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Congresso em Foco
11/10/2018 | Atualizado às 15:18
Casos de violência mancham campanha de Bolsonaro
A grande maioria dessas agressões foi feita por apoiadores de Jair Bolsonaro, candidato do PSL que está à frente nas pesquisas eleitorais. Isso mostra que as declarações de Bolsonaro que incitam a violência contra mulheres, LGBTs, negros e índios e a violência policial estão ecoando país afora e se transformaram em agressões físicas e verbais nestas eleições.
Por outro lado, seus eleitores ou pessoas relacionadas receberam 6 ataques. Em um deles está o caso de um professor da Universidade do Recôncavo Baiano (UFRB) que foi preso no dia 5 de outubro por atropelar comerciantes que vendiam camisetas do presidenciável do PSL. Existem ainda situações em que não é clara a afiliação política do agressor.
O levantamento inédito mostra como as situações de violência se espalham pelo país inteiro e não podem mais ser vistas isoladamente.
Indagado sobre as ações de seus apoiadores, Bolsonaro tentou minimizar a onda de violência política. "Eu lamento. Peço ao pessoal que não pratique isso, mas eu não tenho controle sobre milhões e milhões de pessoas que me apoiam", disse Bolsonaro ao UOL. "Está um clima acirrado, pela disputa, mas são casos isolados que a gente lamenta e espera que não ocorram", afirmou.
Bolsonaro foi vítima de um ataque a faca em 6 de setembro que o deixou em estado grave, enquanto fazia campanha em Minas Gerais. O agressor, Adélio Bispo de Oliveira, confessou o crime e está preso.
Entre os casos contabilizados pela reportagem da Pública, 14 aconteceram na região Sul, 32 na região Sudeste, 18 na região Nordeste, 3 na região Centro-Oeste e 3 na região Norte. Embora tenha havido também dezenas de casos de ameaças pelas redes sociais, o levantamento incluiu apenas casos de agressões e ameaças feitas ao vivo. Nesses episódios, a integridade física de pessoas ficou em risco por causa do ódio ligado à disputa eleitoral.
A partir de hoje, a organização Open Knowledge Brasil e a Brasil.io, em parceria com a Pública, vão recolher e monitorar casos de agressões ligadas às eleições de 2018. Os casos serão publicados no site Vítimas da Intolerância. Se você tem uma denúncia, envie pelo site.
Região Sul: jornalista foi atropelado
"Foi muito rápido, senti a roda como se estivesse me puxando, simplesmente caí no chão", relata o jornalista e produtor audiovisual Guilherme Daldin, 26 anos, atropelado no dia 7 de outubro, dia da votação em primeiro turno, às 21 horas. Ele comemorava a vitória de um amigo do PDT para a Assembleia Legislativa do Paraná. Pelas circunstâncias, a vítima vê só um motivo: vestia camiseta vermelha, com uma imagem do ex-presidente Lula.
Cozinheira paulista foi agredida e presa nua numa delegacia da PM. Só foi solta depois de dizer "ele sim"
Jornalista pernambucana foi esfaqueada e ameaçada de estupro
Site Vítimas da Intolerância recebe denúncias a partir de hoje
A violência ocorreu em frente ao Bar do Torto, na região central e boêmia de Curitiba, capital do Paraná, na qual é comum conversar na calçada. O jovem estava com os colegas no bicicletário. De costas para a rua, Daldin disse que repentinamente sentiu o carro, um Sandero branco, bater no lado esquerdo de sua cintura e passar por cima do pé.
"Com o movimento da roda passando sobre o meu pé, eu caí com tudo no chão e comecei a sentir a fisgada, como se estivesse puxando. Isso foi em milésimos de segundo. Não fazia ideia do que estava acontecendo, simplesmente caí e depois fiquei muito preocupado com minha perna, minha impressão é que tinha acontecido algo pior", disse à reportagem.
