Entrar

    Cadastro

    Notícias

    Colunas

    Artigos

    Informativo

    Estados

    Apoiadores

    Radar

    Quem Somos

    Fale Conosco

Entrar

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigos
  1. Home >
  2. Artigos >
  3. A reforma energética protege os fortes e ameaça os telhados solares | Congresso em Foco

Publicidade

Publicidade

Receba notícias do Congresso em Foco:

E-mail Whatsapp Telegram Google News

Energia

Quando a reforma energética protege os fortes e ameaça os telhados solares

Medida Provisória 1.304 foi criada para conter custos e proteger consumidores, mas saiu do Congresso com dispositivos que desviam da meta de justiça tarifária e eficiência do sistema elétrico.

Heber Galarce

Heber Galarce

6/11/2025 13:00

A-A+
COMPARTILHE ESTE ARTIGO

Mesmo com mais de 85% de geração limpa em sua matriz elétrica, o Brasil ainda convive com tarifas elevadas e um estoque de subsídios que se multiplicou ao longo dos anos. A Medida Provisória nº 1.304 foi apresentada ao Congresso com um objetivo social claro: conter a escalada de custos e proteger os consumidores, especialmente os de baixa renda. No entanto, a versão final aprovada incorporou dispositivos que se distanciaram desse propósito - movimento formalizado no relatório final da relatoria - e manteve assimetrias pouco compatíveis com a eficiência do sistema.

Durante a tramitação, chegou a constar em versões preliminares a proposta de cobrar R$ 20 a cada 100 kWh compensados da geração distribuída (GD), o que penalizaria microgeradores residenciais e pequenos comércios. Após ampla mobilização técnica do setor, a redação final retirou essa cobrança para a microgeração com autoconsumo local - um avanço pontual para a energia solar de telhado. Ainda assim, o episódio expôs a fragilidade regulatória do debate: em vez de reconhecer integralmente os benefícios líquidos da GD - como a redução de perdas, o alívio de rede, a geração de empregos e a dinamização industrial -, a discussão volta e meia recai sobre novas barreiras a quem investe com recursos próprios em energia limpa.

O relatório final também ampliou o escopo da MP ao incluir dispositivos relacionados ao gás natural e à gestão de recursos do pré-sal, como mecanismos de financiamento de gasodutos e alterações na atuação da estatal que administra os contratos do pré-sal. Essas inserções - ausentes no texto original encaminhado pelo Executivo - redirecionaram parte do esforço normativo para agendas sem relação direta com a proteção tarifária imediata do consumidor. É importante registrar que o desvio de foco ocorreu no âmbito da relatoria, sem necessidade de personalizar críticas a parlamentares específicos.

A MP 1.304 evitou penalidades à microgeração solar, mas reforçou a urgência de uma política de Estado que valorize eficiência, neutralidade e justiça tarifária.

A MP 1.304 evitou penalidades à microgeração solar, mas reforçou a urgência de uma política de Estado que valorize eficiência, neutralidade e justiça tarifária.Freepik

Em paralelo, avança a tentativa de socializar custos sistêmicos não planejados, como os ressarcimentos por cortes compulsórios de geração (curtailment) em usinas eólicas e solares - medidas com impacto relevante sobre a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Quando não são precedidas de avaliação regulatória robusta, decisões desse tipo acabam transferindo riscos ao consumidor final e desestimulando tecnologias essenciais à descarbonização e à segurança do abastecimento.

Há, ainda, uma lacuna essencial: o setor elétrico segue sem um "encontro de contas" transparente que permita valorar de forma precisa a contribuição real da geração distribuída. Enquanto os benefícios sistêmicos - sobretudo nos centros urbanos - não forem devidamente quantificados, a política pública continuará vulnerável a soluções de curto prazo e a injunções setoriais que frequentemente oneram o usuário sem enfrentar as causas estruturais do custo da energia.

Como presidente do Instituto Nacional de Energia Limpa (INEL), defendi nas audiências o princípio da neutralidade concorrencial: subsídio zero para todos, com regras estáveis, previsíveis e que assegurem um ambiente competitivo equilibrado. A proteção ao cidadão/gerador, aquele que reduz perdas, moderniza o parque elétrico e promove a democratização energética, não deve ser tratada como exceção - e sim como parte do núcleo de uma política de Estado.

A MP 1.304 evitou uma penalidade explícita aos microgeradores, mas deixou sinais de que a arquitetura regulatória permanece permeável a inserções que distorcem seus objetivos originais. É preciso recentralizar a agenda energética na eficiência, na competição leal e na justiça tarifária, com prioridade às fontes limpas, descentralizadas e de investimento privado nos telhados - um caminho que o Brasil deve proteger a todo custo.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

Siga-nos noGoogle News
Compartilhar

Tags

Reforma política MP 1304

Temas

Energia
ARTIGOS MAIS LIDOS
1

Paulo Serra

Operação no RJ e fala de Lula sobre traficantes

2

Luis Fernando Prado

Aprender não pode ser ilegal

3

Dr. Hiran

Mil dias de Senado: trabalho, diálogo e resultados para o Brasil

4

Rafael Brito

Saúde mental nas escolas: a urgência de transformar a lei em política

5

Larissa Matos

A inconstitucionalidade da "Lei das Bets"

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigosFale Conosco

CONGRESSO EM FOCO NAS REDES