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"Menos declaratório, mais reportagem"

Congresso em Foco

28/9/2006 | Atualizado 29/9/2006 às 10:54

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Editor do blog Deu no Jornal, da Transparência Brasil, o jornalista Marcelo Soares é responsável pela seleção e análise de matérias sobre corrupção publicadas em 63 jornais e revistas de todo o país. Em entrevista ao Congresso em Foco, respondida por e-mail, ele analisa a cobertura da mídia nestas eleições e diz que é natural que Lula seja mais "vigiado" que os demais candidatos por estar no exercício da Presidência.

Ao mesmo tempo, Marcelo critica a falta de regularidade para cobrir outras esferas do governo e argumenta que é preciso ampliar a cobertura analítica dos veículos de comunicação em detrimento do material meramente "declaratório". A ampliação de matérias analíticas baseadas em documentos e informações concretas, segundo ele, é uma maneira de incentivar os brasileiros a "fiscalizar melhor o poder que é exercido" em seu nome.

Mas, sobretudo, ele defende que reportagens e decisões editoriais sejam pautadas por critérios claros. 

Leia a íntegra da entrevista:

Como é feita a seleção das matérias que vão ao ar no Deu no Jornal?  Antes de publicar as matérias, é feita alguma análise de conteúdo para classificá-las como neutras ou parciais, por exemplo, ou a seleção é feita por temas?
No Deu no Jornal, arquivamos todos os textos sobre corrupção e controle publicados em 63 jornais e revistas brasileiros. Classificamos o material por assunto. Não temos como apurar o conteúdo de cada matéria que sai nos jornais. Classificamos as matérias por assunto, estado e instituições envolvidas. A idéia é captar o noticiário sobre corrupção em estado bruto, para, a partir daí, fazer análises a respeito. E há muitas análises a serem feitas. Especialmente nas imprensas regionais. Uma das coisas que fazemos é analisar omissões de cobertura. Em Rondônia, boa parte dos desdobramentos da permanente crise política por que passa o estado não é sequer noticiada na imprensa de lá, por exemplo. O Deu no Jornal acaba funcionando como um grande mirante da imprensa brasileira. Temos um blog onde eu preparo análises sobre como se dá essa cobertura no país.

De maneira geral, o senhor acredita que a cobertura da mídia tem sido tendenciosa, ressaltando aspectos anti-Lula?
Obviamente, o Lula é o mais vigiado. Mas isso decorre de uma condição simples, que ele detém e os outros candidatos não: ele é candidato e presidente. Ele continua governando. É natural que isso atraia mais interesse. É saudável. O que não é tão saudável é que a cobertura sobre os outros não seja tão focada no que surge. Isso decorre de três fatores, nenhum dos quais exatamente saudável. Primeiro, a hiperdependência do jornalismo declaratório. Quando se abrem os cadernos de política, quase tudo se faz na base do "diz", "afirma", "nega", "acusa". É mais fácil fazer jornalismo assim, e garante o papel pintado nosso de cada dia numa situação em que não pára de surgir assunto e as equipes continuam enxutas. Segundo, há dificuldade de focar em mais aspectos além da "notícia do dia". Isso decorre em parte das mesmas causas do declaratório. Mas não apenas. A jornalista americana Barbara Crossette, aposentada do New York Times, esteve no Brasil por seis meses em 2004/2005 e ficou pasma com a quantidade de páginas que os jornais dedicam diariamente à cobertura de um só assunto por vez. Isso estimula o declaratório - toda hora tem alguém com gabinete querendo opinar a respeito, é só ligar o gravador. Mas isso impede que outros desdobramentos também interessantes - até do mesmo assunto - sejam cobertos. Fragmenta a compreensão do leitor a respeito. Por exemplo, no caso do dossiê sanguessuga, é ótimo que se esteja cobrindo com profundidade o envolvimento de pessoas próximas ao presidente-candidato na negociação do dossiê. Não é saudável, porém, que todo o resto do caso dos sanguessugas tenha sido deixado de lado na cobertura. Não me refiro apenas à questão do conteúdo do dossiê, que os petistas cobram tanto na internet. A CPI continua andando. A CGU está fazendo levantamentos. E o caso dos sanguessugas é apenas um assunto dentre outros tantos. Terceiro, falta regularidade na cobertura de diversas esferas de governo, incluindo as assembléias legislativas. Elas são praticamente ignoradas pelos jornais, tradicionalmente. Isso é uma das explicações, mas não a única, pelas quais só se ficou sabendo que havia 69 CPIs barradas na Assembléia Legislativa de São Paulo para investigar aspectos do governo Alckmin quando elas chegaram a esse montante. Coloquei algumas análises sobre isso no blog do Deu no Jornal. Os números são impressionantes. E, quando houve uma mudança regimental que permitiu a abertura de CPIs, o assunto foi noticiado por um ou dois dias e morreu de novo.

