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INTERNACIONAL
Congresso em Foco
23/9/2025 12:25
O presidente Lula abriu nesta terça-feira (23) a 80ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, cumprindo a tradição brasileira de inaugurar os debates do organismo desde 1947. Em seu discurso, Lula combinou a defesa da soberania nacional e da democracia com duras críticas ao cenário internacional, em especial às sanções impostas pelos Estados Unidos ao Brasil em meio ao julgamento e à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O discurso foi marcado por recados diretos ao presidente norte-americano Donald Trump, que fala na ONU logo após Lula, e por uma tentativa de reposicionar o Brasil como voz do Sul Global diante de crises simultâneas: a erosão do multilateralismo, os conflitos na Palestina e na Ucrânia, a crise climática e a desigualdade global.
1. Defesa da soberania brasileira diante das sanções dos EUA
Logo no início, Lula reagiu às medidas do governo Trump, que nos últimos dias incluiu autoridades brasileiras e familiares de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) em listas de sanções, revogou vistos e impôs um tarifaço de 50% sobre produtos do Brasil. Sem citar o americano pelo nome, classificou as iniciativas como tentativas de interferência nos assuntos internos do país.
"Não há justificativa para medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia. A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável."
O presidente acusou ainda setores internos de colaborarem com as pressões externas.
"Essa ingerência em assuntos internos conta com o auxílio de uma extrema-direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias. Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil."
Lula buscou reforçar o discurso de defesa da soberania brasileira diante da pior crise diplomática com os Estados Unidos em décadas.
2. Democracia sob ataque e o julgamento de Bolsonaro
Outro ponto central foi a defesa da democracia e do papel do STF no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e 3 meses por tentativa de golpe. Lula procurou legitimar o processo diante da comunidade internacional, respondendo às críticas de Trump e de aliados do ex-mandatário brasileiro.
"Mesmo sob ataque sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia, reconquistada há 40 anos pelo seu povo, depois de duas décadas de governos ditatoriais."
"Há poucos dias, e pela primeira vez em 525 anos de nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado Democrático de Direito. Foi investigado, indiciado, julgado e responsabilizado em um processo minucioso. Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas."
"Nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis. Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela."
Em resposta aos setores internos que defendem a anistia para Bolsonaro e outros acusados de tentativa de golpe, Lula afirmou que "não há pacificação com impunidade".
3. Crise do multilateralismo e necessidade de reforma da ONU
Lula dedicou parte significativa da fala à crítica da ordem internacional. Apontou o enfraquecimento da ONU e o crescimento de práticas unilaterais, como sanções e intervenções militares.
"Este deveria ser um momento de celebração das Nações Unidas. Hoje, contudo, os ideais que inspiraram sua fundação estão ameaçados como nunca."
"O multilateralismo está diante de nova encruzilhada. A autoridade desta Organização está em xeque. Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando regra."
Ele defendeu a reforma do Conselho de Segurança e sugeriu criar um conselho climático vinculado à Assembleia-Geral para monitorar compromissos ambientais. O tom foi de denúncia, mas também de proposta de liderança para que o Brasil seja protagonista na renovação do sistema multilateral.
4. Conflitos internacionais: Gaza, Ucrânia e América Latina
O presidente brasileiro foi duro ao falar sobre a guerra em Gaza, apontando crimes humanitários praticados por Israel contra a população palestina. Embora tenha condenado os ataques do gruop terrorista Hamas, Lula declarou que "nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza".
"Em Gaza, a fome é usada como arma de guerra e o deslocamento forçado de populações é praticado impunemente."
"O povo palestino corre o risco de desaparecer. Só sobreviverá com um Estado independente e integrado à comunidade internacional."
Lula também criticou a escalada armamentista no Oriente Médio e defendeu o diálogo na Venezuela e no Haiti. Sobre a Ucrânia, reiterou que não haverá solução militar:
"No conflito da Ucrânia, todos já sabemos que não haverá solução militar. É preciso pavimentar caminhos para uma solução realista, que leve em conta as legítimas preocupações de segurança de todas as partes."
Na América Latina, reforçou a prioridade brasileira em manter a região como zona de paz, criticando o uso da força letal contra o crime organizado e pedindo mais cooperação no combate ao tráfico de armas e lavagem de dinheiro.
5. Combate à fome, desigualdade e mudança climática
Encerrando o discurso, Lula retomou bandeiras tradicionais de sua política externa: o combate à fome e a defesa do meio ambiente.
"A única guerra de que todos podem sair vencedores é a que travamos contra a fome e a pobreza."
O presidente comemorou a saída do Brasil do Mapa da Fome em 2025 e destacou a criação da Aliança Global contra a fome, lançada no G20 com apoio de 103 países. Cobrou maior compromisso internacional para reduzir dívidas externas de países pobres e aumentar a tributação dos super-ricos.
Na área ambiental, prometeu transformar a COP30 em Belém, que será realizada em novembro, na "COP da verdade".
"O Brasil já reduziu pela metade o desmatamento na Amazônia nos últimos dois anos. Erradicá-lo requer garantir condições dignas de vida para milhões de habitantes da região."
Anunciou ainda o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que pretende remunerar países pela preservação de suas florestas. E defendeu que a ONU assuma protagonismo no combate à crise climática:
"Bombas e armas nucleares não vão nos proteger da crise climática. É chegado o momento de trazer a mudança do clima para o coração da ONU."
Um discurso de afirmação e confronto
Com referências às mortes recentes do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica e do papa Francisco, que, segundo Lula, encarnaram valores humanistas, o presidente encerrou o discurso com uma defesa do multilateralismo e da multipolaridade:
"O século 21 será cada vez mais multipolar. Para se manter pacífico, não pode deixar de ser multilateral. O Brasil confere crescente importância ao Sul Global. Nossa missão histórica é tornar a ONU novamente portadora de esperança e promotora da igualdade, da paz e do desenvolvimento sustentável."
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