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Congresso em Foco
14/8/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 17:32
De acordo com Zizek (1990), os inimigos da nação são geralmente acusados de "prazer excessivo". A nação "existe enquanto seu prazer específico segue materializado em práticas sociais e transmitido por mitos nacionais que estruturam essas práticas" (1990, p. 53).
Assim, o mito nacionalista é sempre relacionado com a posse da coisa nacional. Os inimigos da nação querem subtrair nosso prazer ou ganhar acesso a algum prazer secreto nosso. Ao imputar ao outro a subtração do prazer, escondemos o fato de que nunca possuímos aquilo que supostamente nos foi subtraído (1990, p. 54). Além disso, ao fantasiar sobre ou mesmo odiar o prazer do outro, revelamos nosso próprio prazer. Meu pai, por exemplo, nas raríssimas vezes que reclamava de alguém, era por ser metódico. Meu pai era excessivamente metódico e odiava esse fato.
Bom ou mau, o nacionalismo provê a superfície na qual se inscrevem demandas, esperanças e aspirações sociais. O nacionalismo e o antagonismo social que ele faz surgir podem, pois, ser vistos como uma resposta discursiva ao deslocamento. Deslocamentos resultantes de eventos internos ou externos que questionam, desestabilizam e desmontam o regime corrente criam uma profunda necessidade de um projeto hegemônico capaz de rearticular os significantes flutuantes dentro de uma nova ordem discursiva que alimente a esperança de plena realização das identidades deslocadas dentro de um espaço comunal unificado.
O papel do projeto hegemônico do nacionalismo, portanto, provê o significante vazio da nação, que simboliza uma plenitude ausente, de um conteúdo substancial preciso com o qual o povo possa identificar-se.
Referência: Zizek, S. Eastern Europe's republic of Gilead. New Left Review, 183, Sep/Oct, 51-62.
*Júlio Roberto de Souza Pinto é doutor em Sociologia pela UnB com pós-doutorado em Oxford e Duke, advogado e professor do Mestrado Profissional em Poder Legislativo da Câmara dos Deputados.
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