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Milton Santos: <i>le gauche</i> na geografia das idéias

Congresso em Foco

25/9/2007 | Atualizado 1/10/2007 às 0:33

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Sionei Ricardo Leão *

Milton Santos! Em cartaz na Academia de Tênis (complexo de salas de cinema conhecido por exibir filmes de qualidade), em Brasília, o documentário sobre a vida e a obra desse misto de pesquisador, ativista social e “profeta” desponta como um libelo a respeito da esperança, da indignação e do clamor pela consciência social, racial, econômica e ousaria dizer espacial – em razão do escopo geográfico, que percorre a obra.

Para ser exato, o filme ostenta o título Milton Santos ou: o mundo global visto do lado de cá, película dirigida e produzida por Silvio Tendler – cineasta considerado baluarte do cinema político nacional – que tem na filmografia, por exemplo,  Os anos JK – uma trajetória política (1980), Jango (1984) e Marighella – retrato falado do guerrilheiro (2001).

Desta vez, Tendler elege como personagem um dos mais comemorados e respeitados estudiosos da geografia humana, no século 20, com declarada e intensa influência da vertente francesa, que privilegia a ação do homem na paisagem, em lugar da opção de entender a geografia como ciência dos acidentes naturais, dos fatores de natureza física – concepção de tradição germânica.

São 89 minutos de imagens, tempo que Tendler utiliza para explicitar o pensamento do entrevistado sobre temas que, invariavelmente, estão na ordem do dia em países de vários continentes, ou seja, as causas e os efeitos da globalização.

É a globalização, portanto, que permeia o documentário, até por esse fenômeno ter sido o tema a angariar a atenção de Milton Santos até o fim da vida, encerrada por um câncer nos ossos, em junho de 2001. Nativo de Salvador, esse intelectual antes de notabilizar-se na França como professor e pesquisador, dialogou, no Brasil, com o comunismo, envolvimento que lhe custou o exílio pelos militares, com o direito, por conta da formação acadêmica, e a imprensa – durante certo período “ganhou’ a vida na condição de redator do jornal A Tarde, também na capital baiana.

O longa faz jus à estética de Tendler, cujos filmes baseiam-se em extensa pesquisa de imagens e captação de depoimentos, nesse caso, o mais importante é a entrevista concedida por Milton Santos em 4 de janeiro, de 2001, poucos meses antes falecer.

“Eu fiz aquela entrevista completamente sem recursos. Fui a São Paulo, de ônibus, com um assistente, e um amigo paulista gravou com uma velha câmera digital completamente superada. Era o que tínhamos. O professor falava com verve e convicção. Aquela situação foi me angustiando. Em dado momento perguntei: ‘o senhor poderia dar um exemplo concreto do que lhe leva a ter esse otimismo?’”, relata o diretor.

Pude entrevistar Milton Santos, por conta da minha atividade jornalística, em três oportunidades, nas quais, conforme expressa Tendler, sempre sobressaía o sentimento que misturava indignação e esperança, a marca le gauche, de um socialismo visceral. 

Por um lado, Milton Santos acusava a academia, setores da classe política e dos meios de comunicação pela apatia em face das novas conjunturas e cenários surgidos dos efeitos da globalização e das ideologias liberais.

Ao mesmo tempo, o geógrafo demonstrava profética esperança nas classes oprimidas, para ele, portadoras de uma condução a um mundo melhor, a partir da esperada manifestação política. Esses conteúdos estão no documentário por intermédio de imagens de protestos de populações “periféricas”, como os cocaleiros bolivianos, manifestando contra a presença de interesses econômicos e financeiros norte-americanos no país de Evo Morales. 

“Nunca houve uma humanidade. Creio que as condições da história atual permitem ver que outra realidade é possível. A gente é pessimista quanto ao que está aí. Mas é otimista quanto ao que pode chegar”, declara Milton Santos em um dos trechos da entrevista que concedeu a Tendler.

Consoante a manifestações como essa, a verve de Milton Santos direcionava-se também a preocupações de natureza étnica. Ele, a respeito da causa afrodescendente, costumava considerar que a postura fratricida das organizações desse universo identitário estava arrefecendo e, por esse motivo, o Movimento Social Negro acenava para momentos mais robustos e profícuos na defesa de suas causas.

Felizmente, apesar do engajamento, Milton Santos não foi vítima de simplismos e estereótipos como cientista negro, intelectual negro, ou rótulos equivalentes. O brilho de suas idéias e a força da postura impediram que lhe fosse taxada uma marca reducionista qualquer.

Embora procurasse ficar ao largo da política, muito antes de Luiz Inácio Lula da Silva conquistar o primeiro mandato presidencial, dizia nos anos 90, do século passado, que partidos como PT, sobretudo, tinham o compromisso de vencer eleições municipais e conseqüentemente fazer boas administrações com vistas à construção de uma política macro coerente e adequada às demandas brasileiras.

“Sei que o Lula tem interesse em se aproximar de mim, mas é impedido por algumas das pessoas que o cercam”, declarou por ocasião de conferência no Congresso 17º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, no ano 1995, em Aracaju, Sergipe.

A respeito do viés artístico, a película de Tendler tem variados méritos, como a trilha sonora original, incumbida a Caíque Botkay. A opção por uma narração compartilhada, da mesma maneira, confere qualidade, sobretudo por ter nomes como Beth Goulart, Fernanda Montenegro, Milton Gonçalves, Matheus Nachtergaele e Osmar Prado, sob a batuta do maestro Silvio Tendler, compondo uma sinfonia à altura de Milton Santos!

*Sionei Ricardo Leão é jornalista e professor do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb). Dirigiu seis documentários, entre eles, o Kamba'Race, que recebeu o Prêmio Palmares de Comunicação (2005) do Ministério da Cultura. Integra a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Distrito Federal (Cojira-DF).

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