempo incentivos fiscais e parcerias público privadas podem acelerar a difusão responsável da IA em setores que empregam a maioria da população.
A tecnologia não determina o futuro do trabalho. As escolhas políticas e empresariais é que o farão. Se priorizarmos formação, equidade e transparência, a IA pode elevar produtividade e qualidade de vida. Se negligenciarmos esses elementos, a automação tende a aprofundar desigualdades e a fragilizar empregos já vulneráveis.
Se não investirmos em formação e em regras claras, a IA ampliará desigualdades. Se agirmos com prioridade social, ela poderá elevar produtividade e qualidade de vida.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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