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A lógica de Trump desmonta o multilateralismo e impõe nova regra: quem não tem lobby, paga a conta.

Luiz Carlos Mendonça de Barros

Luiz Carlos Mendonça de Barros

4/8/2025 11:00

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Em tempos de incerteza econômica e tensões geopolíticas, Donald Trump ressurge com uma estratégia que mistura força bruta com pragmatismo comercial. Essa técnica de negociação é hoje chamada de geoeconomia - e vem substituindo a tradicional geopolítica que prevaleceu entre os Estados Unidos e as maiores economias do mundo nas últimas décadas.

Após provocar pânico nos mercados em abril com o anúncio de tarifas agressivas, o ex-presidente dos Estados Unidos recuou, reformulou sua abordagem e, quatro meses depois, colhe o que classifica como "vitórias". Mas a que custo - e com que efeitos?

O populismo tarifário de Trump

A iniciativa de Trump, embalada sob o lema "90 acordos em 90 dias", lembra mais um espetáculo midiático do que uma real reestruturação das relações comerciais globais. O prazo imposto para que países aceitassem novas regras - sob a ameaça de tarifas de até 50% - resultou em pouco mais de uma dúzia de acordos, muitos verbais ou com apenas uma ou duas páginas, e sem detalhar pontos importantes do que foi acertado entre as partes.

É uma diplomacia do improviso, conduzida por decretos e retórica, mas desprovida de consistência técnica e previsibilidade.

As tarifas, é verdade, renderam mais de US$ 100 bilhões em arrecadação ao governo americano. Mas essa conta ainda precisa ser comparada ao aumento do déficit fiscal gerado pela recente reforma tributária aprovada pelo Congresso americano. Além disso, as pressões inflacionárias já começam a aparecer nos balanços não apenas de grandes multinacionais como Unilever e Adidas, mas também em cadeias produtivas menores espalhadas por toda a economia.

Para um presidente que prometeu reduzir o custo de vida do americano médio, a realidade pode se revelar politicamente perigosa.

Um mundo menos multilateral

Mais do que os números, o movimento revela uma intenção clara: usar o peso econômico dos EUA para dobrar parceiros e reformular unilateralmente as regras do comércio internacional. A ideia de que "os Estados Unidos estão em desvantagem" não é nova no discurso de Trump, mas agora ela se traduz em ações concretas que colocam em risco décadas de construção multilateral.

O enfraquecimento de acordos amplos e estruturados - como os promovidos pela OMC, o TPP e o antigo Nafta - abre espaço para pactos frágeis, oportunistas e de curto prazo. O risco? O surgimento de novas alianças, com menor dependência dos EUA - uma tendência que pode minar, a médio prazo, a centralidade econômica americana no mundo.

Trump impõe lógica de chantagem global e desafia diplomacia tradicional; Brasil sobrevive por ser útil, não estratégico.

Trump impõe lógica de chantagem global e desafia diplomacia tradicional; Brasil sobrevive por ser útil, não estratégico.Daniel Torok/Casa Branca

E o Brasil no meio disso tudo?

Curiosamente, o Brasil foi um dos poucos países que conseguiram mitigar os impactos negativos da nova onda protecionista promovida por Trump. E o mérito, ironicamente, não está em qualquer esforço diplomático robusto ou estratégia comercial do governo brasileiro, mas sim na pressão vinda de onde menos se espera: das próprias empresas americanas.

Diversos setores industriais dos Estados Unidos são fortemente dependentes de produtos e insumos brasileiros. Ao perceberem que as tarifas colocariam suas operações em risco - inclusive no mercado interno - essas empresas agiram com rapidez e intensidade. O resultado foi a inclusão de uma longa lista de exceções à tarifa de 50% anunciada inicialmente. A notificação original da Casa Branca foi revisada sob intensa pressão do próprio setor privado americano.

Um exemplo notório é o da Embraer. Embora seja uma exportadora brasileira de destaque, mais de 80% do valor das exportações da empresa corresponde a componentes importados dos Estados Unidos. Aplicar tarifas sobre a empresa seria, na prática, uma punição indireta às cadeias produtivas norte-americanas. O caso se tornou emblemático e funcionou como precedente para outras exceções.

O mesmo raciocínio se aplica ao setor de alimentos. O suco de laranja brasileiro, um item quase simbólico no café da manhã do americano comum, foi mantido fora da lista de produtos tarifados. Trump, sempre atento ao impacto eleitoral de suas ações, sabe que a inflação percebida nas gôndolas dos supermercados tem muito mais peso político do que os desequilíbrios na balança comercial.

Ainda assim, nem todos os setores brasileiros foram poupados. Um exemplo é a exportação de café em grãos, que não entrou nas listas iniciais de exceção. A expectativa é que o poderoso setor de processamento e distribuição de café nos EUA - um dos mais lucrativos da cadeia - exerça pressão tardia para corrigir essa omissão.

Por outro lado, os grandes perdedores dessa nova arquitetura comercial foram setores brasileiros com baixo valor agregado e pouca visibilidade junto ao consumidor americano médio. Casos emblemáticos são o da indústria pesqueira artesanal e os fabricantes de máquinas e equipamentos industriais, que, embora muitas vezes forneçam insumos para produtos sofisticados, não têm escala, lobby ou relevância política suficientes para atrair a atenção de Washington.

Mais preocupante do que os efeitos setoriais, no entanto, foi a resposta institucional brasileira - ou a falta dela. Um segundo fator que expôs essa fragilidade foi a postura do governo Lula - e, em certa medida, das próprias empresas brasileiras dependentes do comércio exterior - de não compreender a mudança de lógica imposta por Trump. Durante décadas, o Brasil operou sob a lógica do multilateralismo comercial, apostando na previsibilidade e na proteção das regras globais. Mas o tabuleiro mudou.

Trump não busca consenso: ele impõe, ameaça e negocia sob chantagem econômica. A resposta brasileira permaneceu ancorada em uma leitura diplomática do passado, desarmada diante da nova ordem de transações bilaterais marcadas por poder bruto, pragmatismo político e relações assimétricas.

Em resumo, o Brasil resistiu mais por ser útil do que por ser estratégico. Essa resiliência pontual não deve ser confundida com protagonismo. Ela revela, na verdade, uma vulnerabilidade estrutural de um país que ainda não se reposicionou para um mundo em que a força política, e não o mérito técnico, dita as novas regras do jogo comercial.

Conclusão: o curto prazo ilude, o longo prazo vai cobrar todos os participantes

É tentador olhar para os acordos anunciados por Trump como sinal de força e eficiência. Mas o mundo do comércio internacional é movido por confiança, estabilidade e reciprocidade - valores presentes nas últimas três décadas - e que estão sendo corroídos por essa nova abordagem agressiva em busca apenas dos interesses americanos.

No curto prazo, Trump pode até comemorar ganhos táticos. No médio e longo prazo, porém, os riscos são altos: alianças abaladas, mercados desorganizados, preços internos em alta e uma economia global mais fragmentada, com países buscando arranjos bilaterais menos eficientes do ponto de vista de uma economia internacional integrada.

O Brasil, por enquanto, escapou dos piores efeitos. Mas não deve se acomodar. A lição que fica é clara: em um mundo cada vez mais volátil, a diplomacia econômica precisa ser estratégica, articulada - e baseada em compromissos sólidos, não em decretos de ocasião.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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