Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Congresso em Foco
11/5/2006 | Atualizado às 10:04
Um dia após ver o Supremo Tribunal Federal (STF) negar o seu pedido para não depor à CPI dos Bingos, sob o argumento de que estaria com estresse e depressão, o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira prestou ontem um depoimento marcado por evasivas e contradições. Categórico em apenas um ponto, a defesa do presidente Lula, deixou no ar uma série de perguntas sem respostas, a começar por seu estado de saúde. "O senhor é doido?", perguntou o senador Demóstenes Torres (PFL-GO). "Não vou responder a isso. Tenho o direito de discutir minha saúde apenas com minha família", reagiu, irritado.
Aparentando ora estar confuso, ora lúcido, Silvinho confirmou, mesmo ressaltando não ter lido a entrevista, as declarações dadas à repórter Soraya Aggege e publicadas no último domingo pelo jornal O Globo. "Tenho certeza de que não inventou nada, de que não mentiu", disse. Mas surpreendeu os senadores ao afirmar que não sabia se o que havia dito à repórter era verdadeiro ou não. "Não sei mais onde está a verdade nessa entrevista, o que é verdadeiro, o que não é", afirmou. "Tem coisas que lembro. Outras que não. Não quero fazer confirmação leviana. Eu não estava no meu estado emocional normal", completou. "Vossa senhoria tem algum problema de amnésia?", provocou o relator da CPI, Garibaldi Alves (PMDB-RN). "Me recuso a responder a esse tipo de pergunta", devolveu.
As evasivas de Silvinho não terminaram nem mesmo quando, irritado, o presidente da CPI, Efraim Morais (PFL-PB), leu a íntegra da entrevista de O Globo. "Vossa senhoria me permita, está querendo fazer a gente de besta", acusou o senador. "Se ocorreu distorção, foi da minha cabeça", disse Silvinho, após a leitura da matéria. "Eu não sei de onde tirei isso." Já na fase final do depoimento, o ex-petista até que se soltou, lançando críticas à direção do PT e ao seu atual presidente, o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), que o chamou de louco e desonesto no início da semana.
Disse que a responsabilidade pela aproximação do PT com o empresário Marcos Valério foi de toda a direção partidária. "Eu sou tão responsável quanto os 21 membros da Executiva. A direção do PT sabia que Delúbio (Soares, ex-tesoureiro) estava buscando empréstimos na rede bancária. Sabíamos que havia dívidas, mas ninguém nunca cobrou um orçamento, um balanço", declarou.
Ao não confirmar a veracidade de suas próprias declarações a O Globo, Silvinho deixou no ar uma série de perguntas e contradições. Veja as principais delas:
De onde viria o dinheiro do valerioduto?
Na entrevista, o ex-secretário do PT disse que Marcos Valério pretendia arrecadar R$ 1 bilhão durante o governo Lula. Boa parte do dinheiro viria de negócios feitos em favor de três bancos - Opportunity, Econômico e Mercantil de Pernambuco (esses dois últimos em liquidação extrajudicial). O restante viria de negociações com passivos agropecuários, que ele não soube detalhar. Ontem, em depoimento à CPI dos Bingos, o ex-dirigente petista não confirmou as informações. "Do que eu falei, não sei mais o que é fantasia, o que eu criei na minha cabeça e o que é ficção." Confirmou apenas que havia divergências dentro do PT em torno da atuação do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity. Com a declaração de Silvinho, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), apresentou quatro requerimentos para obter informações e documentos relacionados a uma investigação nos Estados Unidos que apura se dirigentes do banco foram achacados por petistas para receber recursos na campanha de 2002.
Que poder tinha Marcos Valério no governo Lula?
Na CPI, Silvio Pereira negou que considere Marcos Valério uma pessoa poderosa dentro do governo e que tivesse atribuído ao empresário a afirmação de que suas revelações poderiam derrubar a República. "Eu não lembro se foi exatamente o Marcos Valério que disse isso, mas eu não disse para ela que ele falou isso para mim. Eu vou hoje estudar toda essa entrevista e verificar com quem eu conversei", afirmou. "Ele não teve este papel de destaque, de alguém que queira se aproveitar, como estão dizendo", completou. Em entrevista ao jornal fluminense, o ex-dirigente do PT disse: "O PT virou refém do Marcos Valério, não tinha mais jeito. O Marcos Valério estabeleceu canais próprios com petistas e com não-petistas. Tem muita gente, muitos partidos (estão envolvidos). Só que tudo caiu na nossa conta. Não tinha jeito de ser diferente. Quando estourou (o escândalo), nos encontramos com ele. Marcos Valério disse três coisas: 'Olha, tenho três opções: entregar todo mundo e derrubar a República, ficar quieto e acabar como o PC Farias, ou o meio termo'. Foi isso."
O sistema ilegal de arrecadação de recursos para o PT ainda continua?
Na entrevista, Silvinho disse que o esquema do valerioduto continuava, e não era exclusividade do empresário mineiro. "A verdade do PT não tem como ser digerida pela mídia. Como o Delúbio consegue, com uma assinatura dele mesmo, R$ 50 milhões? Olha, eu acho que o Delúbio não parou e olhou a coisa como um todo. Ele não é corrupto. Não é. Quem decidia tudo isso? Não havia uma decisão, não é como vocês pensam. Atrás do Marcos Valério deve haver cem Marcos Valérios. É um mecanismo, e que agora continua no país." Na CPI, Silvinho chegou a pedir desculpas ao empresário mineiro. "A questão é uma injustiça da minha parte com ele. Marcos Valério está virando sinônimo de corrupção. Eu, pessoalmente, não tenho esta visão ruim do Marcos Valério."
