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Antero vai da crítica à autocrítica

Congresso em Foco

27/11/2005 | Atualizado às 20:16

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Edson Sardinha e Ricardo Ramos

Em 2004, pouca gente causou tanto embaraço ao Palácio do Planalto quanto o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT). Ele esteve por trás da primeira crise do governo Lula, o caso Waldomiro Diniz, ao divulgar, por meio da revista Época, o vídeo em que o ex-assessor da Casa Civil cobrava propina do bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Na presidência da CPI do Banestado, envolveu-se numa disputa política com o relator, deputado José Mentor (PT-SP), pelo rumo das investigações. A comissão terminou sem apresentar um relatório final, mas as apurações respingaram no presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, acusado de evasão de divisas e crime contra o sistema financeiro.
 
De lá pra cá, Antero cedeu o papel de franco-atirador a atores da própria base governista. O tiroteio contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, partiu de ex-assessores do petista em Ribeirão Preto, enquanto o mensalão foi denunciado por uma das principais lideranças aliadas, o deputado cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

De volta ao Senado, após quatro meses de licença médica, o senador se dedica agora ao exercício da crítica e da autocrítica. "O governo tem sido incompetente para governar e a oposição para opor", resume. O tucano é velho conhecido dos petistas. Já foi filiado ao PT e chegou a ser liderado, na Constituinte, pelo então deputado Lula.

Nesta entrevista exclusiva ao Congresso em Foco, Antero aponta os principais equívocos da oposição, em particular, do PSDB: evocar mais a governabilidade do que o PT, defender mais Palocci do que os petistas, manter-se distante dos movimentos sociais e esperar o clamor das ruas para pedir o impedimento de Lula. Na avaliação do senador, a oposição desperdiçou, em agosto, a oportunidade de pedir o impeachment logo após o depoimento de Duda Mendonça na CPI dos Correios. Agora, lamenta, não há mais disposição política para isso.

"Ali estava alguém que participou das vísceras do PT, era o intestino do PT falando. Não tinha por que não entrar (com o pedido de impeachment). Reconheço que poderíamos até ter dificuldade nas ruas, mas, por amor à verdade, era melhor. (...) Quer dizer que, se o presidente está com uma certa popularidade na rua, com a sociedade dividida pelo menos, como hoje, então pode roubar?", critica.

A autocrítica do tucano em nada diminui, entretanto, os seus ataques aos petistas. "O governo Lula aparelhou o Estado para roubar, acreditando que, com isso, estaria ajudando a organizar os trabalhadores. Isso está muito claro e as CPIs trataram de demonstrar isso", acusa.  Na avaliação dele, a sociedade começa a perceber isso e vai se manifestar excluindo Lula do segundo turno das eleições do ano que vem. "O PT 'malufou' na sua prática. E agora ele já está imitando o Maluf em sua rejeição. Lula vai chegar, no primeiro turno, naquele velho patamar de 15% a 20%.", completa.

No início do mês, o senador subiu à tribuna para pedir a cabeça de Palocci, até então preservado pelos tucanos. Na semana seguinte, criticou a própria bancada por decidir não questionar Palocci sobre as denúncias de corrupção no depoimento à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

Segundo ele, o PSDB não pode defender essa política econômica, sob o risco de perder a eleição. "(Em 2002) Serra era o candidato que representava a política desenvolvimentista. Era o candidato contra Lula mas também contra o malanismo", acredita.

Na avaliação do tucano, apenas os bancos querem a manutenção do ministro da Fazenda. "Quem sustenta o Palocci são os banqueiros. Os banqueiros têm força na mídia. Os banqueiros têm força nos partidos políticos, todos eles. Os banqueiros têm força no governo, qualquer que seja ele. (...) São os donos do dinheiro do mundo que defendem o Palocci. Não me venha dizer que é o mercado. Qual mercado? A agricultura vai mal, a economia vai mal, a pecuária vai mal, não há uma política de investimentos", critica.

