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"Vai acontecer uma grande tragédia"

Congresso em Foco

13/7/2005 23:34

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Sônia Mossri


Os ruralistas estão se modernizando. Não vivem apenas de ataques ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). A bancada ruralista no Congresso e a União Democrática Ruralista (UDR) articulam entrar com processos junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) contra a formação de cartéis na produção de defensivos agrícolas e fertilizantes e até suco de laranja.

A informação é do deputado Abelardo Lupion (PFL-PR), ex-presidente da UDR e um dos principais coordenadores da bancada ruralista no Congresso.

Segundo ele, a primeira ação dos produtores rurais no Cade será questionar a formação de cartel no mercado brasileiro de suco de laranja, dominado por duas empresas.

Em entrevista ao Congresso em Foco, ele explicou que, para resguardar as associações de produtores, a estratégia é apelar para que partidos políticos, como o próprio PFL, acionem o Judiciário na defesa de interesses dos ruralistas.

"Nós temos cartéis dentro do setor, como dos defensivos agrícolas e dos fertilizantes. Isso está nos matando e o governo tem que tomar posição imediatamente", disse Lupion.

Lupion avalia que a reforma agrária não dá resultados não pela falta de recursos, mas porque é uma idéia destinada ao fracasso. Mais do reforma agrária, ele prega a necessidade de política agrícola.

"Hoje, é a política da cesta básica, a política distributivista que nós estamos pagando. O cidadão está pagando cesta básica para o outro ficar sentado, na beira da estrada, jogando truco e bebendo pinga", critica Lupion.

Para Lupion, que vem de uma tradicional família de produtores rurais do Paraná, o MST é "um movimento anárquico", reforçado pela Via Campesina - organização internacional de esquerda que reúne camponeses e opositores ao que se convencionou chamar "globalização".

Por ser um movimento político, segundo ele, a maior parte dos sem-terra não tem nenhum talento para a agricultura.

"O que nós vimos na reforma agrária? Que pelo menos 60% dos assentados não têm vocação agrícola. Automaticamente, são pessoas que já deixaram a área rural, já foram para as cidades, que querem, na realidade, é se encostar", afirma o coordenador da bancada ruralista.

Para Lupion, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, estaria deliberadamente armando uma campanha contra o agronegócio.

"O próprio governo, através de um ministro que é totalmente mal intencionado, que é esse Rossetto, está criando um foco de distúrbio no agronegócio. Vai acontecer uma grande tragédia de uma hora para outra", avisa Lupion.


Congresso em Foco - Como o senhor, que é da bancada ruralista e foi presidente da UDR, vê o aumento das invasões de terra no governo Lula?

Abelardo Lupion - Primeiro, que o governo vendeu uma expectativa de poder resolver o problema agrário no Brasil com distribuição de terra. Quando assumiram o governo, eles viram que reforma agrária se faz com política agrícola. Não se faz com distribuição de terra. A partir do momento em que o governo acordou para esse fato, ele foi ver que o modelo de reforma agrária implantado no Brasil é um modelo falido. É um modelo que você distribui a terra e não se dá uma condição ao cidadão que está na terra de sobreviver. Então, criou-se dois tipos de cidadão: aquele que é assentado na reforma agrária, que recebe cesta básica e as benesses, e aquele que não é assentado mas que está na terra e está completamente falido. O que nós vimos na reforma agrária? Que pelo menos 60% dos assentados não têm vocação agrícola. Automaticamente, são pessoas que já deixaram a área rural, já foram para as cidades, que querem, na realidade, é se encostar.

"Pelo menos 60% dos assentados não têm vocação agrícola. São pessoas que já deixaram a área rural, já foram para as cidades, que querem, na realidade, é se encostar"

Então, como fazer a reforma agrária?

O trabalho da reforma agrária não foi sério. Nenhum dos governos fez uma reforma agrária séria. O Congresso Nacional, quando criou o Banco da Terra, foi o primeiro esboço de uma reforma agrária condizente com a realidade. Por quê? Nós emprestávamos o dinheiro para o cidadão, que teria que passar por uma comissão dentro do seu município e nós comprávamos a propriedade e continuávamos dando assistência. Funcionou o Banco da Terra. A primeira coisa que o PT fez ao entrar no governo foi acabar com o Banco da Terra porque estava dando certo e não tinha bandeira política. O que é o MST? É um movimento político a serviço do PT.

