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ELEIÇÕES 2026
Congresso em Foco
19/10/2025 | Atualizado às 11:39
A anunciada volta de Ciro Gomes ao PSDB, articulada com o apoio do senador Tasso Jereissati, simboliza mais que uma reaproximação com o partido onde iniciou sua trajetória política. O movimento marca também um novo capítulo no distanciamento entre Ciro e seu irmão, o senador Cid Gomes (PSB), um rompimento que, desde 2022, mistura diferenças políticas, estratégicas e pessoais após décadas de parceria aparentemente inabalável.
A cisão entre os irmãos começou na eleição para o governo do Ceará em 2022. Na época, o PDT, partido que ambos integravam, precisava escolher o sucessor do então governador Camilo Santana (PT), hoje ministro da Educação.
Cid defendia a candidatura da governadora Izolda Cela, que havia assumido o cargo e mantinha uma aliança sólida com o PT. Já Ciro, em meio à sua campanha presidencial, pressionou o partido a escolher Roberto Cláudio, ex-prefeito de Fortaleza e seu aliado histórico.
A escolha dividiu o PDT e rompeu a aliança de 16 anos com o PT. Izolda deixou o partido e se aproximou de Camilo Santana, enquanto Cid se recusou a subir no palanque de Roberto Cláudio. O petista Elmano de Freitas venceu no primeiro turno, e o candidato de Ciro ficou apenas em terceiro lugar. A derrota expôs a fissura no grupo político dos Ferreira Gomes, que havia dominado a política cearense por quase duas décadas.
Da aliança à rivalidade
O afastamento rapidamente ultrapassou as fronteiras estaduais. Ciro, candidato à Presidência pelo PDT, manteve um discurso duro contra o PT e o então candidato Lula, e terminou o pleito em quarto lugar, com apenas 3% dos votos válidos - seu pior desempenho em quatro disputas presidenciais.
Após o primeiro turno, anunciou que seguiria a decisão do partido de apoiar Lula, mas viajou ao exterior e não participou da campanha, o que gerou fortes críticas inclusive de aliados.
Cid, por sua vez, declarou voto em Lula e atuou na recomposição da aliança com o PT no Ceará, priorizando a estabilidade política do novo governo estadual.
Em 2023, a divisão se transformou em confronto aberto. A direção nacional do PDT, alinhada a Ciro, interveio no diretório estadual e destituiu Cid da presidência do partido no Ceará. O senador recorreu à Justiça, obteve decisões favoráveis e resistiu por alguns meses, mas o ambiente tornou-se insustentável.
Em fevereiro de 2024, Cid e Izolda Cela se filiaram ao PSB, levando prefeitos, vereadores e deputados estaduais. Izolda, que havia deixado o governo estadual, ocupou até maio de 2024 o cargo de secretária-executiva do Ministério da Educação, sob o comando de Camilo Santana.
A ruptura atingiu também o núcleo familiar. Os irmãos Ivo, então prefeito de Sobral, e Lia Gomes, deputada estadual e atual secretária das Mulheres do Ceará, ficaram ao lado de Cid e se filiaram ao PSB.
Ciro retorna ao PSDB e mira 2026
Enquanto o irmão consolidava espaço no PSB, Ciro se afastava do PDT, partido fragilizado e dividido. Começou a negociar sua volta ao PSDB, legenda pela qual se elegeu governador do Ceará em 1990. Também manteve conversas com o União Brasil, chegando a participar do lançamento da federação com o PP - grupo liderado no Ceará pelo ex-deputado Capitão Wagner, adversário histórico do PT e dos Ferreira Gomes.
Em um movimento que gerou ruído interno, Ciro acenou com apoio ao deputado estadual Alcides Fernandes (PL), pai do deputado federal André Fernandes (PL-CE), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro. O gesto reforçou a guinada política e o distanciamento do campo da esquerda.
A filiação de Ciro ao PSDB, marcada para 22 de outubro, foi costurada por Tasso Jereissati, com quem mantém forças laços políticos e de amizade. O movimento tem forte valor simbólico: Ciro retorna ao partido no qual iniciou sua carreira, repetindo a composição política que o levou ao governo estadual entre 1991 e 1994.
Aliados afirmam que a disputa estadual de 2026 é o cenário mais provável para o seu novo projeto. Mesmo assim, não descartam a possibilidade de ele tentar se viabilizar como nome de oposição a Lula e concorrer pela quinta vez ao Planalto.
Rumos e discursos divergentes
Enquanto Cid se alinha ao PT e à base governista, Ciro tenta reconstruir o centro político, atraindo quadros do PSDB, MDB e União Brasil. "O Brasil precisa de equilíbrio, não de hegemonia de um lado só", tem repetido o ex-ministro em entrevistas recentes.
Ciro foi filiado a sete partidos ao longo da carreira - PDS, PMDB, PPS, PSB, Pros, PDT e agora PSDB pela segunda vez - e tenta retomar protagonismo político fora do campo lulista.
Mesmo distantes, os irmãos voltaram a aparecer juntos em público em setembro de 2025, durante uma homenagem a Tasso em Fortaleza. A foto em que posam lado a lado, ao lado de Tasso Jereissati, foi amplamente divulgada, mas o gesto foi apenas simbólico. "Tasso tentou promover um gesto de pacificação, mas eles sequer conversaram sobre política", contou um aliado próximo. "Há respeito familiar, mas não mais uma parceria política."
Hoje, Ciro e Cid representam polos distintos da política cearense e nacional.
Ciro, de volta ao PSDB, aposta na reconstrução de uma oposição moderada, com discurso de eficiência e equilíbrio fiscal.
Cid, no PSB, reforça o projeto de aliança progressista com o PT, mantendo influência sobre o governo de Elmano de Freitas e defendendo políticas de inclusão social.
De aliados inseparáveis a rivais silenciosos, os irmãos Gomes encarnam a fragmentação do grupo político mais poderoso do Ceará nas últimas décadas. A foto recente dos dois juntos, sob o olhar conciliador de Tasso Jereissati, sintetiza o momento: um gesto de cortesia, mas sem reconciliação. Entre eles, restam os laços de sangue, mas, na política, cada um segue o próprio caminho.
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