Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Política
Congresso em Foco
16/6/2025 16:27
Em 16 de junho de 1954, a Câmara dos Deputados rejeitou o pedido de impeachment do presidente Getúlio Vargas. Apresentado sob acusações controversas e frágeis do ponto de vista jurídico, o processo não prosperou, mas serviu para alimentar um ambiente de desestabilização institucional. Esse modelo - de uso político do impeachment para enfraquecer governos - voltaria a se repetir em momentos-chave da história brasileira, como na queda de João Goulart e no afastamento de Dilma Rousseff.
O pedido foi protocolado em 1953 pelo deputado Wilson Leite Passos (UDN), com base na recém-aprovada Lei do Impeachment (Lei nº 1.079/1950). Vargas era acusado de crime de responsabilidade por supostamente beneficiar o jornal Última Hora com recursos do Banco do Brasil, além de ser criticado por sua política trabalhista, como o aumento de 100% do salário mínimo, e sua aliança com setores nacionalistas e trabalhistas.
O relatório contrário à denúncia, assinado pelo deputado Vieira Lins (PTB), sustentou que não havia elementos jurídicos que justificassem o afastamento do presidente. Ainda assim, a oposição forçou a votação em plenário. O resultado da sessão de 16 de junho de 1954 foi:
Mesmo derrotado, o processo ajudou a "criar um clima" de insustentabilidade política. Dois meses depois, sob intensa pressão e após o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, Getúlio Vargas tiraria a própria vida no Palácio do Catete, marcando um dos momentos mais dramáticos da história republicana.
Padrão se repete: da crise de Goulart à queda de Dilma
A instrumentalização política do impeachment observada em 1954 voltaria a ocorrer uma década depois, com o presidente João Goulart. Sem base para um afastamento legal, Goulart foi alvo de acusações semelhantes às que atingiram Vargas: aproximação com sindicatos, defesa de reformas sociais e suposta ameaça à ordem econômica. A pressão culminou no golpe militar de 1964, sem que houvesse qualquer processo constitucional de impedimento. O discurso, no entanto, seguiu o mesmo roteiro: alegações de ilegitimidade, radicalização política e risco institucional.
Em 2016, a presidente Dilma Rousseff foi afastada por impeachment após ser acusada de praticar "pedaladas fiscais" e editar decretos orçamentários sem autorização do Congresso. Juristas e acadêmicos divergem até hoje sobre a existência de crime de responsabilidade. Embora o processo tenha seguido o rito constitucional, parte expressiva da sociedade civil e da classe política interpretou o episódio como uma resposta à crise política, econômica e à perda de apoio parlamentar - e não à prática de um crime claro.
Assim como em 1954 e 1964, o impeachment foi usado como solução política para um impasse institucional, em meio a forte polarização, mobilização midiática e instabilidade econômica.
Os impeachments efetivos: Collor e Dilma
Até hoje, dois presidentes da República foram oficialmente afastados por meio de impeachment:
Fernando Collor de Mello (1992): acusado de corrupção, foi investigado por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apurou o esquema liderado por PC Farias. A tramitação seguiu com forte apoio da opinião pública e respaldo jurídico. Collor renunciou antes da votação final no Senado, mas teve os direitos políticos cassados.
Dilma Rousseff (2016): afastada com base em argumentos fiscais que já haviam sido utilizados por outros governos sem questionamento legal. O julgamento dividiu juristas e é frequentemente citado como um caso de impeachment sem crime claro, com forte componente político.
Legado de 1954: quando o impeachment vira ferramenta de pressão
A tentativa de impeachment de Getúlio Vargas inaugurou um padrão recorrente na política brasileira: o uso do processo legal como meio de fragilizar presidentes impopulares ou desalinhados com forças políticas dominantes. Ainda que juridicamente rejeitada, a denúncia contra Vargas cumpriu um papel estratégico no processo de desgaste político, alimentando uma crise que evoluiu para uma ruptura institucional.
LEIA MAIS
GUERRA NO ORIENTE MÉDIO
Grupo de políticos brasileiros tenta sair de Israel pela Jordânia