Congresso em Foco - O senhor presidiu uma CPI que acabou os trabalhos sem votar um relatório final. A CPI do Mensalão teve o mesmo desfecho. O senhor acredita que isso pode ocorrer também com as CPIs dos Bingos e dos Correios?
Antero Paes de Barros -
Há uma diferença entre a CPI do Banestado e a do Mensalão. Em determinado momento da CPI, a gente percebeu que poderia ocorrer o que ocorreu depois. Aprovamos um requerimento para que, assim que os documentos (das investigações) chegassem, pudessem ser encaminhados à Polícia Federal, ao Ministério Público, etc e tal. Então, mesmo a CPI do Banestado não tendo um relatório final aprovado, todas as conclusões foram encaminhadas ao Ministério Público. Mas não apenas isso. Assim que as informações dos sigilos dos Estados Unidos chegavam, elas eram encaminhadas ao MP, à PF, ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e à Receita. Isso possibilitou resultados importantes. A Receita já recuperou R$ 5 bilhões como conseqüência dessas informações prestadas com autorização legal na CPI do Banestado. O Ministério Público continua indiciando pessoas. O indiciamento dos doleiros feito pela Operação Beacon Hill é resultado de um trabalho encaminhado pela CPI. A CPI do Mensalão não quis sequer obter os documentos. Como é que se investiga a existência do mensalão se não se quebra o sigilo dos deputados denunciados?

Por que isso ocorreu? Houve corporativismo dos parlamentares?
Esses sigilos tinham que ter sido quebrados. Ninguém quebrou. Apareceram outros fatos. Foi encontrado na CPI dos Correios, por exemplo, um cheque de R$ 120 mil do Marcos Valério para o deputado José Mentor (PT-SP, relator da CPI do Banestado). Por que não se quebrou o sigilo da J. Mentor & Associados (escritório de advocacia do deputado)? Mas havia deliberação de a CPI concluir como concluiu.

Por quê? Houve um grande acordo na CPI do Mensalão?
Não sei. Não vivenciei a CPI. Aliás, isso só foi possível porque a CPI do Mensalão era a única em que o governo tinha ampla maioria. E o governo fez funcionar essa ampla maioria. A qualidade da CPI é reveladora dos interesses de Lula para não apurar nada.

O senhor acha que as CPIs dos Correios e do Bingos não correm esse risco?
Não. Até porque já vejo resultados práticos indiscutíveis nas duas CPIs. Já há uma consciência nacional: o crime de Santo André não foi crime comum. Em crime comum morre um, não morrem oito testemunhas. A questão da Gtech está muito clara ali, o envolvimento do (Rogério) Buratti (ex-assessor do ministro Antonio Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto) também. As ligações perigosas de Palocci estão evidentes, assim como o modus operandi do PT. A CPI dos Bingos tem conseguido uma coisa muito pedagógica: mostrar que o PT é o partido do jogo, do lixo, do ônibus e do bingo.

Mas a CPI dos Bingos não fugiu do fato gerador?
Não vejo assim. Ah, mas o (Vladimir) Poleto (ex-assessor de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto) não tinha nada a ver. Tinha! O Poleto veio, e no depoimento apareceu a doação do bingo. Se juntarmos essas peças, elas têm origem na questão dos jogos. Se juntarmos as peças e rememorarmos a história, vamos perceber que o Waldomiro (Diniz, ex-assessor da Casa Civil) foi atrás do negócio, que a crise da Gtech é uma coisa ligada aos jogos. Havia um edital acertado pelo Carlinhos Cachoeira (empresário do ramo de jogos) e Waldomiro Diniz, com a presença de dois grupos ali claramente identificados: o do Dirceu e o do Palocci. Como isso não tem origem no jogo? Tem. O presidente Lula assinou uma mensagem para legalizar o jogo aqui, e a encaminhou ao Congresso. Na história do Brasil, de 1.500 até o governo Lula, quem tratava a questão da loteria era a Caixa Econômica. O governo Lula mandou para o Dirceu (na Casa Civil) tratar. Há uma coincidência: a Casa Civil, o José Dirceu e o Waldomiro Diniz tratando da questão do bingo. A mensagem é resultado dessa articulação. Mas o poder estava dividido entre Dirceu e Palocci. Como não tem nada a ver? Tem tudo a ver, tem tudo a ver sim.

Mas qual seria a interface do caso Celso Daniel com os bingos?
A interface está sendo apurada. Quando o Poleto veio aqui, ainda não havia uma definição. Aí surgiram os angolanos, episódio que fez esse casamento. E estão surgindo empresários lá de Ribeirão Preto. O Roberto Carlos Kurzweill, que é o dono do carro blindado, foi beneficiado pelo Banco do Brasil, sob o comando do doutor Palocci. E assim por diante. Se isso não tem nada a ver, então...

