ÉPOCA
A versão do compadre
“É um privilégio ter a amizade de Lula”.Acusado de tráfico de influência, o advogado Roberto Teixeira fala a ÉPOCA sobre sua amizade com o presidente Lula e sobre o caso Varig.
A pergunta a que o advogado Roberto Teixeira diz mais ter respondido em seus 64 anos de vida é sobre sua amizade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Vestido de calça moletom azul, camiseta branca, sapatênis sem meias e recém-saído de uma angioplastia no hospital para desentupimento de veias do coração e implantação de um stent (dispositivo para desobstruir artérias), ele diz isso com o enfado de quem vai responder pela milionésima vez sobre o assunto ao receber ÉPOCA na última quinta-feira em seu apartamento em São Paulo. Os dois se conheceram, no início dos anos 80, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Lula liderara as greves dos metalúrgicos contra o regime militar e acabara de fundar o PT. Roberto Teixeira era o presidente da seção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em São Bernardo. O primeiro encontro dos dois foi no escritório de Roberto Teixeira. Lula ficara impressionado com relatos sobre seu desempenho na oposição ao então prefeito de São Bernardo, Tito Costa (MDB), e queria saber se ele preenchia os requisitos para entrar no PT – “que tinha muito rigor moral naquele tempo”, conforme lembra Teixeira.
Teixeira satisfez às exigências de Lula, entrou no PT, participou de suas primeiras campanhas eleitorais e os dois se transformaram em amigos tão próximos que o advogado foi chamado para ser o padrinho de Luís Cláudio, o filho mais novo de Lula e dona Marisa.
Anistia S.A.
Fruto de uma legislação que privilegia pagamentos em dinheiro em vez do direito à vida, a lei das indenizações aos perseguidos pela ditadura criou favoritos, consolidou desigualdades e já custou R$ 6,4 bilhões aos cofres públicos
Mais imposto não vai resolver
A pedido do governo, a Câmara recriou um imposto destinado a promover melhorias na saúde. O problema principal – a gestão – permanece intocado
VEJA
Nasce o maior bilionário brasileiro
O empresário Eike Batista se consolida na bolsa e termina a semana com 20 bilhões de dólares.
Guerra dos pampas: crise interna dilacera o governo Yeda Crusius
Desde o dia 1º de janeiro de 2007, quando tomou posse, a governadora do Rio Grande do Sul, a tucana Yeda Crusius, não conseguiu atravessar uma semana sem enfrentar algum tipo de crise. Mal as urnas foram fechadas, ela rompeu com o vice-governador Paulo Feijó – o que parecia ser o menor dos seus problemas. O caixa do estado acumulava um déficit de 2,4 bilhões de reais em suas contas, os salários dos servidores estavam atrasados e havia uma onda de greves nos principais serviços públicos. Yeda tentou aprovar um aumento de impostos, rejeitado pela Assembléia Legislativa. Sem dinheiro, a governadora implantou um duro ajuste fiscal, demitindo servidores terceirizados, suspendendo investimentos e paralisando obras. De imediato, colheu mais greves, protestos e viu seus índices de impopularidade se multiplicar. Em um ano de austeridade, porém, o governo conseguiu cortar o déficit pela metade e retomar a capacidade de investimento. Os bons resultados deveriam começar a aparecer a partir do segundo semestre deste ano. Mas eis que surge aquele personagem que se imaginava ser um problema menor: o vice-governador Paulo Feijó. Ele gravou e divulgou conversas que revelam os métodos moralmente heterodoxos usados pelos aliados da governadora para financiar políticos e campanhas políticas com dinheiro público.
A inoportuna volta da CPMF
O governo deu na semana passada o primeiro passo para aplicar mais uma tunga nos cidadãos que já entregam ao Leão, na forma de impostos e contribuições, quase a metade do que produzem em um ano. Com 259 votos a favor, apenas 2 além do mínimo necessário, a Câmara dos Deputados aprovou a criação da contribuição social para a saúde (CSS), uma metástase da velha CPMF, extinta no fim do ano passado. A proposta prevê que o novo imposto terá alíquota de 0,1%, será cobrado sobre os débitos em conta corrente e operações financeiras a partir de 2009 e arrecadará 10 bilhões de reais por ano. Teoricamente, é dinheiro que se destinaria a melhorar o atendimento de saúde, como também era a intenção da velha CPMF. Para entrar em vigor, a CSS ainda precisa ser aprovada no Senado, onde o governo costuma enfrentar mais resistências para levar adiante projetos que contrariam os interesses da população, principalmente os mais disparatados e injustos. "A sociedade brasileira já convive com uma carga tributária altíssima. Não é possível penalizá-la com ainda mais um imposto", disse a VEJA o presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho, um dos principais oponentes do novo tributo.
As dúvidas que permanecem no caso Varig
Duas semanas depois de publicadas as primeiras denúncias sobre a venda da Varig, feitas ao jornal O Estado de S. Paulo pela ex-diretora da Anac Denise Abreu, uma pergunta persiste: por que a VarigLog decidiu vender a Varig para a Gol por 320 milhões de dólares se tinha uma proposta da TAM para fazer o mesmo negócio por 738 milhões de dólares? A solução a essa dúvida é crucial. Só ela pode dissipar ou reforçar as duas suspeitas sobre esse episódio: a de tráfico de influência contra o advogado Roberto Teixeira, amigo de três décadas do presidente Lula, e a de favorecimento do governo a uma empresa privada em uma disputa comercial dentro de um setor altamente dependente da regulação estatal. Em sua entrevista ao Estado, Denise contou ter sido pressionada por Teixeira e pelo governo, na pessoa de Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil, a tomar duas decisões.