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Congresso em Foco
4/3/2006 | Atualizado às 8:14
Reportagem da revista Veja que chega às bancas neste fim de semana diz que o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza ameaça fazer revelações que podem dar nova dimensão à crise e envolver a maior bancada do Congresso no escândalo do mensalão - o PMDB. Segundo a matéria assinada por Alexandre Oltramari e Otávio Cabral, Valério ameaça contar que, no início do ano passado, repassou dinheiro para que José Borba pudesse ficar como líder do PMDB na Câmara, comprando o apoio da ala oposicionista do partido, que iniciara um movimento para destituí-lo.
O empresário teria avisado aos peemedebistas que pode revelar detalhes de como, nos primeiros meses de 2004, repassou dinheiro para que Borba pagasse o apresentador Carlos Massa, o Ratinho, para falar bem do presidente Lula. Ratinho fez uma longa entrevista com Lula durante um churrasco na Granja do Torto. Valério tem dito ainda que Simone Vasconcelos, a diretora da agência de publicidade SMP&B, fazia pagamentos do mensalão também para deputados do PMDB. O pagamento da mesada, segundo a revista, teria sido feito a 55 dos 81 deputados do partido.
Acordo descumprido
De acordo com a reportagem Valério ameaça falar, o empresário mineiro conversou três vezes, desde dezembro, com o ex-líder do PMDB na Câmara, que renunciou ao mandato ano passado, acusado de ter recebido R$ 2,1 milhões do valerioduto. Valério teria reclamado do rompimento de um suposto acordo feito com o PMDB pelo qual o partido colocaria na CPI dos Correios um relator capaz de dar proteção a ele, que, em troca, manteria silêncio sobre o envolvimento de peemedebistas com o mensalão. O empresário teria ameaçado abrir o bico porque não tem encontrado abertura do relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), para aliviar sua situação.
Segundo a revista, um ex-auxiliar do PMDB confirmou que Borba tinha encontros freqüentes com Marcos Valério no hotel Sofitel, no bairro do Ibirapuera, em São Paulo. Nesses encontros, além de Borba e Valério, outros dois personagens costumavam aparecer: o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e o advogado Roberto Bertholdo, braço-direito de Borba e então membro do conselho de administração de Itaipu.
Entre setembro de 2004 e março de 2005, os quatro fizeram pelo menos quatro reuniões no Sofitel. O ex-auxiliar do PMDB, que conversou com Veja sob a condição de ficar no anonimato, nunca participou das reuniões, mas sabe que, depois delas, Borba voltava para Brasília e, numa saleta ao lado de seu gabinete de líder, recebia filas de deputados do PMDB. Os deputados, segundo ele, entravam na saleta um a um, nunca em grupo. O entra-e-sai ocorria quase sempre à noite.
Homem da mala
De acordo com a reportagem, Bertholdo era o principal operador do mensalão dentro do PMDB. Um ex-aliado do advogado, em conversa de quase cinco horas com Veja, teria contado detalhes da operação e confirmado que a mesada era distribuída a 55 peemedebistas, todos pertencentes à base do governo. A mesada variava entre R$ 15 mil e R$ 200 mil, conforme o cacife do deputado mensaleiro.
O ex-aliado de Bertholdo também conta que o advogado dizia não temer ser pego com tanto dinheiro vivo na mão alegando agir em nome do governo. Na semana passada, Veja teve acesso a um conjunto de gravações de conversas do ex-consultor de Itaipu em que aparecem os bastidores de uma negociação com o apresentador Ratinho, ex-deputado federal pelo Paraná e amigo de Borba.
As gravações, que somam quase 200 horas, foram realizadas em 2004 pelo advogado Sérgio Renato Costa Filho, então sócio de Bertholdo no escritório Bertholdo & Costa Advogados. As gravações teriam sido gravadas pelo próprio Costa Filho.
Ratinho
Em um dos trechos das gravações, Bertholdo revela ao sócio que está intermediando um acordo entre Ratinho e o PT para que o apresentador fale bem do partido em 2004. "O PT topou pagar. Cinco paus", diz o advogado. A polícia acredita que "cinco paus" sejam 5 milhões de reais. Em outro trecho, Bertholdo informa que a negociação conta também com a presença do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
Itaipu
"Como era maquinista do trem pagador do PMDB, Bertholdo priorizava seu partido quando surgia, digamos assim, um conflito de interesses. Um caso emblemático ocorreu em Itaipu, onde Bertholdo foi conselheiro de 2003 a fevereiro de 2005. Em uma das conversas gravadas pelo sócio, Bertholdo diz que o diretor-geral de Itaipu, o petista Jorge Samek, cobrou 6 milhões de dólares de propina da empresa Voith Siemens para perdoar uma dívida de 200 milhões de dólares para com a estatal. Ele fica uma fera ao saber que o PMDB fora excluído da negociata. 'Temos que pegar pelo menos três', diz Bertholdo", aponta um dos trechos da reportagem.
Segundo a revista, a Voith Siemens tinha um negócio de quase US$ 200 milhões com Itaipu e teve uma dívida sua com a estatal perdoada de um modo heterodoxo.
"Em 2000, a Voith Siemens comprometeu-se a entregar duas novas turbinas para Itaipu, num negócio de 184,6 milhões de dólares, mas não conseguiu cumprir o prazo. Sofreu uma multa de 2,6 milhões de dólares, que foi devidamente paga, mas também tinha de sofrer outra multa, de 18,6 milhões de dólares. A multa gorda, porém, foi graciosamente perdoada e o prazo de entrega das turbinas foi estendido. O mimo saiu na forma de um despacho, de três páginas, assinado pelo diretor-geral Jorge Samek, amigo do presidente Lula. O novo prazo venceu em setembro do ano passado, mas também não foi cumprido. Aliás, até agora Itaipu espera as turbinas da Voith Siemens - e a multa por esse atraso interminável está hoje em 9 milhões de dólares, mas nem um tostão foi pago", diz a revista.
Procurado por Veja, Samek refutou a acusação de pegar propina. "Jamais fiz qualquer acordo nesse sentido", afirma. "Trata-se de um absurdo, uma infâmia, um crime contra a minha honra." A Voith Siemens, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que "não paga propina a nenhuma instituição, pessoa jurídica ou física".
Advogado em maus lençóis
Bertholdo renunciou ao cargo de conselheiro de Itaipu em fevereiro do ano passado e está preso há quatro meses, acusado pela Polícia Federal de grampear um juiz federal e de torturar seu ex-sócio Sérgio Renato Costa Filho, no início de 2005, numa tentativa de reaver as fitas nas quais faz algumas das confidências relatadas na reportagem. O advogado também é acusado de tráfico de influência e lavagem de dinheiro.
Segundo a revista, a acusação de lavagem de dinheiro indica que a relação pecuniária entre Bertholdo e Ratinho tem pelo menos um antecedente. Bertholdo é acusado de lavar R$ 200 mil para Ratinho, espalhando o dinheiro em contas de funcionários, amigos e colaboradores do apresentador. A Polícia Federal e o Ministério Público, que investigam o caso, suspeitam que o dinheiro era pagamento ao apoio de Ratinho a algum político assessorado pelo homem da mala do PMDB.
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