O senhor considera que as duas CPIs, a dos Correios com quatro sub-relatorias, e a dos Bingos, que tem vários fatos conexos investigados, vão conseguir chegar, até abril, à conclusão de que houve corrupção no governo Lula?
Não vou dizer que o presidente Lula é corrupto, de pegar dinheiro e botar no bolso. Mas, que há corrupção no governo Lula, há. E sem ser suposta. Está comprovada a corrupção no governo Lula. O governo Lula aparelhou o Estado para roubar, acreditando que, com isso, estaria ajudando a organizar os trabalhadores. Isso está muito claro, e as CPIs trataram de demonstrar isso. Banqueiro não é tão bom assim para dar dinheiro para o Valério e não cobrar o empréstimo dele depois. A melhor definição que ouvi na vida é que o banco lhe dá guarda-chuva quando faz sol e o toma quando começa a chover. Evidente que não era empréstimo. O banco era utilizado para ser beneficiado em outras questões do governo. Ainda não se aprofundou devidamente a questão da previdência. Os bancos aumentaram extraordinariamente o lucro deles no governo PT. Daí esse esforço todo de manter o Palocci.

Quem tem sido mais competente em toda essa crise: o governo ou a oposição?
O governo tem sido incompetente para governar e a oposição para opor.

Em que momentos a incompetência da oposição se manifesta?
O partido tem que ter o direito da crítica e o direito da autocrítica. Eu vejo o PSDB como um grande partido social-democrata. Mas vejo que ele tem de evoluir, para estar nos movimentos sociais, nas universidades, nas fábricas, nos movimentos trabalhistas, com as donas-de-casa e os operários. Não tem por que os tucanos não estarem nas universidades. Não tem por que não estar discutindo com a juventude políticas públicas para o país e para o mundo.

O senhor considera que a falta de apoio desses segmentos foi decisiva para a oposição não pedir o impeachment de Lula?
Sim, porque fatos para o impeachment existem. O Brasil hoje está vivendo o seguinte dilema: para fazer o impeachment, o presidente tem que estar totalmente enfraquecido na rua. Não é essa a minha convicção. Se tem um fato ilícito - e existem muitos -, por que não fazer o impeachment? Quer dizer que, se o presidente está com uma certa popularidade na rua, com a sociedade dividida pelo menos, como hoje, então pode roubar? Que não tem problema, não se faz o impeachment. Tenho até convicção de que Lula não é homem de pegar dinheiro para pôr no bolso. Mas é um homem que permitiu que o partido aparelhasse o Estado para fazer o fortalecimento do PT. A Arena foi o maior partido do Ocidente e o PT quis ser o mais rico. O Valério nada mais é do que a irrigação de dinheiro das empresas públicas para o PT. Esse é o valerioduto.

Por que, então, o PSDB não se posicionou a favor do impeachment? Foi por medo da reação da sociedade?
O partido defende a convicção de que, para fazer impeachment, tem que haver o apoio da rua. Não é só o PSDB, não. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) também pensam assim. Há um receio por entender que não basta só se caracterizar o ato ilícito. Também tem que ter apoio popular.

Não seria até um receio de que essa posição possa se reverter nas eleições de 2006 contra o partido, com ele assumindo uma pecha de golpista?
Não acho que seja isso. Golpista? Então, se formos pensar assim, que impeachment é golpismo, teremos que fazer uma moção de desculpas públicas ao Collor. Fez muito menos do que o Lula e foi afastado. É que o Collor não tinha a capilaridade nos movimentos socais. O que salva o PT é o fato de ter o braço político dele na CUT (Central Única dos Trabalhadores) e no MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra). A CUT é o movimento sindical do PT, não é a Central Única dos Trabalhadores. É Central Única dos Trabalhadores petistas. O MST é o movimento dos trabalhadores rurais petistas. E esses movimentos se prejudicaram na medida em que se submeteram às ordens do PT. O partido chega ao governo e não consegue executar uma política que eles sempre defenderam. Ao mesmo tempo, faz mais de 20 anos que eles acreditam no Lula. Fica difícil, de uma hora para outra, eles acreditarem que tudo mudou, que o pessoal resolveu se apropriar do Estado.

