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O que é ser de esquerda?

Mais que posição política, o pensamento de esquerda nasce da defesa da igualdade, da liberdade e da dignidade humana.

Cezar Britto

Cezar Britto

6/11/2025 14:00

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Em razão da ampla e reiterada discussão sobre a existência de um exagerado conflito político entre os pensamentos de "esquerda" e de "direita", pediram-me que escrevesse um artigo com o título acima. A proposta do tema não fora aleatória, pois, segundo me explicaram, por eu me declarar assumidamente de esquerda. E, nessa condição, poderia externar o que penso sobre o tema, em "assumida causa própria". Desafio aceito!

Primeiramente, é importante compreender a origem histórica das expressões "esquerda" e "direita", pois elas ainda influenciam a forma como se enxerga a política no Brasil e no mundo. A dicotomia política teve como raiz a Assembleia Nacional Constituinte, durante a Revolução Francesa (1789). Naquele tempo de afirmações e contestações, que abalou a estrutura conservadora da monarquia europeia, os dois grandes grupos antagônicos escolheram os seus assentos na Assembleia conforme as ideias que defendiam.

Os conservadores, que defendiam as ideias aristocráticas, as instituições hierárquicas, as tradições patrimonialistas, a nobreza e a burguesia ascendente - sobretudo os girondinos - sentaram-se à direita do presidente da Assembleia. Já o grupo que pretendia fazer da Revolução a voz das reivindicações populares, postulando o fim da monarquia, a abolição dos privilégios feudais, a proibição da venda de cargos públicos para parentes e amigos e a revogação das isenções de impostos à nobreza - especialmente os jacobinos - posicionou-se à esquerda.

Desde então, as definições entre ser de "esquerda" ou de "direita" guardam estreita relação com as posições adotadas por esses grupos no contexto da Revolução Francesa. Essa é a matriz que fez germinar no pensamento de "esquerda" a compreensão de que todas a pessoas deveriam ser essencialmente iguais, independentemente da etnia, cor, sexo, religião, classe social ou local de nascimento. É esse o útero que agasalhou a esperança e inspirou várias manifestações da humanidade em defesa da democracia, da liberdade e da dignidade, fomentando quedas de monarcas, revoluções sociais, lutas de independência, combates contra a escravidão e milhares de outras contestações.

A "esquerda" é associada a esse pensamento libertador, estruturado no conceito de amor ao próximo pregado por Jesus Cristo, na rebeldia dos comunas de Paris, nos sonhos igualitários de Pierre-Joseph Proudhon, Emma Goldman e Rosa Luxemburgo, nas revoluções de Emiliano Zapata, Sancho Pança, Vladimir Lenin, Che Guevara e Fidel Castro; na marcha de Carlos Prestes; no pacifismo de Mahatma Gandhi; nas lutas antirracistas de Martin Luther King e Rosa Parks; no feminismo de Pagu, Virgínia Woolf, Berta Lutz e Simone de Beauvoir; no destemor de Nelson Mandela; nas bondosas vozes de Dom Hélder Câmara e Zilda Arns; nos papados de João XXIII e Francisco; e nas campanhas cívicas de Betinho. São esses e outros nomes que, em diferentes tempos e contextos, fizeram tremular a bandeira do humanismo.

Do legado da Revolução Francesa às lutas por direitos humanos, o pensamento de esquerda representa a resistência contra o conservadorismo e a indiferença à pessoa humana.

Do legado da Revolução Francesa às lutas por direitos humanos, o pensamento de esquerda representa a resistência contra o conservadorismo e a indiferença à pessoa humana.Freepik

Daí não surpreende que as pessoas que pelejam pelos Direitos Humanos, combatem o racismo, denunciam a misoginia, repudiam todas as formas de preconceito, aliam-se a grupos vulnerabilizados, defendem tratamento humanitário para os encarcerados, apoiam os imigrantes, rejeitam a exploração e, entre outros mantras similares, sejam rotuladas como "de esquerda". O mesmo rótulo que denomina quem segue conclamando a tríade revolucionária francesa - igualdade, liberdade e fraternidade - e não se conforma com as guerras fratricidas, os genocídios dos povos, as balas que encontram e matam os corpos dos excluídos, a criminalização da pobreza e os privilégios sistematicamente concedidos "aos nascidos em berços economicamente esplêndidos".

Por força dessa diferença conceitual, o "pensamento de esquerda", em suas múltiplas versões, passou a ser vinculado aos movimentos políticos e sociais - revolucionários ou não - que contestaram e contestam estruturas conservadoras, patrimonialistas e centradas na exploração da pessoa humana. E por reagir ao conservadorismo patrimonialista e excludente, esse inquieto pensamento - em qualquer vertente - foi e é combatido nos mais diversos quadrantes do planeta, principalmente nos contextos em que a indiferença à pessoa humana se tornou dogma.

Não é por acaso que autoritários, ditadores, fascistas, banqueiros, latifundiários, grileiros e outros oligarcas de plantão figuram entre os adversários públicos do pensamento de "esquerda". Também não se deve à casualidade o motivo do "pensamento de esquerda", atualmente, estar identificado com pautas ligadas à democracia, à soberania nacional, à tributação das grandes fortunas, à valorização do trabalho digno, à proteção da coisa pública e ao desarmamento, entre outras.

Não é por acaso que autoritários, ditadores, fascistas, banqueiros, latifundiários, grileiros e outros oligarcas de plantão figuram entre os adversários públicos do pensamento de "esquerda". Também não se deve à casualidade o motivo do "pensamento de esquerda", atualmente, estar identificado com pautas ligadas à democracia, à soberania nacional, à tributação das grandes fortunas, à valorização do trabalho digno, à proteção da coisa pública e ao desarmamento, entre outras.

O filósofo Norberto Bobbio apontou, em resumo certeiro, que a distinção fundamental entre "esquerda" e "direita" decorre da posição que cada corrente adota quanto ao tema do igualitário humanismo como direito fundamental. Assim, em resposta à pergunta inicial, pontuo: "ser de esquerda" é mais do que uma posição física em determinada ambiência política; é, sobretudo, uma humanitária escolha de vida.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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