Como seria uma cobertura ideal de eleições, em sua opinião? O que falta, seja com relação aos veículos de comunicação, seja com relação ao conteúdo das notícias, para se chegar a essa cobertura ideal?
Em quatro palavras: menos declaratório, mais reportagem. O principal problema da hiperdependência do declaratório é que ele trata questões de fato como questões de opinião. Isso é politicamente muito confortável para todos os lados envolvidos. O leitor acredita no que quiser, dependendo apenas de uma escolha que já foi feita. Ora, como diz o Philip Meyer, se a verdade é qualquer coisa que feche com a opinião de cada um, não há nenhuma necessidade de jornalismo. Opinião, doutrina, a versão dos partidos, os sites das campanhas já trazem em boa medida... comprar jornal pra quê? Pra ler o declaratório de todos os partidos? Isso tem de graça na internet...

O senhor acredita que os veículos de comunicação podem ser imparciais? Peço a gentileza de citar um exemplo na cobertura destas eleições que ressalte sua opinião quanto à possibilidade ou à impossibilidade da imparcialidade?
Imparcialidade, objetividade... são palavras que sempre confundem porque se trata de um mal-entendido danado. Acredito em adotar critérios claros. Nesse ponto, existem muitas reportagens muito criteriosas sendo feitas. O Congresso em Foco faz algumas, como aquelas sobre as pendências judiciais dos deputados ou sobre quanto custa um deputado. Os grandes jornais também fazem. Mas estão fazendo menos neste ano do que em outras eleições. Podiam fazer mais. Eles têm muito mais recursos para isso do que sites como o Congresso em Foco, por exemplo. Bons exemplos de reportagens temos toda semana. A cobertura que o Correio Braziliense fez sobre os cargos de natureza especial foi fantástica [cargos comissionados da Câmara]. O premiadíssimo trabalho que O Globo fez a respeito do crescimento do patrimônio dos deputados estaduais, em 2004, foi civilizatório - e certamente foi um fator importante para que o TSE resolvesse colocar no ar todas as declarações de bens de todos os candidatos, neste ano. Qual é o critério? É ver todos os que aumentaram de patrimônio e mostrar isso com documentos públicos? É um critério claro. O critério é ver todos os que têm pendências judiciais? É outro critério claro. Esse tipo de matéria, especialmente se feita com uma sólida base documental para que qualquer um que duvide da seriedade possa verificar pessoalmente a partir do critério adotado, é importantíssimo por dois motivos. Primeiro, porque é irrespondível. No caso das declarações de bens, por exemplo, a apuração foi feita em cima do patrimônio que os próprios políticos declararam ter. Segundo, porque ajuda a estimular no público leitor uma consciência a respeito da importância do direito de acesso a informações públicas. Só com maior acesso a informações públicas, podemos fiscalizar melhor o poder que é exercido em nosso nome. Sem esse acesso, sem que possamos acompanhar tudo o que está sendo feito, estamos na mesma situação que alguém que caminha à noite numa rua mal-iluminada e aparentemente deserta. Em lugares assim, quem está disposto a fazer algo de errado vai fazer sem medo algum de ser pego. O direito de acesso a informações públicas é fundamental para tentarmos evitar novos sanguessugas e outros parasitas do gênero. (Soraia Costa)

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