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Congresso em Foco
Autoria e responsabilidade de Edson Sardinha
7/10/2018 8:00
 
 
 15/08/2015- Brasília- DF, Brasil- Senador Aécio Neves fala à imprensa após audiência com o presidente Michel Temer no Palácio do Planalto
 15/08/2015- Brasília- DF, Brasil- Senador Aécio Neves fala à imprensa após audiência com o presidente Michel Temer no Palácio do Planalto Para secretário-geral do PSDB, líderes do partido abandonaram Alckmin. Durante campanha, Tasso (esq.) citou série de equívocos recentes do PSDB. Foto: PSDB[/caption]
Na entrevista abaixo, o secretário-geral do PSDB diz que lideranças tucanas abandonaram, por oportunismo, a candidatura de Geraldo Alckmin. O deputado critica o senador Tasso Jereissati (CE), ex-presidente do partido, por fazer "DR" (discussão de relacionamento) em público ao apontar uma série de erros do PSDB. "Devia ir para o Ceará ajudar. Um dos problemas do Geraldo [Alckmin] foi a solidão que ele ficou, por oportunismo de grandes líderes dentro do próprio PSDB."
Para o secretário-geral do partido, Alckmin foi prejudicado em São Paulo, onde tem palanque duplo com João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB). Nas últimas semanas cresceram rumores de que Doria estava apoiando, por baixo dos panos, a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL).
Marcus Pestana recorre ao mundo das artes para descrever a atual disputa eleitoral: "Essas eleições são non-sense, uma mistura de tragédia grega com teatro do absurdo. É como se fosse um jogo, em que Marina, Alckmin, Ciro, Alvaro, Amoedo e Meirelles estão dentro do campo e olham para o lado, e os dois líderes não estão no campo: um está na cadeia e outro no hospital. Parece realismo fantástico."
Congresso em Foco - Pela primeira vez, desde 1994, o PSDB chega ao dia da eleição sem polarizar a disputa com o PT nas pesquisas. Por que isso acontece? O senhor ainda acredita na candidatura de Alckmin?
Marcus Pestana - Alckmin teria chance na reta final se, no Datafolha do fim de semana passado, tivesse apontado com 16% ou 17%, mesmo Haddad e Bolsonaro estando entre 22% e 30%. Daria aquela sensação de sprint final de corredor. Como ficamos patinando o tempo todo, isso revela que há um problema mais profundo. As coisas não acontecem à toa. Há vários fenômenos da opinião pública. O esvaziamento do Ciro e da Marina é inversamente proporcional ao crescimento do Haddad. Isso era esperado, assim como o crescimento do Haddad carregar a rejeição do Lula. Tem ônus e bônus. Bolsonaro é um fenômeno de opinião pública que tem de ser estudado. Outro fenômeno foi a paralisia da candidatura Alckmin, que é o candidato mais preparado, que até em São Paulo está perdendo e não saiu dessa faixa de 8%, 9%, 10%.
Por que ele não decolou?
O buraco é muito mais embaixo. Não é Alckmin, não é a campanha que está sendo derrotada. Isso começou em 2015. Não há um fator só. O impeachment ironicamente ressuscitou o PT. O PT estava lá embaixo, a Dilma com 70% de rejeição, Lula com intenção de votos lá embaixo. Tiramos a crise do colo da Dilma e a Dilma do colo do Lula. Eles cinicamente suprimem os seis anos de Dilma.
[caption id="attachment_359945" align="alignright" width="357"]
 Para secretário-geral do PSDB, líderes do partido abandonaram Alckmin. Durante campanha, Tasso (esq.) citou série de equívocos recentes do PSDB. Foto: PSDB[/caption]
Na entrevista abaixo, o secretário-geral do PSDB diz que lideranças tucanas abandonaram, por oportunismo, a candidatura de Geraldo Alckmin. O deputado critica o senador Tasso Jereissati (CE), ex-presidente do partido, por fazer "DR" (discussão de relacionamento) em público ao apontar uma série de erros do PSDB. "Devia ir para o Ceará ajudar. Um dos problemas do Geraldo [Alckmin] foi a solidão que ele ficou, por oportunismo de grandes líderes dentro do próprio PSDB."
