Reportagem da revista Veja, publicada no dia 14 de maio, detona a maior crise do governo Lula ao revelar um suposto esquema de corrupção nos Correios. A matéria se baseia na transcrição de uma fita, posteriormente exibida na TV, na qual o chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios, Maurício Marinho, embolsa R$ 3 mil em troca de favorecimento em processo licitatório.
Nela, Marinho ainda detalha um esquema de pagamento de propina, supostamente comandado pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), e outro diretor da empresa, Antônio Osório Batista. Marinho diz na gravação que falava em nome de Jefferson. O dinheiro arrecadado da estatal seria usado pelo dirigente do PTB para reforçar o caixa do partido. Na gravação, ele afirma que o esquema seria adotado também em outras estatais. Marinho e os demais diretores citados na fita são afastados, no dia seguinte, pelo ministro das Comunicações, Eunício Oliveira.
Já no dia 16, os dois principais partidos de oposição ao governo, PSDB e PFL, começam a colher assinaturas na Câmara e no Senado para criar a CPI dos Correios. O governo, por sua vez, aciona suas lideranças para barrar a criação da comissão parlamentar de inquérito. O argumento é de que as denúncias estariam sendo apuradas pela Polícia Federal e pela Corregedoria-Geral da União e que a CPI só serviria de palanque para a oposição.
No centro da denúncia, Jefferson vai ao plenário no dia 17, rebate as acusações feitas contra ele de ser o suposto beneficiário do esquema de corrupção nos Correios. O presidente do PTB lê uma carta assinada por Marinho, que isenta o deputado de culpa e de responsabilidade na sua indicação para a chefia, e assina o pedido de criação da CPI.
No dia 24 de maio, uma semana após o primeiro pronunciamento de Jefferson, o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios reafirma, em depoimento à Polícia Federal, a inocência de Jefferson, nega ter cobrado propina e diz que o dinheiro recebido se referia ao pagamento de um trabalho de consultoria. As explicações não convencem a PF, mas são suficientes para que o presidente do PTB proclamar o esclarecimento do caso e retirar, juntamente com outros 12 deputados do partido, o apoio ao requerimento da CPI.
Nem a retirada das 13 assinaturas nem a pressão do governo impede a criação, no dia seguinte, da CPI mista dos Correios. O requerimento é assinado por 254 deputados e 51 senadores. O número de assinaturas é bem superior ao mínimo exigido, que é de 171, na Câmara, e de 27, no Senado. Numa última ação para barrar as investigações, o governo recorre, sem sucesso, à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara.