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Pedro Rodrigues
Pedro Rodrigues
COP30
13/11/2025 9:00
Desde 1992, quando o mundo assinou a Convenção do Clima da ONU, as conferências ambientais se multiplicaram. Kyoto, Copenhague, Paris - cada uma com novos compromissos, metas e promessas bilionárias. Trinta anos depois, o saldo é muito questionável: o planeta fala mais de clima do que nunca, mas emite mais CO do que antes. O Protocolo de Kyoto, de 1997, prometia reduzir emissões em 5% até 2012. O Acordo de Paris, de 2015, fixou o limite de 1,5 C de aquecimento global e a meta de neutralidade de carbono até 2050. Já o financiamento climático cresceu ano contra ano. Só nessa semana foi anunciado o Tropical Forests Forever Facility (TFFF) para preservação de florestas tropicais, com meta de captação de US$ 125 bilhões entre público e privado. É muito dinheiro, mas pouco resultado. As conferências do clima viraram uma vitrine global de boas intenções e burocracia multilateral. Há mais anúncios do que entregas. A conta é simples: bilhões prometidos, trilhões necessários e quase nada efetivo.
E assim chegamos na COP30, sediada em Belém. Esse poderia e deveria ser o momento ideal para o Brasil mostrar ao mundo suas conquistas e que há caminhos reais de transição energética. Poucos países têm uma matriz energética tão limpa e uma história tão boa para contar quanto a nossa. Hoje, o Brasil é líder quando o assunto é energia verde e preservação. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), 88% da eletricidade brasileira vem de fontes renováveis - contra 30% da média mundial. No setor florestal, o desmatamento na Amazônia Legal caiu 30,6% em 2024, de acordo com o WWF. Porém, mesmo que os números não mintam, ainda somos relutantes em entender a nossa importância. O Brasil parece envergonhado de sua própria liderança. Em vez de assumir o papel de protagonista, prefere repetir discursos de países que poluem mais e preservam menos. É como se o aluno que tirou nove pedisse desculpas por não ter tirado dez, enquanto o colega que tirou cinco lidera o debate.
Sediar uma conferência global na Amazônia é simbólico - e desafiador. Belém enfrenta problemas reais de infraestrutura e saneamento, o que expõe as contradições brasileiras. Mas essas fragilidades não anulam o mérito ambiental do país. Apenas mostram que o caminho da sustentabilidade precisa ser mais amplo que o das emissões. Enquanto isso, o Brasil desperdiça a chance de contar a própria história. Não basta ser um país verde; é preciso se comportar como tal e tomar a liderança com os resultados que o país atingiu.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou na abertura da COP30 que usará parte dos recursos da exploração de petróleo para criar um fundo de transição energética. A proposta soa moderna - mas carrega um equívoco sutil. O Brasil já realizou boa parte dessa transição. A pergunta, portanto, é outra: seria o melhor uso desses recursos financiar uma transição que já fizemos, ou investir para liderar a próxima etapa - tecnologia, inovação e exportação de soluções limpas? Ou usar esses recursos na redução de desigualdade? Enquanto o país age como aprendiz, o mundo busca professores.
O Brasil poderia ser o exemplo de que desenvolvimento e sustentabilidade não são opostos - são complementares. Mas parece ter esquecido disso. A COP30 seria o palco perfeito para o país lembrar quem é. Ao invés disso, continuamos a seguir o discurso dos outros e assim, vamos caminhando para ser verdes nas estatísticas, mas não na narrativa.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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