O PSDB, então, está se caracterizando como um partido elitista, que não consegue chegar até as massas?
Não. Eu acho que precisa melhorar. Além de ter essa importante política de quadros, o PSDB tem os melhores nomes da política nacional. Mas é importante também ter políticas públicas para esses setores (sociais). Acredito que, agora, o partido vai viver um momento importante, fazer com que o filiado seja militante e que tenha atuação em diversos movimentos.

Nessa linha de autocrítica, quais foram os principais erros da oposição durante a crise?
Depois da entrevista do Duda Mendonça aqui, tínhamos que, imediatamente, ter entrado com o impeachment. Ali estava alguém que participou das vísceras do PT, era o intestino do PT falando. Não tinha por que não entrar (com o pedido de impeachment). Reconheço que poderíamos até ter dificuldade nas ruas, mas, por amor à verdade, era melhor. Mesmo quando difícil, é melhor falar a verdade.

O PSDB tem tido uma posição um tanto quanto dúbia quanto ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci. No início do mês, o senhor pediu a demissão do ministro em um discurso contundente. Em seguida, discordou publicamente da posição da bancada de não questionar Palocci na CAE sobre as denúncias de corrupção. Na última semana, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) disse que é preciso ter novos depoimentos para, só então, ouvir Palocci na CPI. Como o senhor vê essas contradições?
São posições divergentes que ocorrem em partidos democráticos. Se você perguntar para o Arthur Virgílio se a convicção dele é a melhor, ele vai dizer que sim. Se você perguntar para mim, acho que a minha é a melhor.

Por que a convicção do senhor é melhor, então?
A Alemanha manteria o seu ministro da Fazenda com essas denúncias? A Inglaterra manteria o seu ministro da Fazenda com essas denúncias? A França e os Estados Unidos manteriam? Em qualquer país civilizado, 10% dessas denúncias seriam suficientes para bani-lo da vida pública. Ah, mas elas não estão comprovadas. No mínimo, afaste-o. O governo errou com Zé Dirceu, quando não o afastou no episódio Waldomiro. Eu também pedi, no dia 13 de fevereiro de 2004, o afastamento de Dirceu. Hoje, o próprio Dirceu reconhece que deveria ter se afastado (naquela época) e o Lula reconhece que deveria tê-lo afastado. O Lula hoje está falando que o Palocci é o Ronaldinho Gaúcho, insubstituível e tal. Vai se arrepender no futuro. Vai se arrepender, porque, na verdade, a proteção ao Palocci é dos banqueiros. Quem sustenta o Palocci são os banqueiros. Os banqueiros têm força na mídia. Os banqueiros têm força em todos os partidos políticos. Os banqueiros têm força no governo, qualquer que seja ele.

E tiveram no Fernando Henrique também...
Em qualquer que seja o governo. São os donos do dinheiro do mundo que defendem o Palocci. Não venha me dizer que é o mercado. Qual mercado? A agricultura vai mal, a economia vai mal, a pecuária vai mal, não há uma política de investimentos em portos, não há investimentos em rodovias, não há investimentos em ferrovias, não há uma política de geração de empregos, o Estado não participa de uma política indutora de desenvolvimento, então, o mercado vai mal. Qual mercado que vai bem? Só se for o Itaú, o Bradesco, o Banco de Boston. O Boston nunca ganhou tanto dinheiro, coincidentemente depois da assunção de (Henrique) Meirelles na presidência do Banco Central. Vocês viram o que eles fizeram com o Banco do Brasil? Ele virou uma subtesouraria do PT. Essas pessoas são fortes e têm influência para manter o Palocci. Têm influencia para fazer uma massificação. O Palocci é uma figura simpática. É gentil. Quando vem ao Congresso, mesmo quando foi chamado, trata bem os seus interlocutores. Ele faz uma política econômica que não é dele. Ele manteve lá todos os auxiliares do Malan, numa política que precisava evoluir. O PSDB não pode defender essa política econômica, sob o risco de perder a eleição.

Uma política econômica que parte da oposição ainda continua defendendo...
Uma parte, sim. Ao me posicionar da forma com que me posiciono, creio estar mais sintonizado com o sentimento do PSDB.

