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Gisele Agnelli
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Política internacional
10/7/2025 10:00
Não é o Brasil que provoca os Estados Unidos com o Brics ou se aproximando da China, como colocou a "The Economist". É Donald Trump que impõe uma lógica mafiosa à política internacional.
Sob a justificativa farsesca de "apoio a Bolsonaro: nosso aliado perseguido no Brasil" e em defesa da "liberdade de expressão nos Estados Unidos", Donald Trump impôs uma tarifa de 50% sobre importações brasileiras. Uma retaliação política travestida de política comercial. Ao fazer isso, Trump transforma o comércio exterior em campo de batalha ideológica. E rebaixa o Brasil à condição de peão em seu jogo geopolítico narcisista.
O impacto da medida pode chegar a 2,5% do PIB brasileiro, afetando exportações-chave, pressionando o câmbio e encarecendo insumos industriais. Mas o mais grave não é o prejuízo financeiro. É o recado político de uma liderança binária: ou você está a meu favor ou contra.
Na análise da psicopatologia política, Donald Trump encarna o que se denomina um ego grandioso defensivo com traços de narcisismo maligno. Sua liderança não se ancora em instituições ou estratégias, ela flutua conforme sua necessidade subjetiva de restauração da imagem. Ele não distingue o interesse nacional de sua própria honra ferida, e o Governo Trump II é "A revanche". É a política interna do revanchismo, que nos leva à diplomacia do ressentimento.
Críticas a Bolsonaro são percebidas como ofensas a ele mesmo. O 8 e o 6 de Janeiro se fundem. Bolsonaro é o seu duplo tropical: o Trump dos trópicos. Para Trump, Bolsonaro ser julgado por tentativa de golpe é tão inaceitável quanto ele próprio ter sido indiciado por tentativa de subversão institucional. Trata-se, portanto, de uma vingança projetiva travestida de sanção comercial.
Claro, não há como compreender a escalada tarifária sem localizar Trump como eixo simbólico da extrema-direita transnacional. Sua aliança com Jair Bolsonaro não é apenas pessoal: é parte de uma engenharia ideológica global. Os filhos de Bolsonaro, especialmente Eduardo, atuam nos EUA como idiotas úteis, operadores subalternos do trumpismo internacional.
Ao punir o Brasil em defesa de Bolsonaro, Trump sinaliza ao mundo: o julgamento de um aliado da extrema-direita será visto como crime de lesa-fidelidade. Trata-se de uma tentativa de transformar o Brasil num exemplo de jurisprudência da submissão neoimperialista estadunidense.
Lula e o governo brasileiro devem compreender que Trump não respeita gestos conciliatórios: ele os devora. Em especial países que para ele são "subdesenvolvidos" ou "nosso quintal".. termos que voltaram à boca da nova Equipe Trump II.
Diante disso, Lula precisa ser menos sanguíneo e tomar a postura de "o adulto da sala". A resposta brasileira precisa repolitizar o debate interno: expor o quanto o bolsonarismo, em seu perigoso jogo transnacional, nos deixou vulneráveis para uma resposta tarifária muito mais política que comercial.
O Brasil virou alvo fácil: entre commodities substituíveis e dependência tecnológica. Diferente da China, com suas terras raras tem uma rainha neste xadrez, ou da Rússia, com sua energia, tem um cavalo. O Brasil não tem trunfos geopolíticos estratégicos. Exportamos commodities, importamos fertilizantes e tecnologias, nossa balança é frágil. Trump sabe disso. Por isso, não é guerra entre potências. É bullying imperial. E mais: os EUA respondem por quase 19% das importações brasileiras e 11% das exportações. Ou seja, o desequilíbrio é estrutural. Uma sanção tarifária de 50% não só impacta nossas vendas, mas encarece nossa própria produção interna. Aqui reside nossa maior vulnerabilidade.
O trumpismo precisa de inimigos, e o Brasil virou um deles. A Justiça brasileira, ao julgar Bolsonaro, tornou-se "inimiga". E o Brasil, que ousa diversificar alianças e retomar protagonismo nos BRICS, se tornou um alvo simbólico, um exemplo para os demais países que queiram ingressar no Brics no futuro. Bolsonaro é apenas um peão útil no tabuleiro autoritário trumpista.
Esta não é apenas uma disputa comercial. As novas tarifas impostas por Trump ao Brasil expõem a mutação do sistema internacional sob a liderança dos EUA. Não se trata mais de acordos, valores em comum ou previsibilidade institucional. Trata-se de chantagem tarifária, típica de um isolacionismo mafioso, que exige submissão unilateral.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected]
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