Senado realiza sessão solene e premia nomes da cultura afro-brasileira

A defesa da igualdade racial e o reconhecimento da contribuição histórica da população negra brasileira marcaram a sessão solene de entrega da Comenda Senador Abdias Nascimento, realizada nesta segunda-feira (17), no Senado. A homenagem, criada para valorizar personalidades que promovem a cultura afro-brasileira, faz alusão à data que antecede o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro.

Idealizada para destacar indivíduos que dedicam suas vidas à promoção da igualdade racial, a cerimônia foi conduzida pelo autor do requerimento, senador Paulo Paim (PT-RS). "Abdias foi poeta, autor, professor, deputado e senador. Tenho orgulho das fotos dele na minha casa e no meu gabinete. Era um grande homem, um guerreiro da dignidade humana", afirmou.

Um país com os pés na África

Durante a cerimônia, o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP) relembrou que a abolição da escravidão não eliminou os traços estruturais do racismo no país. O parlamentar destacou que além de homenagem, a data busca trazer reflexão.

"Nosso país ainda convive com heranças da escravidão. Ainda há proprietários de terras que oprimem e escravizam, como no passado. O Brasil é uma nação com os pés na África, resultado da mistura de povos. Que isso seja, como dizia Darcy Ribeiro, mais virtude do que defeito."

Personalidades reconhecidas

A edição deste ano da Comenda Senador Abdias Nascimento homenageou seis personalidades de distintas regiões e áreas de atuação. Todas elas foram selecionadas por seu trabalho na promoção da cultura afro-brasileira, na defesa dos direitos humanos e no fortalecimento das políticas de igualdade racial.

• Bezerra de Menezes: Médico, político e filantropo cearense do século 19. Atuou na defesa da população negra escravizada com atendimento médico gratuito, ações em prol da libertação de escravizados e protagonismo nos debates das leis emancipacionistas. Também difundiu valores de justiça e reparação histórica dentro do movimento espírita.
• Carlos Alves Moura: Advogado e ativista, é fundador do Centro de Estudos Afro-Brasileiros de Brasília e foi o primeiro presidente da Fundação Cultural Palmares. Sua atuação é marcada pelo fortalecimento da cultura negra, do reconhecimento de comunidades quilombolas e da conexão cultural com países africanos lusófonos.
• Gilson José Rodrigues Junior: Antropólogo e professor do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), desenvolve ações de educação étnico-racial e letramento racial. Atua em projetos que integram ensino, pesquisa e ação cultural com foco na representatividade negra no ambiente escolar.
• Natanael dos Santos: Historiador e pesquisador das relações entre Brasil e África, fundou grupos acadêmicos e coordenou núcleos de direitos humanos. É coautor do premiado projeto Black Box, vencedor do Leão de Ouro em Cannes em 2019, e atualmente dirige a Editora Griô Educacional.
• Tulio Augusto Samuel Custódio: Sociólogo, dedica-se há quase duas décadas ao estudo do legado de Abdias Nascimento. Atuou na curadoria de exposições e organizou coletânea de textos inéditos do líder, ampliando o acesso à cultura negra e ao pensamento de Abdias no Brasil.
• Valdice Gomes da Silva: Jornalista e ativista alagoana, é fundadora da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial de Alagoas (Cojira-AL). Presidiu o Sindicato dos Jornalistas de Alagoas e atualmente lidera projetos culturais voltados à celebração da consciência negra, como o "Vamos Subir a Serra", na Serra da Barriga (AL).