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Marcus Pestana

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13/9/2025 8:00

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Tempos estranhos os atuais. Não digo isso com saudosismo, sentimento que não gosto e cultivo. Cada época tem seus sonhos, dilemas, desafios. Cada tempo é envolto em suas circunstâncias.

O grande legado do século XX parecia ser a consagração absoluta da democracia como valor permanente, inegociável, amplo, universal. E aí estamos nós, com a cara do mundo contemporâneo estampada nas faces de Donald Trump, Vladimir Putin, Xi Jinping e Benjamin Netanyahu. Nem o mais radical pesadelo de um democrata pessimista poderia traçar roteiro pior.

Com o debacle da utopia socialista a convergência parecia se dar em torno do liberalismo com algum tempero social. Liberdade indivisível: individual, política, econômica. Combinada com políticas públicas eficientes, responsáveis e sustentáveis que contrabalançassem a inevitável produção, pela economia de mercado, de desigualdades sociais. Como pano de fundo: um mundo integrado, com economia globalizada e livre, paz permanente e sólida, governança compartilhada e multilateralismo no tratamento de questões comuns como meio ambiente, clima, fluxos migratórios e combate à miséria e à fome.

Nada mais distante do mundo atual. E as cartas embaralhadas. Enquanto o presidente dos EUA, suposta pátria do liberalismo, promove uma verdadeira balbúrdia desorganizadora em escala global, destruindo o livre comércio e a integração econômica, alimentando os conflitos da Ucrânia e de Gaza e atacando antigos aliados como Brasil e UE, Xi Jinping, líder da próspera e autoritária experiência de capitalismo de Estado chinês, discursa nos fóruns internacionais contra o protecionismo econômico e a favor do multilateralismo e da paz.

Capacidade de diálogo, construção de consensos na diversidade, sensatez, equilíbrio e ponderação parecem não terem morada na cena contemporânea. No Brasil e no mundo, predominam a intolerância e a radicalização. O ódio é disseminado com uma força inédita. A democracia pressupõe o mínimo de coesão social, pontes de diálogo, alguma unidade nacional, tolerância com os diferentes, aceitação da legitimidade dos atores políticos adversários e do direito de ocuparem o poder ao vencerem as eleições. Mas não.

Não é um fenômeno só nas elites. Há um ódio presente dos nativos contra imigrantes árabes, africanos e latino-americanos enraizado nas sociedades desenvolvidas. Há um ódio destrutivo entre adversários políticos transformados em inimigos de guerra.

Donald Trump e Xi Jinping no G20 Japan Summit.

Donald Trump e Xi Jinping no G20 Japan Summit.Shealah Craighead/Casa Branca

Não há mediações. Não há percepção sobre as contradições da realidade. Não há equilíbrio e sensatez. Ou você está com o xenofobismo ou com as imigrações descontroladas. Ou você dá razão a Trump ou defende o regime chinês. Ou você defende integralmente Israel ou a Palestina, com Hamas e tudo. Ou você está com Alexandre de Moraes ou com Bolsonaro. Quem pensa criticamente e pondera os vários vetores da vida - que são tudo, menos lineares, líquidos e certos - é reduzido logo a um isentão claudicante que fica em cima do muro e não se posiciona.

A democracia contemporânea está dando mostras de disfuncionalidade frente a sociedade das bolhas radicalizadas e da guerra fratricida nas redes sociais. Vejam a dificuldade de formação de governos majoritários com boas condições de governabilidade na França e Alemanha, no Japão, Portugal e Brasil.

O sensato, o ponderado, é um quase ingênuo. Um peixe fora dágua. Minhas referências políticas, no Brasil e no Mundo, desde os idos de 1976, quando comecei na militância política e iniciei minha vida pública, eram Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Teotônio Vilela, Mário Covas, FHC, Felipe González, Mário Soares, Enrico Berlinguer, Bill Clinton, Tony Blair, Obama. Fico imaginando se chegassem hoje no Brasil, onde se situariam no atual quadro político-partidário? Acho que estariam como eu: perplexos, pessimistas e sem lugar.

Não quero ser nem o pessimista amargo, nem o otimista ingênuo de Ariano Suassuna. Quero seguir seu conselho e ser um realista esperançoso. Meu personagem predileto, Dom Quixote, me ensinou: "... pois não é possível que o mal, como tampouco o bem, durem para sempre. Assim, tendo o mal persistido por tanto tempo, o bem deve estar próximo".

Fora isto, para o mundo que eu quero descer com minha isenção crítica, equilíbrio, dúvidas e pretensa lucidez.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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