Para o secretário-geral do partido, Alckmin foi prejudicado em São Paulo, onde tem palanque duplo com João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB). Nas últimas semanas cresceram rumores de que Doria estava apoiando, por baixo dos panos, a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL).
Marcus Pestana recorre ao mundo das artes para descrever a atual disputa eleitoral: "Essas eleições são non-sense, uma mistura de tragédia grega com teatro do absurdo. É como se fosse um jogo, em que Marina, Alckmin, Ciro, Alvaro, Amoedo e Meirelles estão dentro do campo e olham para o lado, e os dois líderes não estão no campo: um está na cadeia e outro no hospital. Parece realismo fantástico."
Congresso em Foco - Pela primeira vez, desde 1994, o PSDB chega ao dia da eleição sem polarizar a disputa com o PT nas pesquisas. Por que isso acontece? O senhor ainda acredita na candidatura de Alckmin?
Marcus Pestana - Alckmin teria chance na reta final se, no Datafolha do fim de semana passado, tivesse apontado com 16% ou 17%, mesmo Haddad e Bolsonaro estando entre 22% e 30%. Daria aquela sensação de sprint final de corredor. Como ficamos patinando o tempo todo, isso revela que há um problema mais profundo. As coisas não acontecem à toa. Há vários fenômenos da opinião pública. O esvaziamento do Ciro e da Marina é inversamente proporcional ao crescimento do Haddad. Isso era esperado, assim como o crescimento do Haddad carregar a rejeição do Lula. Tem ônus e bônus. Bolsonaro é um fenômeno de opinião pública que tem de ser estudado. Outro fenômeno foi a paralisia da candidatura Alckmin, que é o candidato mais preparado, que até em São Paulo está perdendo e não saiu dessa faixa de 8%, 9%, 10%.
Por que ele não decolou?
O buraco é muito mais embaixo. Não é Alckmin, não é a campanha que está sendo derrotada. Isso começou em 2015. Não há um fator só. O impeachment ironicamente ressuscitou o PT. O PT estava lá embaixo, a Dilma com 70% de rejeição, Lula com intenção de votos lá embaixo. Tiramos a crise do colo da Dilma e a Dilma do colo do Lula. Eles cinicamente suprimem os seis anos de Dilma.
[caption id="attachment_359945" align="alignright" width="357"] Bolsonaro cresceu após impeachment liderado por tucanos, diz Marcus Pestana. Foto: Marcelo Camargo/ABr[/caption]
O PSDB errou ao apoiar o governo Temer?
A participação no apoio do governo Temer é decorrência obrigatória do impeachment. Nossa obrigação era apoiar Temer. Assim como ocorreu com Itamar Franco lá atrás. Derrubamos Collor e imediatamente demos apoio ao Itamar. Senão é irresponsabilidade. Senão seria fazer joguinho político do país. Era obrigação.
Mas o senhor avalia que houve erro de estratégia no apoio ao impeachment e consequentemente a Temer?
Tem um erro de metodologia que os historiadores chamam de anacronismo. É você julgar o passado com as informações do presente. Tentar analisar os fatos lá de atrás com as informações de hoje. É o engenheiro de obra pronta. Uma coisa era a hora do impeachment. Naquela hora não havia Joesley Batista. Hoje a gente sabe que aconteceu Joesley. E começa a julgar aquela atitude lá atrás à luz de hoje. É um equívoco metodológico de análise histórica. Temos de julgar aquilo com as informações que estavam disponíveis na época. Ao fazermos o impeachment, não tínhamos outra escolha.
Que peso as revelações de Joesley Batista tiveram sobre o PSDB?
O PSDB foi envolvido naquele momento. Foi uma bomba com alta repercussão, não foi só o fato e si. Foi a intensidade de mídia que o assunto mereceu. Não foram oito horas. Foram oito, dez meses. Envolveu também o PSDB. Ali a sociedade está rejeitando os partidos tradicionais, o establishment da nova República, o PSDB, o PT, o MDB. O PT tem uma diferença, ele tem nicho orgânico. Lula tem 30% da população que o segue. Pode cair o mundo, pode roubar, assaltar, falar a besteira que for, eles estarão lá com ele. O PSDB e o MDB não têm essa solidez. É fruto do modelo de partido. O PSDB sempre foi um partido de quadros, nunca apostou na democratização interna, envolvimento das bases efetivamente, uma coisa mais orgânica, militante. Aí vem fenômeno do Bolsonaro e varre tudo. Fica como um castelo de cartas.