O presidente Lula sabia do esquema operado por Marcos Valério?
Silvinho negou que tenha afirmado na entrevista que o presidente Lula, os ex-deputados José Dirceu e José Genoino e o senador Aloizio Mercadante "mandavam no partido", quando se referiu ao plano de Marcos Valério de arrecadar R$ 1 bilhão com o PT no governo. Segundo ele, a referência era no sentido de eles "serem os quatro principais líderes que conduziram a política e a história do partido". Ressaltou que nunca tentou qualificá-los como "quadrilheiros". "Nunca recebi dele nenhuma orientação que fosse errada. Não lembro de um episódio em que ele tenha feito qualquer tipo de orientação que possa ser considerada desonesta ou ilícita." Em um dos trechos mais confusos de sua entrevista, Silvinho disse que não tinha poder suficiente para determinar as ações do partido. "Eu nunca me reuni com empresários. A imprensa toda sabia o que eu fazia: levantamento de dados, análises dos palanques estaduais e nacionais, cruzamento de dados, análise política. Sempre fui da organização partidária. Quem mandava? Quem mandava eram Lula, (José) Genoino, (Aloizio) Mercadante e Zé Dirceu. Eu não estava à altura desse time".
Temia ser morto por causa do teor de sua entrevista?
A repórter Soraya Aggege relata, na própria entrevista, que Silvinho pediu a ela que não publicasse suas declarações, pois poderiam matá-lo em seguida. "Tem muita gente importante envolvida nisso. Vão me matar. Eles vão me matar", teria dito à jornalista. Ontem, na CPI, ele admitiu ter sofrido uma crise nervosa ao tomar conhecimento das anotações feitas por Soraya, mas afirmou que não se lembrava de ter dito que poderia ser morto. "Eu não lembro de ter dito que vão me matar. Isso eu não conversei com as pessoas da política. Eu não lembro de ter dito esta palavra." Ao ser perguntado se teme pela sua vida, respondeu: "Eu tenho medo de mim mesmo".
O PT recebeu dinheiro de bingos?
Silvio Pereira já havia sido convocado duas vezes pela CPI dos Bingos para falar sobre sua relação com o advogado Rogério Tadeu Buratti, acusado de ter cobrado propina da multinacional Gtech para facilitar negócios da empresa com a Caixa Econômica Federal. Ele faltou às duas convocações, graças a liminares concedidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Buratti acusa o ex-ministro Antonio Palocci de ter cometido irregularidades durante sua gestão em Ribeirão Preto e o PT de ter arrecadado dinheiro de empresários angolanos, donos de casa de bingo em São Paulo. Segundo o advogado, o ex-secretário do PT sabia dessas operações. Ontem, na CPI, Silvinho confirmou conhecer Buratti, negou ter amizade com ele e afirmou que jamais teve conhecimento de supostos recursos arrecadados de donos de casas de bingo. Com todas as atenções voltadas para o valerioduto, os senadores não insistiram no assunto.
A direção do PT sabia como o partido arrecadava seus recursos?
Na CPI, Silvio Pereira disse que era de conhecimento dos dirigentes do PT que o partido tinha uma dívida alta e que o ex-tesoureiro Delúbio Soares estava tentando empréstimos na rede bancária para quitá-la. Afirmou ainda que a responsabilidade pelo envolvimento do partido com o empresário Marcos Valério foi de toda a direção do partido, e não apenas dele ou do ex-tesoureiro Delúbio Soares. E divergiu quanto aos valores apontados por ele mesmo na entrevista a O Globo. "Sabia que (o partido) estava devendo um valor alto, não necessariamente R$ 50 milhões, e que estava sendo contraída uma dívida na rede bancária. Mas não sei quanto devia." Na matéria publicada no último domingo, Silvinho não só cita valores, como também ironiza os ex-colegas de partido. "A dívida de 2002 foi de R$ 50 milhões. E toda a executiva topou. Chega 2003. E aí, vamos pagar? Pagar? Não, não. (Em vez disso) contrataram Vox Populi, Ibope, computadores etc. e tal. No fim de 2003, a dívida era de R$ 120 milhões.(...) E todos imaginavam que a conta era de R$ 50 milhões ainda."
Agiu para facilitar negócios da GDK, empresa que o presenteou com um jipe, no governo Lula?
Apontado pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como um dos gerentes do esquema do mensalão, Silvio Pereira caiu da secretaria-geral do PT após a confirmação de que ganhou um jipe Land Rover, no valor de R$ 74 mil, da GDK Engenharia. Além de ter fechado um contrato de US$ 90 milhões no governo federal para reforma da plataforma P-34 da Petrobras, a GDK tem sido uma das mais generosas doadoras das campanhas eleitorais do PT. Em 2004, doou R$ 400 mil para a campanha do petista Emídio Pereira de Souza, em Osasco, cidade onde Sílvio morava e onde começou a carreira como dirigente do PT na década de 80. O ex-petista voltou a negar, na CPI, que tenha agido para favorecer a empresa e admitiu que errou ao aceitar o "presente", o que deu margem para ele ser acusado por ex-colegas de partido de ter sido o único a ter se favorecido pessoalmente entre as denúncias contra o governo. Nos demais casos, alegam, o dinheiro seria para cobrir despesas de campanha eleitoral.
Temas
PEC da Blindagem
Silvye Alves pede desculpas por voto a favor da PEC da Blindagem
IMUNIDADE PARLAMENTAR
PEC da Blindagem
Em vídeo, Pedro Campos diz que errou ao apoiar PEC da Blindagem
PEC da blindagem
Artistas brasileiros se posicionam contra a PEC da Blindagem