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"Com o movimento da roda passando sobre o meu pé, eu caí com tudo no chão e comecei a sentir a fisgada, como se estivesse puxando. Isso foi em milésimos de segundo", disse o jornalista Guilherme Daldin, atropelado no último dia 7, quando vestia camisa vermelha com imagem de Lula em Curitiba[/caption]
O motorista fugiu sem prestar nenhum tipo de assistência. Seus amigos o seguiram. "Era um homem e uma mulher, segundo meus amigos. Ele estava com uma camiseta do Brasil [da seleção brasileira de futebol]. Pararam do lado do carro e perguntaram se era ele que tinha me atropelado. Relataram que ele abaixou o vidro e de forma bem fria fez um gesto de quem vai pegar algo no console, dizendo 'eu tenho uma surpresinha aqui para vocês'". Com medo de que fosse uma arma, eles foram embora. "Ninguém queria fazer justiça, mas sim averiguar, tentar entender o que motivou, pois todos que estavam na rua disseram que o cara claramente tacou o carro em mim."
Passados três dias, Daldin conta que as dores estão aumentando, assim como a sensação de insegurança ao sair na rua. "Por sorte não foi nada grave, estou com muita dor no joelho e no pé. Agora, quando ouço um carro derrapando, sinto pânico, fico em alerta. É um misto de desespero com uma vontade de barrar a violência, ainda mais ao saber que tem muita gente com ódio exacerbado saindo às ruas. Ao mesmo tempo, bate uma angústia, medo de me identificarem na rua, sobretudo pela certa repercussão que o caso vem ganhando."
Orientado pelos policiais militares que fizeram o primeiro atendimento no local da violência, Daldin foi no dia seguinte (8) até a Central de Flagrantes da Polícia Civil, no centro da cidade, para registrar um Boletim de Ocorrência (BO). Com a ajuda de amigos, o jornalista conseguiu identificar o motorista, pois a placa do carro foi registrada. Só que na Civil, o computador da escrivã tinha adesivos pró-Bolsonaro.
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"Eu lamento. Peço ao pessoal que não pratique isso, mas eu não tenho controle sobre milhões e milhões de pessoas que me apoiam", diz Bolsonaro, esfaqueado em 6 de setembro em Juiz de Fora (MG)[fotografo]Reprodução[/fotografo][/caption]"Foi ali que me senti impotente, despossuído de direitos. Cheguei a ficar mais assustado naquele momento que no dia anterior. E agora, você vai recorrer para quem?" O jornalista mudou de delegacia e foi até o departamento da Polícia Civil em outro bairro, nas Mercês, com o objetivo de se sentir menos acuado para prestar a queixa.
Esse não foi o único caso registrado na última semana na região Sul. O levantamento da Pública verificou 14 situações de violência associadas às eleições nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. As vítimas sofreram agressões físicas, uma urna eletrônica foi destruída a marretadas e duas ofensas verbais, sofridas na rua, foram denunciadas em redes sociais. Numa delas, a vítima relata que o agressor chutou o cachorro abandonado que ela alimentava, enquanto a ofendia.
No dia 6 de outubro, na cidade de Maringá, Vera Lúcia Pedroso, de 53 anos, foi ferida em um ataque ao seu carro modelo Voyage. Ela dirigia durante uma carreata em apoio a Fernando Haddad, candidato do PT à Presidência, quando um jovem numa moto emparelhou com o veículo e tentou tirar à força a bandeira que estava presa ao veículo.
"Estava com muita raiva. Na primeira puxada não conseguiu, na segunda quebrou o vidro, que cortou minha mão", relatou à Pública. Foram quatro pontos no indicador da mão direita e um no mindinho. Presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas de Água, Esgoto e Saneamento de Maringá (Sindaen), Vera conta que o mesmo motoqueiro já tinha "atacado" outros carros da passeata antes de chegar ao dela.
Há um vídeo na internet sobre a ocorrência no qual dá para ver o motociclista sendo segurado pelas pessoas da carreata do PT. É que, depois de quebrar o vidro de Vera Pedroso, ele investiu novamente contra os veículos, sendo apanhado pelos manifestantes. "Foi quando chegaram três pessoas, que ajudaram ele a escapar e levaram a moto embora", explicou ela. No vídeo, aparece o adesivo de apoio à candidatura presidencial do PSL.
