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Democracia em risco
29/8/2025 11:00
A violência política de gênero é uma ferida aberta na democracia brasileira. Ela não acontece apenas quando uma mulher é impedida de falar em um plenário ou sofre agressões diretas - mas também quando é atacada nas redes, ridicularizada por sua aparência, silenciada em debates, ameaçada de morte ou obrigada a conviver com campanhas de ódio simplesmente por ocupar um espaço que é seu por direito. A Lei nº 14.192/2021 reconheceu esse crime, mas os episódios seguem se multiplicando, deixando claro que a legislação sozinha não basta.
Os números mais recentes são alarmantes e enchem de indignação. Em 2024, o Brasil registrou recorde de episódios de violência política contra mulheres, superando as eleições anteriores. E não se trata de casos isolados: uma pesquisa da Confederação Nacional de Municípios revelou que mais de 60% das prefeitas e vices afirmam ter sofrido algum tipo de violência durante a campanha ou no exercício do mandato. São mulheres que enfrentaram insultos, intimidações e tentativas explícitas de apagamento - um retrato cruel de como a misoginia ainda tenta se impor pela força do medo.
Essas agressões não são apenas ataques individuais; são golpes contra toda a sociedade. Cada vez que uma mulher é silenciada, a democracia perde cor, diversidade e legitimidade. E o cenário é ainda mais duro para mulheres negras, indígenas, jovens e LGBTs, que carregam camadas adicionais de preconceito e violência. O espaço público, que deveria ser um território de debates e propostas, muitas vezes se transforma em um campo de batalha em que as mulheres precisam lutar duas vezes: primeiro, para serem eleitas; depois, para sobreviver politicamente.
Levantamento do projeto De Olho nas Urnas, em parceria com o Observatório da Mulher na Política, revelou aumento significativo da violência política de gênero nas eleições municipais de 2024. Os casos saltaram de 13 para 28 durante as convenções partidárias e de 29 para 50 no mês anterior ao pleito, em comparação a 2020.
As candidatas a prefeita foram as mais atingidas, seguidas por vereadoras, com predominância de violência psicológica e simbólica. Em outubro de 2024, houve registros graves, incluindo ameaças, fraudes, agressões físicas, estupro e tentativas de feminicídio.
O estudo aponta que mulheres de todos os partidos foram alvo, demonstrando que a violência política de gênero é um problema estrutural, que ultrapassa fronteiras ideológicas. Essa realidade reforça que nenhuma mulher, por mais preparada e respeitada que seja, está imune ao machismo político.
A violência política de gênero não se manifesta apenas em ataques diretos, mas também no tom com que mulheres são tratadas no debate público. Quando o gênero é utilizado como sinal de fragilidade, como se a mulher não tivesse voz própria e precisasse ser sempre representada ou tutelada por outros, estamos diante de uma prática que subjuga e silencia. Esse mecanismo, muitas vezes sutil, reforça desigualdades históricas e tenta reduzir a legitimidade da liderança feminina, aproveitando-se da condição de gênero como forma de desqualificação política.
É impossível aceitar que a política continue sendo um lugar hostil às mulheres. Extirpar essa violência exige coragem coletiva: responsabilizar os agressores, pressionar partidos a proteger suas candidatas e representantes, cobrar das instituições uma postura firme e, sobretudo, não silenciar diante de cada caso. A presença das mulheres na política não pode ser exceção nem resistência; deve ser normalidade. Enquanto essa violência persistir, seguiremos denunciando, lutando e transformando a indignação em força para mudar essa realidade.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].