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Análise política
6/6/2025 8:53
Na física termodinâmica, entropia é a medida da desorganização de um sistema. Está associada à quantidade de energia que não pode mais ser usada, isso é, energia que se perde. Quanto maior a entropia em um sistema, maior o grau de desordem, imprevisibilidade e desgovernança. Imagine um quarto desarrumado (alta entropia): a tendência é que a bagunça aumente com o tempo - a menos que se gaste mais energia com a faxina.
Nos primeiros meses de 2023, o governo Lula operava com baixa entropia. Havia uma frente ampla funcional, apoio institucional e uma narrativa clara: reconstruir o país após o período bolsonarista. Apesar de divergências internas, a bússola era visível. O ambiente político ainda preservava alguma previsibilidade, e o presidente dispunha de capital simbólico robusto. Essa baixa entropia foi essencial para a aprovação histórica da reforma tributária sobre o consumo.
Passados dois anos e meio, o quadro é outro. Pesquisas qualitativas revelam que parte da população sente ter "dado todas as chances a Lula". As quantitativas indicam queda contínua de popularidade, mesmo em cenário de crescimento do PIB e recuperação de empregos.
No plano social - que vai além do político - o governo perdeu centralidade. Apesar de entregas relevantes, como o marco civil das garantias, seus ministros têm baixa visibilidade, e a oposição pauta a maioria dos temas nacionais. A presença digital do governo é fraca, a comunicação institucional não gera impacto e a atuação nas redes sociais segue ineficiente. A capacidade de coordenação diminui, enquanto a imprevisibilidade aumenta: sinais clássicos de entropia crescente.
O governo tornou-se dependente da figura de Lula - erro grave, dado o tamanho e a complexidade do Brasil. A teia social da esquerda não consegue competir digitalmente com a da direita e há uma dependência comunicacional excessiva do presidente. Lula, por sua vez, não acerta sempre. Isso gera um sentimento de inação percebido até mesmo por eleitores que o apoiaram em 2022.
Esse cenário exige de Lula um esforço cada vez maior para alcançar o que, há pouco tempo, era conquistado com menos energia. Seu governo movimenta-se mais tentando conter sua própria desorganização do que projetando políticas estruturantes. Diante disso, para manter o governo ativo, requisita-se cada vez mais a presença de Lula, que é levado a revisitar constantemente seus feitos passados, com o risco de se tornar, aos olhos do público, um comentarista de si mesmo.
A alta dependência que o governo tem da figura do presidente é, em si, um estado de alta entropia. Lula precisa que seu governo cesse a produção de ruído e passe a gerar sentido, vale dizer, passe a percepção que é funcional.
Ainda há tempo para inflexão. Mas ela exige foco, direção e controle da agenda.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].