"Não estou com medo", disse a vítima à reportagem. "Ainda tenho muita esperança na democracia, acredito que podemos viver num país em que haja respeito e tolerância", completou.
Outro caso de violência registrado em Curitiba, capital do Paraná, ocorreu na noite desta terça-feira, 9 de outubro, próximo à reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Por volta das 20 horas, cerca de seis homens agrediram um estudante da universidade em frente à Casa da Estudante Universitária (CEU), que fica ao lado dos prédios em que são ministradas as aulas de ciências humanas.
O jovem de 26 anos, Calil Purt, que estava com boné do MST e camiseta vermelha, foi espancado por um grupo de torcedores com camisetas da Império Alviverde - torcida organizada do Coritiba Foot Ball Club. O estádio do Coxa, como o time é conhecido, fica a poucos metros do campus da UFPR. De acordo com um estudante, que pediu anonimato, os membros da torcida estavam se agredindo, o que teria causado pânico nas estudantes que moram ali.
Foi nesse contexto que Purt teria pedido que os homens saíssem de lá. A fachada envidraçada da Casa da Estudante foi danificada durante a arruaça. Foi aí que, de um grupo de 15 homens, seis deles começaram a espancar o jovem com chutes e golpes de capacete. No final, acrescentaram os gritos de "Aqui é Bolsonaro" e "Bolsonaro 2018". A vítima foi levada ao Hospital Cajuru com escoriações pelo corpo e ainda realizava exames quando a reportagem foi concluída
A UFPR emitiu uma nota oficial na qual "lamenta profundamente o ato de violência ocorrido em frente às duas dependências". E conclui: "A UFPR repudia veementemente todo e qualquer ato de violência, de preconceito ou de discriminação".
Belo Horizonte, 09 de Outubro. Retrato de Guil, 21 anos, atacada por um eleitor de Bolsonaro esperando ônibus no centro de Belo Horizonte - Fotos: Tamás Bodolay - Horto Florestal - Belo Horizonte / Reportagem: Alice Maciel[/caption]
Para a jovem transexual de Belo Horizonte Guilderth Andrade, conhecida como Guil, a única palavra que vale para descrever o momento atual é medo. "Medo. É a única coisa que consigo definir no momento", afirmou a cabeleireira Guil, de 21 anos.
Era quase meio-dia, ela estava na praça da Estação no ultimo sábado, dia de outubro, no centro da capital mineira, parada no ponto de ônibus. Na praça acontecia uma manifestação pró-Bolsonaro e um rapaz colou um adesivo do candidato em seu peito. "Eu falei: 'Não quero votar nele, você tem que ter respeito', e tirei o adesivo." De repente, sentiu um "tapão" nas costas. O rapaz havia colado outro adesivo. "Eu o arranquei novamente." O homem deu então uma rasteira na jovem. "Eu caí, a bota dele cortou meu tornozelo. Se eu tentasse levantar, ele ia continuar me agredindo", afirmou Guil.
A única pessoa que a ajudou foi um homem que também estava no ponto de ônibus. "As pessoas que estavam na manifestação não fizeram nada", lamentou. Guil disse que não fez BO por medo. "Fiquei com medo de falar", justificou. "A situação está muito extrema, não que não era difícil, mas está ficando pior", acrescentou.
Guil afirmou que está cada vez com mais temor de sair de casa, pois tem escutado muitos relatos parecidos com o seu, de amigos LGBTs. "A gente vai ficando acuado, trancado em casa, não estou conseguindo trabalhar. Eu quero poder existir sem ser questionada e pressionada o tempo todo", exclamou.
