Após cinco dias de terror no segundo levante da criminalidade no Estado de São Paulo, o número de ataques feitos pela organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) caiu neste domingo (16). Na capital, não houve registro de incêndios a ônibus ou atentados a tiros durante todo o dia, segundo a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros.
O ritmo dos crimes diminuiu depois da transferência de cinco supostos chefes do PCC para o presídio de Presidente Bernardes, a 589 km a oeste de São Paulo. Lá, vigora o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), que impõe regras rígidas aos presos.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (SAP) confirmou a transferência de cinco detentos para Bernardes, mas evitou detalhar a ação, "por motivos de segurança".
O líder máximo do PCC, Marcos Herbas Camacho, o Marcola, é um dos presos internados sob o RDD, em Presidente Bernardes.
Sábado violento
No sábado, também não foram registradas ações durante o dia. Elas foram retomadas só à noite, principalmente na Grande São Paulo. Há suspeitas de que tenham sido uma reação à prisão de Anco Márcio Pereira Maia, 28, o Gordo, ocorrida horas antes, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Maia seria uma espécie de chefe interino do PCC na região.
Segundo três agentes penitenciários que atuam no interior, interceptações telefônicas feitas por um sistema de inteligência - montado pelas polícias Civil e Militar e por agentes penitenciários após os motins iniciados no último Dia das Mães - mostram que o PCC prepara uma rebelião para o Dia dos Pais, no início de agosto.
Motivações
Investigações preliminares apontam que a nova onda de violência foi desencadeada devido à ameaça de transferência da cúpula do PCC para a penitenciária federal de Catanduvas (PR), inaugurada recentemente pelo governo Lula.
Em maio último, entre os dias 12 e 19, o PCC promoveu a maior série de atentados da história de São Paulo. Na ocasião, as forças de segurança foram o principal alvo. Foram 299 ações, incluindo incêndios a ônibus. Simultaneamente, uma onda de rebeliões atingiu 82 prisões.
Os primeiros atentados foram atribuídos a uma retaliação à decisão do governo estadual de isolar a cúpula do PCC no RDD de Bernardes e mais cerca de 300 integrantes da organização criminosa na penitenciária 2 de Presidente Venceslau, 620 km a oeste de São Paulo.
Na nova onda de ataques, iniciada na terça-feira passada (11), prédios públicos e particulares, agências bancárias, lojas, ônibus e agentes de segurança têm sido atacados a tiros ou por incêndios.
Pelo menos oito pessoas foram mortas, sendo um policial militar e sua irmã, na zona norte de São Paulo; três vigilantes particulares, no Guarujá, litoral de São Paulo; e um guarda municipal, em Cabreúva, a 76 km a noroeste de São Paulo. As mortes de um agente prisional, em Campinas; e do filho de um investigador, em São Vicente; não entraram nas estatísticas oficiais.
O último balanço da Secretaria Estadual da Segurança Pública, divulgado na quinta, somava 106 ataques contra 121 alvos.
Crimes
O último ataque registrado neste domingo ocorreu às 4h, em Porto Ferreira, a 228 km ao norte de São Paulo. Três ônibus estacionados na garagem de uma empresa de transporte foram incendiados no pátio. Como a empresa não tem vigias, ninguém presenciou a ação. Não houve feridos.
Em Ribeirão Preto, a 314 km a norte de São Paulo, à 1h22, um coquetel molotov foi jogado contra a casa de um agente penitenciário, no bairro Parque dos Servidores. Ninguém ficou ferido.
Na capital, os últimos três incêndios a ônibus foram entre as 19h e as 21h de sábado. Dois deles ocorreram na zona leste da cidade. Ninguém se feriu. Neste domingo, os ônibus circularam normalmente, segundo a empresa que gerencia o transporte na cidade (SPTrans).
11 presídios parados no domingo
Mesmo com a calmaria de ontem, agentes penitenciários de 11 dos 144 presídios do Estado de São Paulo mantiveram suas atividades paralisadas neste domingo, por orientação dos sindicatos da categoria. Estão suspensos os banhos de sol dos presos e as visitas de familiares.
Segundo informações da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), as paralisações registradas neste sábado (15) foram mantidas nas seis unidades do complexo Campinas-Hortolândia, no interior de São Paulo, nos Centros de Detenção Provisória (CDPs) de Americana e Ribeirão Preto, e nas penitenciárias 1 e 2 de Presidente Venceslau.
Neste domingo, os agentes penitenciários da cadeia feminina de Campinas também aderiram ao protesto da categoria. Só foram mantidos o atendimento emergencial e a alimentação dos presos.
Em assembléia realizada na última terça (11), dia do início da nova onda de ataques, o Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária do Estado de São Paulo (Sindasp) definiu que, a cada agente morto de segunda a sexta-feira, a orientação será de paralisar as atividades no fim de semana.
Segundo a diretoria do sindicato, a interrupção neste sábado e domingo ocorreu por causa da morte do filho de um agente e o assassinato de um funcionário do sistema penitenciário em Campinas, durante a última semana.
Desde a noite da última terça (11), ataques do PCC ocorreram em diferentes pontos do Estado. Ao todo, 78 pessoas foram presas suspeitas de participar dos atentados e ao menos três morreram em ações policiais.