Esse resultado seria diferente, na sua avaliação, se o candidato tucano fosse outro?
Poderia ter uma variação aqui ou ali. Essa eleição não era uma eleição boa para o PSDB, independentemente do candidato.
O senhor concorda com o ex-presidente do seu partido Tasso Jereissati de que o PSDB cometeu uma série de erros, a começar por contestar a eleição de Dilma?
Não concordo. Não concordo que ele venha a público fazer uma D.R. [discussão de relacionamento]. Devia ir para o Ceará ajudar. Um dos problemas do Geraldo foi a solidão que ele ficou, por oportunismo de grandes líderes dentro do próprio PSDB.
A quais líderes o senhor se refere?
Não vou citar nomes. A entrevista do Tasso foi como se, numa disputa difícil, suando a camisa, você levasse um gol contra quando o time está começando a tentar reagir.
Doria abandonou Alckmin? Ele está com Bolsonaro?
Não tenho informação sobre isso. Mas não foi uma coisa só. O problema da nossa campanha é mais histórico e estrutural. É Joesley, é ter tirado da população que a crise econômica é do PT, que o Temer é do PT, não é nosso. Não se explicam as coisas com um vetor só. Tancredo dizia que mineiro que queria ganhar a presidência tinha como tarefa unificar Minas. Por isso foi atrás de Francelino Pereira e de Aurelino Chaves para fazer a frente democrática. Palanque duplo não funciona. Já não estava boa a situação geral. É mais um elemento. O palanque duplo Márcio França e Doria atrapalhou. Ali era a retaguarda dele, a fortaleza dele. Nós tínhamos de estar com a retaguarda organizada. Temos de fazer nossa parte. Precisávamos ter negociado uma solução que tivesse palanque único em São Paulo. Não quer dizer que isso ia mudar nossa situação, mas é um elemento que atrapalhou. Poderia ter havido palanque único e não ter dado certo por outros fatores.
O senhor disse que considera Alckmin o candidato mais qualificado. Ele foi o candidato certo na hora errada?
Era o candidato natural do PSDB. O Brasil está enfrentando a maior crise de sua história. Quando você está em crise, ameaçado, quando as pessoas estão inseguras, com medo, elas procuram terreno firme, sólido. Alckmin é experiente, sereno, testado, competente. Fomos pela via tradicional. Achamos que, com o tempo de TV, ao falar isso, íamos ganhar as pessoas. Isso não aconteceu. Essas eleições são non-sense, uma mistura de tragédia grega com teatro do absurdo. É como se fosse um jogo, em que Marina, Alckmin, Ciro, Alvaro, Amoedo e Meirelles estão dentro do campo e olham para o lado, e os dois líderes não estão no campo: um está na cadeia e outro no hospital. Parece realismo fantástico.
O PSDB perdeu para o Bolsonaro a bandeira anti-PT?
Não foi só por causa do Joesley. Mas não há dúvida que perdemos. A polarização desde 1994 sempre foi PT x PSDB. Óbvio que Bolsonaro nos roubou o antipetismo. Nós lideramos o impeachment. As pessoas às vezes não fazem analise histórica. É só olhar. O impeachment da Dilma foi em agosto de 2016. Bolsonaro tinha 8% nas pesquisas. Quem começou o impeachment foi o PSDB, com Carlos Sampaio e Nilson Leitão. Tinha gente graúda no PSDB, caciques, que era contra o impeachment por causa da quebra da dinâmica democrática e por analisar que iríamos salvar o PT.
Eles estavam certos?
A realidade deu razão a eles. Quem fez o impeachment inicialmente foi Carlos Sampaio, Nilson Leitão, Mendonça Filho e Rubens Bueno. O Senado tinha resistência. Carlos Sampaio, que era nosso líder, atropelou líderes maiores que tinham dúvidas sobre a tática. Naquele momento nós éramos anti-PT. Não existia Bolsonaro. Só ver as sessões do impeachment, do final de 2015 e 2016. Os bate-bocas eram entre líderes do PT e do PSDB. Bolsonaro estava longe dessa história. Ele começa a crescer em junho de 2017, com 14%. Joesley foi quando? Maio de 2017. O evento Joesley mudou o curso da história. A história é também feita de fatos episódicos, acidentais. A facada em Bolsonaro também foi decisiva. Naquele momento Bolsonaro estava começando a cair. Os trackings das campanhas indicavam que naquele momento a rejeição dele estava subindo, a intenção de voto começava a cair. A facada estancou esse movimento. Deu baque nas outras campanhas, que ficaram desnorteadas, tanto que suspenderam a campanha.
