Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Congresso em Foco
16/1/2008 | Atualizado 17/1/2008 às 7:31
Erich Decat
A perspectiva de recessão nos Estados Unidos desencadeada após o anúncio de dados econômicos desfavoráveis, como os prejuízos bilionários das principais instituições financeiras daquele país, não afetará a economia brasileira em 2008, na avaliação de analistas ouvidos pelo Congresso em Foco.
“Ainda não está claro qual é o tamanho do rombo da crise imobiliária norte-americana, mas parece que a bolha é bem maior do que foi anunciada em setembro de 2007”, afirma o professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Jorge Nogueira, ao avaliar o principal motivo alegado pelo Citigroup para o prejuízo de US$ 10 bilhões acumulado no quarto trimestre de 2007.
Segundo a entidade financeira, uma das maiores dos EUA, parte desse rombo se deve aos empréstimos de risco (subprime), concedidos para a compra de imóveis, que não foram pagos. Para os bancos, o grande atrativo ao conceder empréstimos de risco é o retorno financeiro que eles podem ter, uma vez que sobre essa modalidade de crédito recaem juros elevados.
A expectativa de grandes lucros, entretanto, foi frustrada com o alto índice de inadimplência que provocou, em setembro de 2007, uma das maiores crises no mercado financeiro norte-americano.
“Uma gripe na economia norte-americana se reflete em todo o mundo. Mas é preciso ter calma. Os ajustes não tenderão a ser muito grandes sobre a economia brasileira, a não ser que o rombo seja maior do que dizem ser”, avalia Nogueira.
A economista-chefe do ABN Amro-Bank, Veina Alatif, também divide essa mesma opinião.
“De fato, é uma situação que trouxe preocupação para o mercado, mas o foco não é o Brasil nem os outros países emergentes. Acredito que a repercussão maior será nos países desenvolvidos da Europa e no Japão, por exemplo”, considera. Segundo ela, o Brasil sofrerá algum reflexo apenas se houver uma grande piora no quadro dos emergentes. “Mas não parece ser esse o atual quadro”, acrescentou.
Efeito dominó
O velho continente pode ser o mais atingido porque muitos fundos da Europa investiram, nos últimos anos, no mercado imobiliário norte-americano por meio dos bancos, que, em contrapartida, emprestavam dinheiro para pessoas sem a necessidade de comprovação de renda.
Com a falta de receita nos bancos, em razão dos calotes, os compromissos feitos com os investidores passaram a não ser mais honrados. Diante dessa perspectiva, muitos depositantes começaram a tirar o dinheiro dos fundos, criando um efeito em cadeia. Em agosto do ano passado, no auge da crise, o banco francês BNP Paribas chegou a bloquear o saque de todos os investimentos, para evitar sua possível quebra.
Além do Citigroup, o JP Morgan e o Wells Fargo – terceiro e quinto bancos do país – anunciaram ontem que registraram queda de 34% e de 38% em seus lucros no quarto trimestre de 2007.
Sem desespero
Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, os dados desfavoráveis da economia norte-americana não são novidade. Segundo ele, por ora, estão descartadas quaisquer medidas emergenciais na economia brasileira.
“A crise do mercado internacional se agravou um pouco, mas isso era esperado”, afirmou. “Por enquanto, não vejo necessidade de nenhuma medida. A economia brasileira está bem posicionada diante da crise internacional, tanto pelo lado dos fundamentos, quanto pelo lado do mercado interno, que pode compensar uma eventual perda dos produtores brasileiros e dos exportadores brasileiros”, garantiu Mantega (leia mais).
Recessão
Apesar do otimismo dos especialistas quanto à economia brasileira, essa visão não é compartilhada pelo ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) Alan Greenspan em relação à situação de seu país. Segundo ele, o aumento da taxa de desemprego, que subiu para 5% no último mês, é indício de que os EUA apresentam sintomas para entrar em recessão.
Outros índices que chamaram a atenção dos mercados internacionais ontem (16) foram a queda de 0,4% nas vendas no varejo registrados em dezembro e o aumento do Índice de Preços ao Consumidor, que atingiu 4,1%, o maior dos últimos 17 anos nos Estados Unidos.
Na prática, isso significa diminuição do poder aquisitivo dos consumidores, ou seja, menor consumo e mais desaceleração econômica. Os preços dos alimentos e da energia foram os que mais pressionaram a alta do índice no país.
O impacto da desaceleração econômica americana pôde ser visto no relatório mensal sobre a economia do país divulgado ontem pelo Fed, elaborado a partir de informações de seus 12 escritórios regionais.
Redução de juros
O resultado, porém, foi mais animador do que se esperava. O chamado Livro Bege mostrou que, apesar de ter registrado um ritmo de crescimento mais lento entre meados de novembro e todo o mês de dezembro, a economia americana ainda não está em recessão.
As conclusões do documento foram bem recebidas pelos analistas de mercado, que viram nelas caminho para uma eventual redução da taxa de juros básicos ainda este mês. A expectativa é de que a atual taxa, que é de 4,25% ao ano, caia ao menos 0,5 ponto percentual, um estímulo para o aquecimento da maior economia do mundo.
O relatório do Fed não conseguiu impedir, contudo, que as bolsas caíssem mundo afora. O principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa, fechou, ontem, em queda de 1,89%, com 58.777 pontos. Esse foi o pior índice registrado desde 24 de setembro. Somente em 2008, o Ibovespa acumulou desvalorização de 8%. Já a saída de investidores estrangeiros do país fez com que o dólar fechasse o dia com aumento de 1,14%, cotado a R$ 1,773.
A tensão também repercutiu na Europa, onde as bolsas de Londres (Inglaterra), Paris (França) e Frankfurt (Alemanha) fecharam em queda de 1,37%, 0,48% e 1,25%, respectivamente.
Outro caminho
Para o economista Jorge Nogueira, um dos reflexos que uma recessão norte-americana pode causar é a diminuição das importações realizadas pelo país. Redução essa que pode afetar, por conseqüência, as exportações brasileiras. Mas isso, ressalta ele, pode ser contornado pelo governo brasileiro.
Temas
REAÇÃO AO TARIFAÇO
Leia a íntegra do artigo de Lula no New York Times em resposta a Trump
VIOLÊNCIA DE GÊNERO
Filha de Edson Fachin é alvo de hostilidade na UFPR, onde é diretora