Por quê?
Porque prevaleceu, na convenção de 2002, que Serra era o candidato que representava a política desenvolvimentista. Era o candidato contra Lula mas também contra o malanismo. Malan foi importante na história política e econômica do país. Um homem honrado, sério, eficiente, responsável pela estabilidade, mas tinha que haver, naquele momento, um delta plus. E esse plus, sem perder de vista a Lei de Responsabilidade Fiscal e o controle do gasto público, é realmente o comando do Estado para direcionar uma política de maior desenvolvimento, investimentos sociais, de resgate da dívida social. Então, eu acho que o partido deveria pensar muito nisso. Eu não tenho dúvida: na convenção, novamente, vai vencer a definição de uma política muito mais à frente do que essa. Palocci só não foi irresponsável. Ele compreendeu que o PT não entende nada de coisa nenhuma e preferiu trabalhar com a equipe do Malan. Esse é o grande mérito dele, além de ser habilidoso, gentil, educado e falar macio. Mas isso não justifica a continuidade dele. Mas, tudo bem, não acho que a função da oposição seja indicar ou demitir ministro. Eu não sou médico, nem psicólogo, sou jornalista, mas o PSDB está com um problema. O PSDB fala mais em governabilidade do que o PT, que está no governo. O Palocci está caindo, e não teve nenhuma denúncia nossa, da oposição. Todas as denúncias foram dos colegas dele, da República de Ribeirão. Agora, não dá para o PSDB ficar preocupado com a governabilidade. E nem acho que exista alguém insubstituível. Eu acho que as pessoas são substituíveis.

O PT acaba fazendo mais oposição do que o próprio PSDB ao governo em alguns casos?
Nesse caso do Palocci, pelo menos, sim.

Se o senhor pede o impeachment do Lula e a demissão do ministro Palocci, o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) também não deveria, pelo mesmo raciocínio, ser cassado por causa do caixa dois em sua campanha ao governo de Minas em 1998?
Acho que as denúncias de caixa dois não deixam ninguém confortável. Mas é evidente que ele não pode ser cassado por isso.

Por que não?
Por vários motivos. Primeiro, a eleição era de governador e hoje ele exerce o mandato de senador da República. Segundo, a denúncia contra o Azeredo é muito diferente da denúncia do PT. Ficou comprovado que (no caso de Azeredo) houve cheque e empréstimo, segundo apurou a CPI dos Correios, embora esses documentos ainda não estejam na comissão. Mas é evidente que, naquela eleição, a contrapartida seria o contrato de Valério com o governo (de Minas). Azeredo não ganhou o governo. Então, o que se quer julgar é um crime impossível. Como alguém que conhece como funciona a questão da política - eu já fui duas vezes candidato a senador -, acho que a gente tem que mudar a lei. Nós temos que estabelecer o financiamento público de campanhas. O responsável por isso, segundo a legislação eleitoral, é o comitê financeiro arrecadador da campanha. Tudo ocorreu lá. Como ele tinha uma ligação política - e até hoje o PSDB de Minas tem com Clésio Andrade (atual vice-governador de Minas, do PL) - e o Marcos Valério era sócio, inclusive, dele à época, isso ocorreu. Mas o Azeredo não negou isso, não mentiu. Ele disse que ocorreu, mas que não sabia e que não autorizou. E o tesoureiro dele veio aí (na CPI dos Correios) e confirmou a versão. Agora, que é uma coisa chata, é. Mas acho o Eduardo Azeredo uma pessoa inteiramente íntegra. Confio integralmente no que ele disse e não há nenhuma prova de que ela tenha mentido. Ele só poderia sofrer alguma coisa em relação ao decoro se tivesse mentido, não é o caso.

Para esse mandato, o senhor considera que o senador Eduardo Azeredo não deve sofrer qualquer tipo de sanção?
Não há razão nem relação para isso. Até porque, de 1998 a 2002, ele ficou sem mandato. Ganhou a eleição para o Senado em 2002.

O senhor se surpreendeu com a citação do nome do deputado José Mentor no relatório da CPI dos Correios como beneficiário do valerioduto?
Não, não.