O PSDB se arrepende do fato de ter liderado o impeachment de Dilma?
A história não é feita do "se". A história é a história. Não existe arrependimento. Isso é análise. Naquele momento o governo Dilma não tinha menor condição de governar, tinha cometido crimes e a economia estava indo para o abismo. Era responsabilidade histórica nossa. Tinha elementos que davam consistência constitucional ao impeachment, não era golpe, mas taticamente e politicamente muita gente graúda dentro do PSDB tinha resistência. Não é questão de arrependimento. Não é processo de confessionário, é inútil. Arrepender-se agora é inútil.
O PSDB não perdeu parte do eleitorado ao não ter retirado Aécio da presidência do partido quando as denúncias contra ele, no caso Joesley, vieram a público?
Não é só Aécio. Tivemos muitas lideranças citadas, o problema é a dinâmica, como a opinião pública assimilou a Lava Jato. Você ser citado, investigado, réu e ser condenado virou uma coisa só. Um bandido confesso fala o seu nome e você já está condenado.
Mas o PSDB e seus parceiros na oposição ao PT não faziam isso também em relação aos petistas?
O mensalão só pegou gás depois que o Duda Mendonça contou a verdade. Ali tinha fato substantivo. Na Lava Jato um diretor de empreiteira fala que deu dinheiro. Cadê a prova? Houve outros casos de injustiça, era o preço a pagar para combater a corrupção em escala industrial que o PT patrocinou. Não é só questão de Aécio. Teve operação em pleno ambiente eleitoral contra Beto Richa e Marconi Perillo. Temos seis governadores, dois foram objetos no mês da eleição. Até que ponto isso não teve inspiração política partidária? O Brasil está muito confuso. Vamos ver aonde a gente chega?
O senhor ainda tem esperança em relação à candidatura de Alckmin?
Acho muito difícil. Agora a dinâmica está dada. Seria uma surpresa. Mas surpresas sempre existiram. Em 1985, Maria Luíza Fontenele, do PT, estava em quarto lugar e ganhou a prefeitura de Fortaleza. Existem ondas. Em 2014 Aécio passou a Marina em velocidade incrível nos últimos quatro dias de campanha. Eu era coordenador em 2008 da campanha de Márcio Lacerda (PSB) à prefeitura de Belo Horizonte. Havia aliança PSDB e PT apoiando o PSB. O Márcio ficou o tempo todo com 41% das intenções de voto, com apoio do Aécio e do Pimentel. Leonardo Quintão (MDB) ficou com 14% o tempo todo. Na hora da votação, os 35% de indecisos se deslocaram para o Quintão e quase perdemos no primeiro turno depois de uma campanha monótona.
Que posição o senhor defende que o PSDB assuma caso haja um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad?
Isso a gente discute depois. Essa hipótese não está em pauta, é contraprodutiva e desrespeitosa com o Alckmin.
 Bolsonaro cresceu após impeachment liderado por tucanos, diz Marcus Pestana. Foto: Marcelo Camargo/ABr[/caption]
O PSDB errou ao apoiar o governo Temer?
A participação no apoio do governo Temer é decorrência obrigatória do impeachment. Nossa obrigação era apoiar Temer. Assim como ocorreu com Itamar Franco lá atrás. Derrubamos Collor e imediatamente demos apoio ao Itamar. Senão é irresponsabilidade. Senão seria fazer joguinho político do país. Era obrigação.
Mas o senhor avalia que houve erro de estratégia no apoio ao impeachment e consequentemente a Temer?
Tem um erro de metodologia que os historiadores chamam de anacronismo. É você julgar o passado com as informações do presente. Tentar analisar os fatos lá de atrás com as informações de hoje. É o engenheiro de obra pronta. Uma coisa era a hora do impeachment. Naquela hora não havia Joesley Batista. Hoje a gente sabe que aconteceu Joesley. E começa a julgar aquela atitude lá atrás à luz de hoje. É um equívoco metodológico de análise histórica. Temos de julgar aquilo com as informações que estavam disponíveis na época. Ao fazermos o impeachment, não tínhamos outra escolha.
