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DISPUTA DE PODER
Congresso em Foco
5/6/2025 | Atualizado 6/6/2025 às 11:19
Escolhido para assumir a liderança da bancada do PT na Câmara no exercício de 2025, o deputado Lindbergh Farias (RJ) adotou como marca de sua passagem pelo cargo a participação no cerco ao ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados na ação penal que trata dos indícios de golpe de Estado em 2022. Requerimentos às autoridades judiciais pedindo providências contra personagens que fizeram parte do inquérito tornaram-se parte da rotina do parlamentar.
O líder petista já coleciona algumas vitórias: sua provocação levou a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a se manifestar contra a sustação integral da ação penal contra Alexandre Ramagem (PL-RJ), co-réu de Bolsonaro. Ele também acionou a Procuradoria-Geral da República na série de movimentações que resultou na abertura do inquérito policial que investiga suspeitas de coação processual por parte do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
A cruzada de Lindbergh contra o grupo político de Bolsonaro marca seu retorno à relevância no Congresso. Membro de peso da tropa de choque da ex-presidente Dilma Rousseff no Senado, o líder petista se recupera de uma crise de imagem iniciada há pouco mais de uma década, que por pouco não resultou no fim de sua carreira política.
Vidraça na Lava-Jato
Eleito senador em 2010, Lindbergh Farias assumiu o mandato no ano seguinte como um dos nomes mais bem sucedidos do PT. Seu currículo contava com a presidência da União Nacional dos Estudantes (período em que liderou o Movimento das Caras Pintadas), dois mandatos como deputado federal e dois como prefeito da cidade de Nova Iguaçu (RJ).
Seu pleito, porém, foi conturbado: seu segundo mandato na gestão municipal foi alvo constante de denúncias de corrupção. No início de 2010, Lindbergh ocupou a posição de prefeito mais processado da história do município. Até então, os inquéritos não surtiram grande efeito sobre sua imagem: sua cadeira no Senado foi garantida com mais 4 milhões de votos válidos do Rio de Janeiro.
A vinculação de seu nome aos processos judiciais se tornou uma constante nos noticiários, culminando na perda de sua popularidade. Em 2014, acumulando resultados misturados na Justiça, Lindbergh viu seu eleitorado encolher: disputando o governo do Rio de Janeiro com o segundo maior tempo de televisão no estado, o então senador colheu apenas pouco mais de 700 mil votos, ficando em quarto lugar.
Nos anos seguintes, a situação escalou: Lindbergh entrou na mira da Operação Lava-Jato. O Ministério Público o acusou de ter recebido R$ 4,5 milhões em propinas da construtora Odebrecht para suas campanhas eleitorais de 2008, para prefeito, e 2010, ao Senado. Em 2017, foi identificado por delatores como "Lindinho" na planilha de supostos repasses da empresa. O parlamentar sempre negou todas as acusações.
Estigmatizado pelas denúncias, Lindbergh foi derrotado em sua campanha pela reeleição ao Senado: as duas cadeiras do Rio de Janeiro foram destinadas a candidatos apoiados pelo então presidenciável Jair Bolsonaro: assumiram Flávio Bolsonaro, pelo extinto PSL, e Arolde de Oliveira, pelo PSD. Arolde viria a falecer na pandemia, e sua vaga hoje é ocupada por seu suplente, Carlos Portinho (PL).
Ostracismo
O ano de 2019 foi o pior momento na carreira política de Lindbergh: sem mandato, foi condenado por improbidade administrativa em um dos processos relativos à sua gestão em Nova Iguaçu, ficando inelegível. Em novembro, foi abertamente hostilizado por passageiros em um voo de São Paulo ao Rio de Janeiro, onde foi chamado de "ladrão".
Mesmo após os dois choques eleitorais seguidos, Lindbergh disputou sub judice uma cadeira como vereador na cidade do Rio de Janeiro de 2020. A campanha foi motivo de uma série de disputas eleitorais, mas no fim saiu vencedor com pouco mais de 24 mil votos, e sua inelegibilidade foi afastada por entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Empossado em 2021, Lindbergh aproveitou o retorno ao mandato para trabalhar na reconstrução de sua base eleitoral. O resultado foi modesto, mas garantiu sua cadeira na Câmara dos Deputados: ele foi o oitavo deputado mais votado pelo Rio de Janeiro em 2022, com mais de 150 mil votos.
De vidraça a vidraceiro
De volta à Câmara dos Deputados, Lindbergh não demorou para ver o retorno de sua influência. O governo logo o escolheu como vice-líder no Congresso Nacional, e sua voz passou a ser uma das mais ativas em discussões orçamentárias, em especial na crítica à política de alta de juros adotada pelo Banco Central. Na virada de 2024 e 2025, a bancada do PT o escolheu como líder.
A sua ascensão à liderança da bancada petista coincidiu com a apresentação da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Bolsonaro no STF, processo do qual o deputado dá como certo o resultado da prisão do ex-presidente e de seus aliados. O andamento da ação se tornou sua principal bandeira.
O deputado apenas acompanhou o avançar do processo até meados de abril, quando o PL apresentou à Câmara um requerimento solicitando a sustação da ação penal contra o deputado Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), acusado de ter utilizado a instituição durante o governo Bolsonaro para espionar rivais e de participar da trama golpista no período eleitoral de 2022.
Em resposta à demanda do PL, Lindbergh oficiou o STF questionando a viabilidade da sustação. A 1ª Turma respondeu alegando que apenas parte da ação, relativa aos atos posteriores à diplomação de Ramagem, poderia ser interrompida. Apesar da vitória no Judiciário, o ato de Lindbergh foi retaliado na Câmara, que aprovou um relatório pela sustação completa da ação.
No fim de maio, Lindbergh arremessou outra pedra ao denunciar Eduardo Bolsonaro à PGR por coação no processo, graças à sua articulação no congresso dos Estados Unidos para aprovar sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal contra seu pai. O parquet abraçou a tese do deputado e pediu a abertura de um inquérito policial, solicitação acatada pelo STF.
Com Eduardo Bolsonaro na mira da PF, o líder do PT reforçou a ofensiva, representando contra ele no Conselho de Ética e pedindo também uma investigação contra o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Filipe Barros (PL-PR), a quem acusa de colaborar com a articulação de Eduardo.
O petista ainda pediu a abertura de um novo inquérito contra Jair Bolsonaro, a quem acusa de obstrução de processo por ter ligado ao senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), testemunha de defesa na ação penal, logo antes de seu depoimento ao STF.
Lindbergh também representou na PGR contra a deputada Carla Zambelli (PL-SP), tendo solicitado sua prisão preventiva após a fuga à Europa da parlamentar, condenada a 10 anos de prisão por invadir os sistemas virtuais do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). No mesmo dia, cobrou a procuradoria para que solicitassem a aplicação de tornozeleira eletrônica em Bolsonaro.
Antes alvo de críticas de opositores diante das denúncias e processos judiciais contra seu nome, Lindbergh Farias sai de seu ciclo de ostracismo na posição de "vidraceiro" de sua bancada, endurecendo o embate e assumindo papel de protagonismo nas ações que envolvem a responsabilização de aliados do ex-presidente no Congresso e no Judiciário.
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