Entrar

    Cadastro

    Notícias

    Colunas

    Artigos

    Informativo

    Estados

    Apoiadores

    Radar

    Quem Somos

    Fale Conosco

Entrar

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigos
  1. Home >
  2. Artigos >
  3. Órfãos do feminicídio: a necessidade do Estatuto da Vítima no Brasil | Congresso em Foco

Publicidade

Publicidade

Receba notícias do Congresso em Foco:

E-mail Whatsapp Telegram Google News

Direitos das vítimas

Órfãos do feminicídio: a necessidade do Estatuto da Vítima no Brasil e de acolhimento às famílias enlutadas

A orfandade causada pelo feminicídio exige mais que reparação financeira.

Celeste Leite

Celeste Leite

29/12/2025 15:00

A-A+
COMPARTILHE ESTE ARTIGO

Em alta no Brasil, lamentavelmente, com direito a casos repugnantes reportados pela imprensa todos os dias, o feminicídio é tipificado como crime hediondo. Caracteriza-se pelo assassinato de mulheres em razão do gênero - por violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação. Tem pena mínima de 20 anos de reclusão e máxima de 40, com agravantes que elevam ainda mais o rigor.

Como promotora de Justiça do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), lido, cotidianamente, com a dor e a devastação causadas por esse tipo de delito. Crianças e jovens que perdem suas mães, muitas vezes, pelas mãos cruéis de seus próprios pais, experimentam, com a orfandade, trauma profundo, luto complexo e uma desestruturação familiar que impacta, para sempre, o desenvolvimento físico, psicológico e social. Não raramente, precisam de suporte especializado em saúde mental e educação.

Para as famílias enlutadas, os abalos emocionais são severos, acrescidos do estigma do crime, da ruptura de laços e dos encargos financeiros - afinal, sobra para os parentes próximos, muitas vezes com parcos recursos, criar os filhos das mulheres assassinadas. E, não menos importante: para a sociedade, cada feminicídio expõe falhas nas redes de proteção, perpetua ciclos de violência e corrói a confiança nas instituições. O Estado, ao meu ver, tem falhado, e muito, acerca da temática.

Neste contexto, é bem-vinda a lei federal 14.717/2023, que institui pensão especial de um salário mínimo para crianças e adolescentes órfãos de feminicídios. O que se tem é um paliativo financeiro, que busca mitigar a vulnerabilidade social e econômica, permitindo que crianças e jovens acessem direitos básicos, após a perda traumática da mãe e a prisão ou a fuga do pai criminoso. Tal suporte, porém, não anula a necessidade de uma rede de apoio mais ampla, completa.

Sem Estatuto da Vítima, órfãos do feminicídio seguem desamparados.

Sem Estatuto da Vítima, órfãos do feminicídio seguem desamparados.Freepik

Diante deste cenário, a aprovação do Estatuto da Vítima, projeto de lei 3.890/2020, já chancelado na Câmara dos Deputados e à espera de apreciação por parte do Senado Federal, emerge como necessidade premente no Brasil. Seria, a proposta, um marco legal holístico, com o condão de garantir às vítimas - e, por extensão, aos órfãos - direitos fundamentais, que vão além da reparação material. Isso inclui tratamento com dignidade e respeito em todas as etapas do processo judicial, direito à informação e, crucialmente, acesso prioritário a apoio psicossocial e à assistência jurídica gratuita.

Para os órfãos, o Estatuto da Vítima irá assegurar, ainda, tratamento individualizado, com escuta especializada e proteção contra a revitimização. E, de forma complementar, vai fortalecer as redes de apoio integradas e multidisciplinares, por meio de centros de referência que unam serviços jurídicos, sociais e psicológicos sob o mesmo teto, facilitando, assim, o acesso e a atendimento.

Programas que viabilizem moradia segura, apoio educacional e bolsas de estudo para os órfãos do feminicídio também estão no escopo da matéria, sendo cruciais para se minimizar os impactos deste tipo de tragédia.

E, sublinho: é essencial a formação continuada de profissionais das áreas de segurança pública, do Judiciário, da saúde e da educação centrada na vítima, bem como a promoção de campanhas de conscientização que visem à mudança cultural sobre igualdade de gênero e independência feminina.

A proteção integral das vítimas de feminicídio e de seus órfãos é um dever do Estado e da sociedade. É um compromisso com a vida, com a dignidade e com a construção de um futuro onde a violência não encontre mais espaço - seja pela certeza da impunidade, seja pela presença de um machismo estrutural doentio e mortal. O combate vai além do discurso e da comoção. Pede prática, agilidade, aparelhamento institucional e coragem.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

Siga-nos noGoogle News
Compartilhar

Tags

violência de gênero feminicidio

Temas

Justiça
ARTIGOS MAIS LIDOS
1

Aristeu Souza

STF reconhece racismo estrutural, mas Judiciário permanece branco

2

Henrique Alves da Rocha

Malafaia confunde influência com poder político

3

Régis de Oliveira Júnior

Regulamentar a IA no Congresso para proteger direitos e inovação

4

Pedro Valls Feu Rosa

Imprensa livre

5

Heitor Scalambrini

Que tipo de gente estamos escolhendo para nos representar?

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigosFale Conosco

CONGRESSO EM FOCO NAS REDES