Que peso as revelações de Joesley Batista tiveram sobre o PSDB?
O PSDB foi envolvido naquele momento. Foi uma bomba com alta repercussão, não foi só o fato e si. Foi a intensidade de mídia que o assunto mereceu. Não foram oito horas. Foram oito, dez meses. Envolveu também o PSDB. Ali a sociedade está rejeitando os partidos tradicionais, o establishment da nova República, o PSDB, o PT, o MDB. O PT tem uma diferença, ele tem nicho orgânico. Lula tem 30% da população que o segue. Pode cair o mundo, pode roubar, assaltar, falar a besteira que for, eles estarão lá com ele. O PSDB e o MDB não têm essa solidez. É fruto do modelo de partido. O PSDB sempre foi um partido de quadros, nunca apostou na democratização interna, envolvimento das bases efetivamente, uma coisa mais orgânica, militante. Aí vem fenômeno do Bolsonaro e varre tudo. Fica como um castelo de cartas.
Esse resultado seria diferente, na sua avaliação, se o candidato tucano fosse outro?
Poderia ter uma variação aqui ou ali. Essa eleição não era uma eleição boa para o PSDB, independentemente do candidato.
O senhor concorda com o ex-presidente do seu partido Tasso Jereissati de que o PSDB cometeu uma série de erros, a começar por contestar a eleição de Dilma?
Não concordo. Não concordo que ele venha a público fazer uma D.R. [discussão de relacionamento]. Devia ir para o Ceará ajudar. Um dos problemas do Geraldo foi a solidão que ele ficou, por oportunismo de grandes líderes dentro do próprio PSDB.
A quais líderes o senhor se refere?
Não vou citar nomes. A entrevista do Tasso foi como se, numa disputa difícil, suando a camisa, você levasse um gol contra quando o time está começando a tentar reagir.
Doria abandonou Alckmin? Ele está com Bolsonaro?
Não tenho informação sobre isso. Mas não foi uma coisa só. O problema da nossa campanha é mais histórico e estrutural. É Joesley, é ter tirado da população que a crise econômica é do PT, que o Temer é do PT, não é nosso. Não se explicam as coisas com um vetor só. Tancredo dizia que mineiro que queria ganhar a presidência tinha como tarefa unificar Minas. Por isso foi atrás de Francelino Pereira e de Aurelino Chaves para fazer a frente democrática. Palanque duplo não funciona. Já não estava boa a situação geral. É mais um elemento. O palanque duplo Márcio França e Doria atrapalhou. Ali era a retaguarda dele, a fortaleza dele. Nós tínhamos de estar com a retaguarda organizada. Temos de fazer nossa parte. Precisávamos ter negociado uma solução que tivesse palanque único em São Paulo. Não quer dizer que isso ia mudar nossa situação, mas é um elemento que atrapalhou. Poderia ter havido palanque único e não ter dado certo por outros fatores.
O senhor disse que considera Alckmin o candidato mais qualificado. Ele foi o candidato certo na hora errada?
Era o candidato natural do PSDB. O Brasil está enfrentando a maior crise de sua história. Quando você está em crise, ameaçado, quando as pessoas estão inseguras, com medo, elas procuram terreno firme, sólido. Alckmin é experiente, sereno, testado, competente. Fomos pela via tradicional. Achamos que, com o tempo de TV, ao falar isso, íamos ganhar as pessoas. Isso não aconteceu. Essas eleições são non-sense, uma mistura de tragédia grega com teatro do absurdo. É como se fosse um jogo, em que Marina, Alckmin, Ciro, Alvaro, Amoedo e Meirelles estão dentro do campo e olham para o lado, e os dois líderes não estão no campo: um está na cadeia e outro no hospital. Parece realismo fantástico.
O PSDB perdeu para o Bolsonaro a bandeira anti-PT?
