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Entrevista
Congresso em Foco
17/11/2025 | Atualizado às 7:47
Nos últimos anos, o debate sobre o papel das redes sociais e da inteligência artificial na política voltou ao centro da agenda pública. Entre projetos de regulação que avançam lentamente no Congresso e o uso cada vez mais sofisticado das plataformas para moldar opiniões, cresce a preocupação com o impacto desses ambientes digitais sobre o comportamento eleitoral, especialmente entre os mais jovens.
Em entrevista ao Congresso em Foco, o deputado estadual Guilherme Cortez (Psol), um dos mais jovens da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), analisou como as redes sociais estão transformando a forma de fazer política. Representante de uma geração que cresceu conectada e hoje ocupa espaço institucional, ele discutiu sobre os desafios dessa linguagem, o peso das plataformas no debate político e a necessidade de renovar a comunicação da esquerda.
Renovação e "briga" pela juventude
Para o deputado, a disputa política nas redes sociais segue desequilibrada e influencia diretamente o comportamento eleitoral dos jovens. Cortez disse que há um mito de que a juventude seria automaticamente progressista, o que leva setores da esquerda a subestimarem a disputa.
"A extrema-direita está na nossa frente. As pessoas têm um senso comum de que a juventude é sempre progressista. Não, a extrema-direita tem disputado o nosso jovem através da rede social, do TikTok, de uma linguagem e uma maneira de fazer política mais próxima."
Segundo ele, apesar da percepção de que jovens tendem à esquerda, essa noção não se sustenta diante das transformações recentes. Ele destacou que os códigos, as pautas e a forma de se expressar dessa geração exigem outro tipo de presença política.
"A esquerda precisa se renovar, porque você tem toda uma outra geração que fala uma linguagem diferente, que se comunica de um jeito diferente, que se importa com pautas diferentes."
O deputado acrescentou ainda que essa renovação não ocorre sem tensões internas. De acordo com Guilherme, o processo pode ser dificultado em detrimento de lideranças tradicionais que, segundo ele, resistem a ceder espaço. O parlamentar enfatizou, entretanto, que existe outra parcela da esquerda que compreende a necessidade de atualizar a representação política.
Paralelamente, o deputado do Psol apontou um fenômeno que considera preocupante: jovens que se afastam da política ou se deixam "seduzir pelo discurso antissistema cultivado pela direita".
"O que a gente vê por aí é muita gente, principalmente jovens, ou desinteressados pela política ou ganhos por ideias conservadoras."
Disputa nas redes
Cortez afirmou que parte do desequilíbrio no debate político se explica pela força das plataformas digitais na formação de opinião. Justamente por isso, ele diz se dedicar a compreender a lógica desses espaços e a ocupá-los com estratégia, ritmo e consistência.
"Eu faço parte de um grupo que está se dedicando a fazer a disputa nas redes. Eu estou fazendo a minha parte e fico feliz que parcialmente esteja dando certo."
O deputado considerou como indispensável a discussão acerca da regulamentação das plataformas, tema que tem avançado no Congresso sob forte pressão política. Para ele, a ausência de regras tem impacto direto em saúde mental, desinformação e o mais importante: no resultado das eleições.
"A rede social precisa ser regulamentada, porque ela é uma ferramenta importante demais para você não ter nenhum controle sobre isso. Tem um impacto muito grande sobre a saúde das pessoas, a desinformação, o resultado das eleições. Então claro que você precisa regulamentar."
Guilherme afirma que parte das big techs mantém alinhamento com a "ultradireita" na pauta da não-regulamentação, mas critica a postura reativa da esquerda diante disso, argumentando que o diagnóstico não basta:
"A esquerda às vezes usa isso de muleta para não fazer o seu trabalho, que é aprender a utilizar a rede social no limite do que ela permite."
Desafios em falar para jovens
Ao analisar o interesse, ou a falta dele, da juventude pela política tradicional, Cortez questionou a própria forma como a política institucional costuma se comunicar. Em sua avaliação, a linguagem distante, ou excessivamente técnica, cria barreiras para quem está "fora das bolhas militantes".
Ele observou que a disputa por atenção é "brutal", e que a política, como costuma ser apresentada, muitas vezes pode soar ultrapassada:
"A política em si, principalmente para o jovem, ela é muito desinteressante, porque a política tradicional é um negócio muito antiquado, é um negócio que não faz sentido para a grande maioria das pessoas."
Para romper essa barreira, ele defendeu experimentar formatos, modos de falar e até tempos mais curtos de vídeo, não para empobrecer argumentos, mas para torná-los acessíveis:
"A gente tem um desafio para despertar esse interesse e mobilizar as pessoas. Para isso, você tem que pensar fora da caixa, usar outras estratégias, comunicar de uma outra maneira. A gente pode falar exatamente das ideias, só que a gente pode adaptar a linguagem para um minuto e meio, ou para dois minutos."
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