O senhor e ele tiveram vários embates na CPI do Banestado. O senhor percebeu algum indício de omissão deliberada?
Para defender o PT, sim. Mas não sabia que ele defendia o Banco Rural. O Mentor fez um requerimento para quebrar (o sigilo de) todos os bancos. Eu achei que aquilo era chantagem para fazer caixa para o PT. Então, eu não tive nem a preocupação de quebrar o sigilo. Por quê? Porque a coisa mais normal do mundo é banqueiro ter dinheiro. Ah, grande escândalo banqueiro ter dinheiro! Escândalo seria motorista ter dinheiro, um operário ter dinheiro. Banqueiro ter dinheiro é normal. Quebrar sigilo de 97 bancos de uma vez só? A gente não analisou muitos bancos. Não sabia que (Mentor) estava recebendo por isso. Isso apareceu agora na CPI dos Correios. Se não aparecesse isso, a gente ficaria sem saber. Eu sabia, entretanto, que ele defendia o Paulo Maluf, o (Antonio) Cipriani (presidente da Transbrasil) e o Roberto Teixeira (empresário, compadre de Lula) e que evitava a vinda do doleiro Toninho da Barcelona. Agora, sinceramente, do Banco Rural, eu não sabia. Nem que ele tinha recebido dinheiro para mandar picotar documentos do Banco Rural.

A demora do PSDB em definir o seu candidato à sucessão presidencial do ano que vem não fortalece a candidatura de Lula?
O Lula tem duas possibilidades: ou não vai disputar a reeleição, o que é provável, ou, se concorrer, não vai ao segundo turno. Acho que o Lula nem vai ao segundo turno.

O senhor vê um segundo turno entre quem?
Não sei se terá segundo turno. Mas acho muito difícil Lula ir ao segundo turno.

Mesmo com as pesquisas indicando que somente o candidato José Serra poderia vencer Lula hoje num eventual segundo turno?
A melhor das pesquisas para o Lula sempre foi a da CNT (Confederação Nacional dos Transportes). Essas pesquisas estão indicando que ele atingiu um patamar semelhante ao do Maluf. O PT malufou na sua prática. E agora ele já está imitando o Maluf em sua rejeição. Lula vai chegar, no primeiro turno, naquele velho patamar de 15% a 20%. Eu acho que os donos do dinheiro do mundo vão largar o Lula em junho.

Por quê?
Imagine um Lula reeleito! Imagine o que seria deste país! Não sobra pedaço para ninguém juntar depois. Os donos do dinheiro do mundo, que são os principais apoiadores do Lula hoje, não terão por que segurar o governo até o dia das convenções.

O senhor ainda acredita na possibilidade do impeachment?
Eu ainda vejo possibilidade, mas não vejo disposição para isso. Não há disposição política.

O senhor acha que o PFL assumiu uma postura mais contundente do que o PSDB?
Não. Não vejo isso não. No mesmo nível.

Mas eles têm elevado o tom das críticas (em relação ao governo).
Mas o PSDB também. Tanto é que a população identifica bem isso. E em função dessa identificação, o PSDB está recebendo esse apoio nas pesquisas. O que está claro é que a população quer preferencialmente um candidato do PSDB para governar o país. A população não vai fazer aventura. Isso é o que está claro.

Que proposta o PSDB poderia levar para as eleições do ano que vem?
A origem para a elaboração da proposta será o termo que a gente discutiu na campanha do Serra. O país tem que se preocupar com emprego. Para se preocupar com emprego, tem que se preocupar com desenvolvimento. Para se preocupar com emprego e desenvolvimento, tem que injetar dinheiro na economia brasileira. Tem que ter uma política de regulação para as agências, pois sem regras definidas você não atrai o capital para cá. Tem que ter uma política para estimular a exportação brasileira. A agricultura brasileira está a exigir uma intervenção do Estado brasileiro. O Brasil não pode desdenhar o agronegócio, não dá para brincar com isso. Tem que ter uma política séria nesse sentido. Tem que ter uma política do grande resgate, que é a questão da dívida social. Nós não vamos sair disso, se não investirmos maciçamente na educação. O Brasil tem problema no ensino fundamental, tem problema para qualificar melhor no ensino médio e tem problema também no curso universitário. Tem que ampliar essas possibilidades da educação pública. Fora isso, tem também de aumentar a rede de proteção social estabelecida pelo governo FHC.

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