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EXTRAPAUTA: O som do mangue na batida americana

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8/9/2005 | Atualizado às 11:32

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Cláudio Versiani, de Nova York*


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Scott Kettner nasceu em Melbourne, Flórida. Estudou quatro anos de jazz na New School, uma universidade em Nova York. Ele queria aprender a tocar bateria e ser um músico profissional vivendo de sua paixão, o jazz. O professor de Scott foi um baterista chamado Billy Hart, que já tocou e/ou gravou com Miles Davis, Chick Corea, Stan Getz, Antonio Carlos Jobim e outras feras. Billy é um apaixonado pela música brasileira. Ele sempre gostou de usar os ritmos do Brasil para ensinar bateria aos alunos. Scott já estava fisgado pelo samba e a bossa nova quando um dia Billy lhe mostrou um ritmo novo, um tal de maracatu.

Kettner conta como foi: "Billy me chamou para escutar um disco de maracatu. Eu pensei, tenho que aprender esse ritmo". E Billy me falou: "Você tem que aprender a tocar essa música e me ensinar. Esse ritmo é bom demais!". O próximo passo foi ver o maracatu ao vivo. O encontro aconteceu no Zync Bar, no East Village em Manhattan.

Em 2000, Scott resolveu ir ao Brasil para ver de perto a cultura que produzia os ritmos que ele tanto apreciava. Mas foram férias de um mês. Lá ele encontrou um americano, etnomusicologista. Esse é o título acadêmico de Larry Crook. O professor Crook, que nessa época estava descobrindo e pesquisando a música de Chico Science, levou Scott para conhecer Jorge Martins, músico brasileiro que desenvolve trabalhos sociais no Recife, usando a música como instrumento. Scott ficou mais doido ainda com o maracatu, o coco, o baião, o forró e o maracatu de baque virado. Uma semana, oito horas de aula por dia e maracatu todo o tempo. Ele voltou para Nova York, mas a cabeça ficou no hemisfério sul, no carnaval da Bahia, nas praias do Rio de Janeiro, na música do Brasil. "Fiquei doido com os ritmos da música brasileira, eu tinha de dar um jeito de voltar."

O Brasil se apresentou como a estrada natural de Scott. Em 2001, ele decidiu mergulhar na cultura brasileira, um ano só por conta da música. São Paulo, Rio e Bahia de novo. Recife foi o porto onde Scott jogou sua âncora. Ele morou cinco meses na cidade, ou mais precisamente, na favela "Brasília Teimosa" (na casa de Jorge Martins), a mais antiga do Recife, aprendendo maracatu e descobrindo a realidade brasileira. Os amigos e parentes em Nova York ficaram meio assustados e preocupados. Afinal, era um gringo morando numa "perigosa" favela "made in Brazil".

Entretanto, Scott só tem boas lembranças de Brasília Teimosa. "Foi um choque cultural, mas eu já estava há seis meses no Brasil, conhecia um pouco do país. Eu aprendi muito lá. O maracatu vem das ruas, veio dos escravos, assim como o blues. Aliás, o sentimento é parecido", diz Scott, tentando mais uma vez fazer a fusão das culturas.

"Back to New York" - e para não ficar longe de Pernambuco -, Scott acabou se apaixonando por Michele, a esposa que importou do Recife e que faz parte do "Maracatu NY", um dos dois grupos musicais de Scott Kettner. O outro é o "Nation Beat", que mistura ritmos, o chamado "fusion", música negra daqui e do Brasil. Os dois se casaram no Brasil e nos EUA. Scott é o homem das fusões.

O encontro com Jorge virou parceria musical, amizade continental e intercâmbio cultural. Os americanos vão para o Recife e os brasileiros vêm para Nova York. Em 2003, Scott conseguiu um patrocínio do "Brooklyn Arts Council" e trouxe Jorge Martins para ensinar maracatu por um mês na cidade. Foi um sucesso.

Em 2004, Jorge veio de novo. Dessa vez, com direito a apresentação no SOB's (Sounds of Brazil), casa de show em Manhattan conhecida por apresentar músicos latinos. Mais uma vez foi um sucesso, platéia de 350 pessoas dançando ao som do maracatu de baque virado.

Em 2005, a mão foi invertida e os gringos baixaram no Recife. A primeira semana foi de aula intensiva, visita a favelas e cultura brasileira. A segunda foi só alegria e diversão e muita música. Arrastão de carnaval de manhã, de tarde e de noite. Os gringos botaram para quebrar nas ruas da capital pernambucana. E ainda foram ver de perto a Casa da Rabeca, morada de Mestre Salustiano, um dos maiores do maracatu. Scott e seus gringos tocaram especialmente para ele. Chico Science já tinha dedicado ao mestre a música "Salustiano Song". Scott também pagou tributo e recebeu um abraço carinhoso do mestre.

Scott anda aperreado. É que ele não vê a hora de se encontrar com os seis batuqueiros do grupo de maracatu "Estrela Brilhante". Os gringos desembarcam esta semana no Recife para gravar um disco com os brasileiros.

Depois disso, Scott tem outros compromissos. Ele foi eleito Latin Jazz Ambassador pelo Departamento de Estado do Governo Americano, um programa cultural para divulgação da música americana. Em janeiro de 2006, Scott vai aportar em terras do Leste Europeu, levando na bagagem a influência das músicas de Jorge Martins, Mestre Salustiano, Chico Science e Nação Zumbi, o coco, o forró, o maracatu.

"A música brasileira é especial, uma mistura linda da música negra, indígena e européia. Além disso, os brasileiros souberam preservar a cultura", completa Scott. Os europeus vão conhecer um pouco da música, também especial, de Scott Kettner. Vai ser uma excursão pra lá de arretada.


* Jornalista há 27 anos, foi editor de Fotografia do Correio Braziliense e repórter de Veja, Istoé e O Globo. Seu trabalho como fotógrafo já lhe rendeu vários prêmios nacionais e internacionais, como o Líbero Badaró, o Nikon Awards e o Abril de fotojornalismo.


 


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