"A primeira coisa que o PT fez ao entrar no governo
foi acabar com o Banco da Terra porque estava dando
certo e não tinha bandeira política. O que é o MST?
É um movimento político a serviço do PT"

O senhor ainda acha que há essa conexão tão clara?

Total. O núcleo agrário da bancada do PT é todo egresso do MST. Agora, inventaram a Via Campesina, que é um movimento revolucionário. Estão estudando as crianças do MST e desses movimentos anárquicos. O que eles estão estudando hoje? Eles não sabem o hino nacional. Eles sabem o hino do MST. Isso está completamente errado. O que nós precisamos é de paz no campo. O que está acontecendo? O próprio governo, através de um ministro que é totalmente mal intencionado, que é esse Rossetto, está criando um foco de distúrbio no agronegócio. Vai acontecer uma grande tragédia de uma hora para outra.

"O próprio governo, através de um ministro que é totalmente mal intencionado, que é esse Rossetto,
está criando um foco de distúrbio no agronegócio. Vai acontecer uma grande tragédia de uma hora para outra"

Há pouco tempo, o próprio presidente do Incra acusou o agronegócio de ser responsável pelos conflitos no campo.

Quando nós estamos falando do agronegócio, estamos falando de uma coisa real, que está, efetivamente, gerando divisas e emprego. Quando você critica o agronegócio, pela maneira com que foi criticado, por causa de um produtor rural que cometeu um assassinato, que mandou matar gente, é um problema de Justiça. Não vamos nos esquecer que nós temos 5 milhões de propriedades rurais no Brasil. Nós temos mais de 800 mil propriedades produtivas. Quando eles fizeram a crítica, eles fizeram por causa de um produtor rural. Assim, como tem padre pedófilo, tem padre sério também. Quando você critica o sistema que mais dá emprego, que mais recolhe impostos e mais exporta no Brasil, você está cometendo um crime de lesa pátria. Muito me admira um irresponsável como esse presidente do Incra ficar no governo. Qualquer presidente bem intencionado teria demitido imediatamente esse irresponsável. Infelizmente, o governo Lula é refém desses movimentos anárquicos.

"Qualquer presidente bem intencionado teria demitido imediatamente esse irresponsável (o presidente do Incra, que responsabilizou o agronegócio pelos conflitos no campo). Infelizmente, o governo Lula é refém desses movimentos anárquicos"

Mas o próprio ministro Rossetto criticou a Pastoral da Terra por prever aumento de invasões de terra e conflitos em 2005. Por que o ministro estaria mal intencionado?

Existe um jogo de cena e ele faz o jogo de cena. Não acredito na boa vontade do Rossetto pela maneira que eles estão fazendo. Só para você ter uma idéia, o investimento do Ministério da Reforma Agrária é três vezes o investimento do Ministério da Agricultura. Já se gastou mais de R$ 20 bilhões nessa reforma agrária e não se resolveu absolutamente nada. Nós estamos vendo todo dia o abuso que esses movimentos anárquicos fazem.

Mas qual seria a alternativa de vocês? Há uma concentração de latifúndios no país...

Primeiro, precisamos ver o que é latifúndio. É uma propriedade grande? Se a propriedade grande estiver dando emprego e for produtiva, não podemos chamar esse tipo de latifúndio de pernicioso. Como tem fábrica grande, tem fazendas grandes que tratam o agronegócio. A palavra latifúndio não pode ser pejorativa. Vamos falar do improdutivo. Onde tiver latifúndio improdutivo, nós temos que fazer qualquer tipo de coisa para tirar da mão daqueles que estão especulando com terra. Sabe onde estão esses latifúndios improdutivos? Estão no mesmo lugar que o Meio Ambiente não deixa derrubar. Então, existe um discurso dúbio dentro do governo.

