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Congresso em Foco
Autoria e responsabilidade de Bia Barbosa
15/8/2018 | Atualizado 6/12/2018 às 15:38
Aos Fatos lança bot que combate fake news no Twitter[/caption]
Em parceria com a Aos Fatos, o Twitter desenvolveu o robô Fátima, que envia mensagens a usuários que postaram conteúdos considerados falsos com um link para as informações tidas como verdadeiras pela agência de checagem. Um exemplo de mensagem enviada pela Fátima este mês foi "Olá! Verifiquei que essa notícia sobre LGBTs e pedófilos é falsa. Dê uma olhada nas informações verdadeiras aqui:". A @fatimabot sincroniza um banco de notícias falsas já checadas pela equipe de Aos Fatos e mapeia no Twitter, a cada 15 minutos, posts com links para essas informações. Ao encontrá-los, dispara uma resposta para o perfil.
Em maio, o Facebook divulgou parceria com Lupa, Aos Fatos e também com o serviço de checagem da agência France Press para identificar conteúdos falsos e, aí, reduzir o alcance dessas postagens na rede. Ou seja, o Facebook não removerá esses conteúdos, mas na prática eles acabarão chegando pra muita pouca gente. Segundo o Facebook, nos Estados Unidos, esse mecanismo reduziu em até 80% a distribuição orgânica de notícias consideradas falsas.
O mecanismo funciona a partir da sinalização de postagens falsas pelos usuários, que então são enviadas para as agências de checagem e, a partir desta análise, sofrem as consequências impostas pela plataforma. Entre elas, a proibição de serem impulsionadas e a previsão de que os usuários que compartilharem esses conteúdos serão notificados diretamente pela rede social. Páginas que compartilharem notícias consideradas falsas de forma repetida também terão seu alcance reduzido.
Como fica a liberdade de expressão diante desses acordos?
Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o Marco Civil da Internet (Lei 12.965/14) definiu, em seu artigo 19, que provedores de aplicações - como as redes sociais - somente poderão ser responsabilizados civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial, não removerem este conteúdo. O princípio, chamado de "inimputabilidade dos intermediários", tem como pano de fundo a ideia de que essas plataformas não seriam gestoras de conteúdo, ou seja, não interfeririam em geral em sua publicação ou fluxo na Internet - salvo exceções previstas em lei.
O que tem acontecido a partir dessa classificação dos conteúdos como "falsos" ou "verdadeiros" vai, entretanto, no sentido contrário. Não à toa, o acordo gerou reações acaloradas no país, sobretudo do Movimento Brasil Livre (MBL), que acusou as agências de partidarismo e moveu uma campanha de ataques pessoais aos profissionais dessas agências. Em audiência pública na Câmara dos Deputados, o Intervozes repudiou os ataques do MBL e reafirmou a importância do trabalho de checagem.
Entretanto, há uma diferença grande entre reconhecer a validade de iniciativas como estas e transformá-las em critérios exclusivos e absolutos para reduzir o alcance de determinados conteúdos nas redes - principalmente em plataformas que se tornaram monopolistas e representam hoje um espaço central do debate público no país.
Esta lógica, adotada por empresas como o Facebook, representa uma ameaça para a liberdade de expressão, por três motivos principais. O primeiro é que nem o maior exército de checadores do país será capaz de verificar todos os conteúdos postados nas redes. As próprias agências, como mencionamos acima, escolhem o que vão checar, num universo infinito de postagens e links. O que acontecerá com o que não for checado? Será interpretado como suspeito? Se as agências trabalham com critérios de relevância, o que não for checado estão pode ser visto como insignificante? Em meio a disputadas eleitorais, todos sabem a diferença que dar visibilidade a uma ou outra declaração de um candidato/a pode fazer diferença. Caberá às agências escolher isso?
O segundo motivo é que as agências de checagem também erram, e elas próprias admitem isso. Afinal, a "realidade" ou "a verdade" está longe de ser o resultado de fatos e dados objetivos. Nós, jornalistas, sabemos que é possível contar uma grande mentira somente usando fatos e dados verificados. E o problema aumenta quando o dano causado por um erro de checagem, que pode ser enorme, atinge não apenas o alcance que será dado a determinada postagem, como também a credibilidade de quem produziu aquele conteúdo.
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Vaticano diz que terço levado a Lula por consultor do papa foi abençoado por Francisco.[fotografo]Cláudio Kbene/reprodução[/fotografo][/caption]Foi o que aconteceu com a polêmica - que já se tornou um clássico nos debates sobre "notícias falsas" - em torno do envio de um terço do Papa ao ex-presidente Lula, por meio de um emissário que o teria visitado em Curitiba. Em junho, a notícia começou a circular em páginas e redes identificadas ao Partido dos Trabalhadores. Rapidamente, com base em uma nota do site VaticanNews, Lupa e Aos Fatos classificaram a informação de falsa. O fato só foi esclarecido dois dias depois, mas neste intervalo uma matéria do portal da Revista Fórum, do jornalista Renato Rovai, repercutindo o fato, já havia sido derrubada pelo Facebook. E todos os que a haviam compartilhado, recebido uma notificação da plataforma dizendo que aquela página havia publicado conteúdo falso.
O mesmo aconteceu com outros dois sites de esquerda, o DCM e o 247, que trataram do tema. O impacto para a credibilidade de um veículo de mais de 15 anos como a Fórum foi enorme e o portal estuda processar o Facebook. Como a própria Lupa diz em seu site, a pressa é inimiga dos checadores. "Quando a velocidade e a busca pelo furo jornalístico é o que importa, o checador tende a publicar uma informação rasa. Pode etiquetar uma frase como sendo verdadeira ou falsa, sem ter levado em consideração o cenário mais amplo em que ela se encaixa. A perda do contexto é sempre perigoso", declaram. Fica a dica!
Por fim, e não menos importante, é que a transparência sobre os conteúdos classificados, que tiveram seu alcance reduzido nas timelines ou nos resultados das buscas, é ínfima por parte das plataformas. Quantas postagens estão tendo seu alcance reduzido? Por que motivo? A checagem foi feita por qual agência em cada caso? Qual foi o "selo" que aquele conteúdo recebeu - já que as agências não trabalham apenas com "falso" ou "verdadeiro", e sim com os vários tons de cinza presentes no mundo da desinformação?
São questões que estão aí para serem debatidas, amplamente. Para que o fenômeno da desinformação possa ser enfrentado nessas eleições, mas para que a liberdade de expressão continue garantida enquanto um princípio da nossa democracia. Na próxima semana, confira mais um artigo o combate às fake news no nosso especial.Tags
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