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Política internacional
16/6/2025 8:27
Donald Trump chegou à Casa Branca prometendo nada menos que uma revolução. Com um discurso frontal contra o establishment político e a globalização, alimentou a esperança - ou o temor - de uma guinada brusca na política econômica e internacional dos Estados Unidos. No entanto, passados os primeiros seis meses de governo, o que se vê é uma dinâmica mais complexa: a força das instituições, dos mercados e da própria sociedade americana tem imposto limites concretos à agenda radical do presidente.
Medidas unilaterais e a força das reações
Ainda que algumas ideias centrais do programa de Trump - como o protecionismo comercial e o endurecimento migratório - tenham obtido apoio expressivo nas urnas, sua execução tem sido marcada por improvisação e fragilidade analítica. Quando convertidas em decretos presidenciais e medidas concretas, tais propostas provocaram reações intensas e até mesmo hostis, vindas de setores antes simpáticos ao projeto.
O episódio mais emblemático ocorreu após o chamado "Dia da Liberdade", quando Trump anunciou em clima de celebração as novas tarifas de importação no Jardim das Rosas da Casa Branca. O que parecia uma vitória simbólica da soberania econômica logo se revelou uma bomba de efeito colateral sobre a inflação doméstica e os interesses corporativos americanos. De um lado, o consumidor comum viu os preços subirem; de outro, grandes empresas e investidores temeram a ruptura das cadeias globais de produção e os efeitos na valorização de gigantes como Apple e Boeing.
A resposta dos mercados e o peso da realidade fiscal
Com a inflação em alta, o Federal Reserve, instituição independente e avessa à volatilidade política, reagiu como esperado: interrompeu sua agenda de continuidade na redução dos juros. Como redução, o próprio mercado corrigiu suas expectativas anteriores. Com isto, a esperança trumpista de um ciclo de crescimento econômico acelerado, sustentado por juros baixos e estímulos fiscais, foi minada pela própria lógica macroeconômica do país.
Outro ponto sensível da agenda de Trump - a redução de impostos para os mais ricos - também encontrou resistência. Embalada por argumentos ideológicos republicanos e pela nostalgia do "Reaganomics", a proposta ignorou a escalada da dívida pública americana nas últimas décadas. Ao invés de alívio, o mercado financeiro reagiu com cautela: os prêmios de risco dos títulos de longo prazo, especialmente os de 30 anos, subiram de forma relevante, pressionando a sustentabilidade da dívida do Tesouro e ameaçando o próprio coração da política fiscal americana. O resultado prático desta reação foi a perda da nota AAA na agência MOODYs para os treasuries de 30 anos de prazo.
A guinada migratória e o risco à produção agrícola
Mais recentemente, outro sinal de inflexão começa a surgir: o recuo na política de perseguição ativa a imigrantes ilegais em locais de trabalho. A retórica de campanha deu lugar à constatação pragmática de que a ausência dessa força de trabalho, especialmente em áreas rurais, pode comprometer seriamente a produção agrícola do país. A realidade econômica, uma vez mais, impõe-se à retórica populista.
Conclusão: uma revolução sitiada
O governo Trump talvez tenha iniciado um ciclo de contestação da ordem liberal internacional e do consenso tecnocrático de Washington. No entanto, ao enfrentar os mecanismos de defesa da democracia americana - dos mercados à opinião pública, passando por instituições independentes - vê sua revolução cada vez mais sitiada pela realidade.
A história dos Estados Unidos está repleta de presidentes que enfrentaram a tensão entre ambição política e as engrenagens do sistema. Trump, ao que tudo indica, não será exceção - mas talvez entre para a história como um dos casos mais dramáticos dessa tensão.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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