Como assim?

O (Ministério do) Meio Ambiente não admite que nós aumentemos as nossas fronteiras agrícolas. Hoje, para você tirar um pedaço de cerrado, e nós temos 100 milhões de hectares ainda aproveitáveis para nós botarmos no processo produtivo, o Meio Ambiente não permite e é, ideologicamente falando, ligado ao Ministério da Reforma Agrária. Automaticamente, você não vai fazer nenhum tipo de política sem ter disponibilidade de terras. Fizemos um grande apelo aos ministros (Antonio) Palocci e (Roberto) Rodrigues que levem as florestas plantadas para o Ministério da Agricultura. Floresta é agricultura. Um hectare de floresta mantém uma família maravilhosamente bem com uma renda de mil reais por mês. Agora, como você vai fazer se você incentiva no sul a invasão de pessoas que não são da terra e não são vocacionadas e, no norte do Brasil, você não tem política nenhuma? Hoje, é a política da cesta básica, a política distributivista que nós estamos pagando. O cidadão está pagando cesta básica para o outro ficar sentado, na beira da estrada, jogando truco e bebendo pinga.

"Sabe onde estão esses latifúndios improdutivos?
Estão no mesmo lugar que o (Ministério do)
Meio Ambiente não deixa derrubar"

Como vocês da bancada ruralista e da UDR analisam o aumento de segurança privada nas propriedades por medo de invasão?

Tem um ditado que diz "quem não defende o que tem não merece ter". Assim como uma loja contrata um segurança, nós, da área rural, temos a possibilidade de contratar empresas de segurança para defender o nosso patrimônio. É uma coisa normal. Se o próprio governo não dá a ele a possibilidade de defendê-lo, e ele paga os impostos para isso, ele tem que se preparar para fazer a sua defesa, ele tem que fazer dentro da lei. As empresas de segurança estão sendo contratadas por alguns proprietários rurais que se sentem ameaçados. Nós vamos criticá-los? Tem gente que está no Pontal (do Paranapanema, em São Paulo) e está com problema sério e ameaça de invasão. Eles (os sem terra) estão matando gado. Eles destroem a propriedade e roubam tudo. É óbvio que o cidadão que depende daquilo para viver é obrigado e defender o que tem. Isso está sendo levado porque o governo é inoperante, não cumpre as reintegrações de posse e não faz o seu papel. Qual é o papel do governo? É cumprir decisão judicial. É só isso que nós queremos.

"Assim como uma loja contrata um segurança, nós,
da área rural, temos a possibilidade de contratar
empresas de segurança para defender o nosso
patrimônio. É uma coisa normal"

Qual o maior temor dos ruralistas nos próximos dois anos do governo Lula?

Falta de política agrícola.

Mas vocês não estão tendo um bom ministro da Agricultura?

O ministro é bom. Pode ser o melhor ministro do mundo, mas se não tiver recursos, não vai poder fazer nada.

Quais são os principais problemas?

Primeiro, problema de política agrícola. O meu estado é hoje o maior produtor de madeira plantada do Brasil. Hoje, nós temos um Ministério do Meio Ambiente punitivo. Nós não temos incentivo a nada. Segundo, nós temos uma gama de produtos que precisam ser diferenciados. Para isso, você precisa de recursos para tratar desse assunto. Terceiro, a nossa carga tributária hoje está absurda. Quarto, nós temos cartéis dentro do setor, como dos defensivos agrícolas e dos fertilizantes. Isso está nos matando e o governo tem que tomar posição imediatamente. Nós temos problemas dentro dos frigoríficos porque o repasse dos recursos auferidos pelas exportações não está chegando ao produtor rural, ficando no meio do caminho em maus frigoríficos, como nesses que estão sonegando e estão sendo presos. É uma série de medidas a serem tomadas. Quem é que vai segurar cartel?

Não caberia uma ação no Cade?

Nós estamos entrando, agora, por causa do problema das indústrias de laranja. Daqui a pouco, vão ficar apenas na mão de duas empresas. Nós vamos entrar com denúncia do Cade.

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