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Gisele Agnelli
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Fascismo 4.0
16/6/2025 | Atualizado às 11:08
Vivemos o fim do romance democrático. E o fim da ingenuidade sobre o que constitui o fascismo no século XXI. A era que se abre não é marcada por tanques ou por campos de extermínio, mas por engajamento, desinformação, vigilância emocional e espetacularização digital. A isso chamamos de fascismo pós-algoritmos.
Donald Trump é o operador mais eficaz desse novo regime. Não apenas por sua retórica, mas por sua capacidade de transformar ressentimento em estética e afetos em política. Como define Gisele Agnelli: "A ascensão do fascismo pós-algoritmo é a negação prática da justiça como equidade rawlsiana: em vez de uma sociedade construída sob o véu da ignorância, vivemos sob o véu da manipulação algorítmica."
O fascismo do século XXI atualizou a "comunicação de massa" de Goebbels, hoje, ele viraliza, lacra e ridiculariza o contraditório. O fascismo pós-algoritmos opera via feed, trending topics, engajamento emocional. Não se impõe pelo medo explícito, mas pela sedução polarizante. É uma mutação molecular da política: não mais centrada na coerção física, mas na sedução digital. No fascismo clássico, o inimigo era o judeu, o comunista, o degenerado. No fascismo pós-algoritmos, o inimigo é o outro que ameaça a minha timeline.
Luciana Bauer expõe que o fascismo 4.0 de hoje não precisa tomar o poder. Ele é convidado a entrar, via trending topics, clipes de 15 segundos e memes ressentidos. Ele se apresenta como liberdade, mas opera como dominação emocional.
Trump é uma expressão do Fascismo 4.0. Diferente de Orbán, Milei ou Modi, que ainda operam com partidos, igrejas e repressão direta, Trump emerge do ecossistema do entretenimento, haja vista que a empreitada que mais lhe rendeu frutos foi "O Aprendiz", e migrou muito bem para o digital. Ele governa como quem faz livestream. Cada decreto é um episódio. Cada violação institucional é uma cena de impacto. Quando ignora a Suprema Corte ou militariza Los Angeles, não está apenas testando os limites legais, está criando narrativa: "Veja como sou forte. Veja como os 'inimigos do povo não me param." Como já dizia Marilena Chaui: trata-se do sujeito ressentido que odeia a política, odeia a cultura e odeia a alteridade, mas ama o espetáculo da própria raiva.
O que sustenta esse novo fascismo é uma psicopolítica algorítmica. O sujeito político do século XXI não é informado, é estimulado. Sua indignação não vem do jornal, mas do feed. Ele não escuta: reage. "A polarização não é mais um efeito colateral. É o produto central da indústria da atenção." (Luciana Bauer)
Christian Dunker já indicava o caminho: a dissolução do laço social e sua substituição por identidades destrutivas. "Eu odeio, logo existo". O algoritmo fabrica certeza moral, anula a empatia e transforma líderes performáticos em totens afetivos. Seja Trump, Bolsonaro ou Musk. A lógica institucional é substituída pela lógica de cliques.
O objetivo principal é viralização simbólica. Como dizia Hannah Arendt: o totalitarismo transforma tudo em teatro. Agora, em clipe.
Trump é apenas a face política de uma transformação mais profunda. O que se ergue não é apenas um novo autoritarismo, mas um novo regime econômico-político: o tecnofeudalismo. o novo regime da servidão digital. Como analisa Luciana Bauer em seu livro recém-lançado A Democracia Indiferente (2025): "As big techs não vendem produtos, vendem controle (algoritmos de persuasão, reconhecimento facial). O algoritmo é o novo senhor feudal, e nós, seus servos de dados. A democracia ainda tem ritos, mas perdeu a alma."
Na obra, Bauer denuncia como a crise climática, a financeirização da vida e a radicalização digital convergem para criar um Estado dual: um que protege corporações e bilionários; outro que criminaliza pobres, imigrantes e dissidentes.
Não há fascismo sem vigilância. Mas hoje ela não é estatal: é privatizada. A empresa Palantir, de Peter Thiel, já opera com acesso a bases de dados de carteiras de motorista em todos os EUA. Seu algoritmo cruza geolocalização, rostos, histórico de buscas, e decide quem deve ser vigiado ou deportado.
E pior: no meio da nova lei orçamentária, a chamada "Big Beautiful Bill", uma cláusula esconde uma moratória de 10 anos contra qualquer tentativa de regular empresas de IA americanas: como a própria Palantir. "A Big, Beautiful bill de Trump é um golpe orçamentário. E é mais uma forma de institucionalizar o poder tecnocapitalista." (Gisele Agnelli)
O trumpismo é o modelo-piloto do fascismo performático contemporâneo. Seu sucesso será viralizado, transformado em modelo de governança. Não é o novo Hitler. É o influencer do colapso democrático. "Se o trumpismo for bem-sucedido, pode ser exportado como software de manipulação política." (Gisele Agnelli)
Denunciar fake news não basta. Defender instituições é necessário, mas insuficiente. O que está em jogo é mais profundo: é a disputa pela imaginação política.
"A democracia não é só um regime jurídico. É um projeto simbólico de partilha, cuidado e desejo comum. E precisamos reencontrá-lo." (Luciana Bauer)
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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