Não foi só por causa do Joesley. Mas não há dúvida que perdemos. A polarização desde 1994 sempre foi PT x PSDB. Óbvio que Bolsonaro nos roubou o antipetismo. Nós lideramos o impeachment. As pessoas às vezes não fazem analise histórica. É só olhar. O impeachment da Dilma foi em agosto de 2016. Bolsonaro tinha 8% nas pesquisas. Quem começou o impeachment foi o PSDB, com Carlos Sampaio e Nilson Leitão. Tinha gente graúda no PSDB, caciques, que era contra o impeachment por causa da quebra da dinâmica democrática e por analisar que iríamos salvar o PT.
Eles estavam certos?
A realidade deu razão a eles. Quem fez o impeachment inicialmente foi Carlos Sampaio, Nilson Leitão, Mendonça Filho e Rubens Bueno. O Senado tinha resistência. Carlos Sampaio, que era nosso líder, atropelou líderes maiores que tinham dúvidas sobre a tática. Naquele momento nós éramos anti-PT. Não existia Bolsonaro. Só ver as sessões do impeachment, do final de 2015 e 2016. Os bate-bocas eram entre líderes do PT e do PSDB. Bolsonaro estava longe dessa história. Ele começa a crescer em junho de 2017, com 14%. Joesley foi quando? Maio de 2017. O evento Joesley mudou o curso da história. A história é também feita de fatos episódicos, acidentais. A facada em Bolsonaro também foi decisiva. Naquele momento Bolsonaro estava começando a cair. Os trackings das campanhas indicavam que naquele momento a rejeição dele estava subindo, a intenção de voto começava a cair. A facada estancou esse movimento. Deu baque nas outras campanhas, que ficaram desnorteadas, tanto que suspenderam a campanha.
O PSDB se arrepende do fato de ter liderado o impeachment de Dilma?
A história não é feita do "se". A história é a história. Não existe arrependimento. Isso é análise. Naquele momento o governo Dilma não tinha menor condição de governar, tinha cometido crimes e a economia estava indo para o abismo. Era responsabilidade histórica nossa. Tinha elementos que davam consistência constitucional ao impeachment, não era golpe, mas taticamente e politicamente muita gente graúda dentro do PSDB tinha resistência. Não é questão de arrependimento. Não é processo de confessionário, é inútil. Arrepender-se agora é inútil.
O PSDB não perdeu parte do eleitorado ao não ter retirado Aécio da presidência do partido quando as denúncias contra ele, no caso Joesley, vieram a público?
Não é só Aécio. Tivemos muitas lideranças citadas, o problema é a dinâmica, como a opinião pública assimilou a Lava Jato. Você ser citado, investigado, réu e ser condenado virou uma coisa só. Um bandido confesso fala o seu nome e você já está condenado.
Mas o PSDB e seus parceiros na oposição ao PT não faziam isso também em relação aos petistas?
O mensalão só pegou gás depois que o Duda Mendonça contou a verdade. Ali tinha fato substantivo. Na Lava Jato um diretor de empreiteira fala que deu dinheiro. Cadê a prova? Houve outros casos de injustiça, era o preço a pagar para combater a corrupção em escala industrial que o PT patrocinou. Não é só questão de Aécio. Teve operação em pleno ambiente eleitoral contra Beto Richa e Marconi Perillo. Temos seis governadores, dois foram objetos no mês da eleição. Até que ponto isso não teve inspiração política partidária? O Brasil está muito confuso. Vamos ver aonde a gente chega?
O senhor ainda tem esperança em relação à candidatura de Alckmin?
Acho muito difícil. Agora a dinâmica está dada. Seria uma surpresa. Mas surpresas sempre existiram. Em 1985, Maria Luíza Fontenele, do PT, estava em quarto lugar e ganhou a prefeitura de Fortaleza. Existem ondas. Em 2014 Aécio passou a Marina em velocidade incrível nos últimos quatro dias de campanha. Eu era coordenador em 2008 da campanha de Márcio Lacerda (PSB) à prefeitura de Belo Horizonte. Havia aliança PSDB e PT apoiando o PSB. O Márcio ficou o tempo todo com 41% das intenções de voto, com apoio do Aécio e do Pimentel. Leonardo Quintão (MDB) ficou com 14% o tempo todo. Na hora da votação, os 35% de indecisos se deslocaram para o Quintão e quase perdemos no primeiro turno depois de uma campanha monótona.
Que posição o senhor defende que o PSDB assuma caso haja um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad?
Isso a gente discute depois. Essa hipótese não está em pauta, é contraprodutiva e desrespeitosa com o Alckmin.Tags
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