Amiga de Guil, Isabela - ela pediu para não usarmos seu nome real por medo de sofrer represálias -, de 25 anos, também é transexual e foi atacada em Belo Horizonte por quatro homens vestidos com camisetas em apoio à Jair Bolsonaro, depois de ter saído de uma festa, no dia 30 de setembro. "Eles me puxaram para dentro do carro pela janela. Os dois de trás sentaram em cima de mim e deram muitos socos no meu rosto, jogaram cigarro aceso e ainda cuspiram", contou. Segundo ela, um deles estava armado. "Durante todo o tempo, eu escutei: 'Se ele ganhar, vamos poder caçar mais macacos'. Traveco. Não vamos te matar agora porque você ainda pode ter jeito, mas, se não tomar, você vai morrer de aids'."
Depois dessa tortura, eles a mandaram descer sem olhar para trás, ameaçando atirar. "Meu amigo insistiu muito para que eu denunciasse à polícia, e a tentativa foi um total desastre. Todo o processo mais parecia uma tentativa de me incriminar de algo do que a solução de um crime cometido contra mim, a vítima", relatou.
Em Niterói, um prédio na região sul foi atacado durante a comemoração Da Vitoria de Carlos Jordy (PSL) a deputado federal.
Salomão Moutinho assistia à apuração dos votos no apartamento de uma amiga. "Estava uma gritaria entre todos os prédios, assim como em toda a cidade, de uma pessoas falando 'ele não', outras falando do Bolsonaro." Mas a rixa, que no início parecia inofensiva, mudou de dimensão quando Salomão e os amigos resolveram sair de casa. "Quando a gente desceu e pisou na portaria, tinha tipo umas 30 pessoas apontando pra gente", relata. "Eram uns 30 caras ou mais, todos com a camisa do Bolsonaro e a gente não conseguia sair.''
Logo depois, começaram os ataques - em especial, xingamentos homofóbicos. "Também falaram para as minhas amigas rasparem o sovaco delas, começaram a gritar várias coisas, que o comunismo vai acabar, queriam que voltasse a ditadura, e uma das amigas começou a gritar que eles não sabiam o que era ditadura e que eles estavam sendo agressivos."
Depois das ofensas, o grupo entrou no prédio, assustado. Ali, decidiu arrancar a bandeira LGBT da porta do apartamento e ficou um tempo com as luzes apagadas e em silêncio porque não sabiam se os agressores estariam dentro do prédio. Salomão diz que ligou para polícia, mas a polícia não chegou. O grupo de apoiadores do PSL ficou um tempo na frente do prédio, mas depois saiu.
"Desde o início da campanha, cada vez mais que eu vou na rua, vejo mais ataques, carro buzinando. Isso tudo era muito comum há sete anos, mas agora está voltando", conta Salomão. "A gente está buscando sair sempre em grupo, não ficar na rua à noite. Está ficando uma relação muito ruim"', desabafa.
Juliana Garcia estava no Bar do Zeca, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, na sexta-feira passada, dia 5 de outubro, com a namorada. Na camisa, trazia os adesivos "Ele não" e "O filho dele também não". Quando levantou para ir ao banheiro, dois homens foram atrás. "Começaram a falar: 'Você está totalmente equivocada, vai defender bandido, só Bolsonaro salva esse país'."
Juliana disse que tentou argumentar, mas mesmo assim um dos homens continuou em um tom agressivo. "Teve um momento em que ele fez o movimento das armas com as duas mãos apontadas para o meu rosto. Aí eu não tive reação, o outro homem do lado começou a rir. Saímos correndo do bar." Ela admite ter medo de voltar ao bar e andar por Caxias.
O estudante Gabriel Garcia foi agredido por dois homens enquanto caminhava pela rua, perto de sua casa, no bairro do Ipiranga, em São Paulo: "Aqui é Bolsonaro, caralho. A gente vai acabar com os viados do Brasil", gritou um dos homens, direcionando a fala para ele. E o outro complementou: "É só eleger que vamos acertar lâmpada nessas porras". "Infelizmente, tive que baixar a cabeça e seguir caminho com uma vontade imensa de retrucar sabendo já de antemão que iria terminar apanhando feio e que não teria nenhum efeito", relatou Gabriel.
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