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Crise
22/7/2025 15:00
A largada para a corrida presidencial de 2026 foi dada, e não por um candidato, mas por um castigo. Donald Trump, em um gesto de lealdade pessoal, impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, vinculando diretamente a medida à defesa de seu aliado Jair Bolsonaro. O gesto, que em qualquer outro contexto pareceria um ato de política externa, aqui se revela como um movimento interno da política brasileira. E, como todo bom movimento político, ele reorganiza o tabuleiro.
Lula, que passou quase um ano sem uma agenda clara para o debate político, havia acabado de lançar uma campanha em defesa de uma reforma tributária que isenta os mais pobres e taxa os mais ricos. A chegada das tarifas de Trump, com sua motivação abertamente bolsonarista, oferece a Lula o que nenhum marqueteiro poderia planejar: a oportunidade de se apresentar como o defensor dos trabalhadores brasileiros contra um castigo imposto por um governo estrangeiro em nome da impunidade de um ex-presidente.
O discurso é forte e, mais importante, é real. Bolsonaro prefere lutar por sua liberdade pessoal, mesmo que isso custe caro ao país. A imagem de um ex-presidente mais leal aos Estados Unidos do que ao Brasil, mais preocupado em salvar a própria pele do que em proteger os interesses nacionais, ganha contornos ainda mais nítidos. A continência à bandeira americana, os bonés de Trump, o "I Love You" dito em público, tudo isso volta à tona, agora com consequências econômicas concretas.
O episódio também escancara o dilema da direita brasileira. Bolsonaro não pode ser candidato em 2026. E, ao que tudo indica, pode estar preso durante a próxima eleição. Isso significa que o principal critério para a escolha de seu sucessor não será nem competência nem viabilidade eleitoral, mas a disposição para garantir sua impunidade. O candidato bolsonarista ideal não é aquele que sabe governar, mas aquele que está disposto a conceder um indulto presidencial e enfrentar o Supremo Tribunal Federal, que já questionou a constitucionalidade de perdões com objetivos pessoais.
Esse cenário coloca Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, em uma encruzilhada. Ele precisa provar a Bolsonaro que está disposto a ir às últimas consequências para livrá-lo da cadeia, inclusive enfrentando o STF e colocando o impeachment de ministros como prioridade legislativa. Ao mesmo tempo, precisa convencer o eleitorado moderado e os setores econômicos que o apoiam de que é um gestor responsável, avesso a aventuras institucionais.
A tarifa de Trump expõe claramente esse dilema. São Paulo, estado governado por Tarcísio, é um dos mais prejudicados pela medida de Trump. Se ele prioriza a lealdade a Bolsonaro, assume que colocará os interesses públicos e da população em segundo plano. Se hesita, perde a bênção do padrinho.
Ao ver diversos setores do bolsonarismo correndo para defender seu líder político, mesmo que às custas de empregos no país, somos lembrados de que a agenda da direita em 2026 estará sempre refém da mobilização pela impunidade de seu líder. E nas últimas semanas tivemos uma pequena mostra de que, no conflito entre interesses do Brasil e interesses pessoais de Bolsonaro, os políticos de direita ficam com o último.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].