Preocupada com a possibilidade de perder representatividade no Congresso, a Frente Parlamentar Evangélica se movimenta para derrubar o dispositivo da reforma política que institui o voto em lista fechada. Pelo sistema proposto, o eleitor votará na legenda (em uma relação preordenada de nomes aprovada em convenção partidária) e não mais no candidato.
A mudança no texto, que está na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara, é uma das prioridades da bancada para este ano, segundo o coordenador do grupo, deputado Adelor Vieira (PMDB-SC). Com receio de serem desprezados pelas cúpulas partidárias, os religiosos já estudam a possibilidade de lançar um partido "cristão", que abrigaria evangélicos e católicos das mais variadas vertentes.
"Esse sistema (voto em lista) vai criar uma reserva inconstitucional. Apesar de serem muito votados, os evangélicos dificilmente estariam entre os primeiros da lista, que vai privilegiar os caciques de cada legenda. Caso essa mudança seja aprovada, não há outra alternativa senão a criação de um novo partido", critica o deputado.
O modelo, que impede o eleitor de votar diretamente no candidato nas eleições proporcionais, enfrenta resistência de vários partidos da base governista, como o PL, o PTB e o PP. Segundo Adelor, a proposta também prejudica as mulheres e os negros, que, assim como os evangélicos, poderiam cair para o fim da lista e perder o espaço conquistado no Legislativo nas últimas décadas.
Apesar de considerar positiva a atual distribuição dos religiosos entre os partidos, o catarinense acredita que só com a criação de uma nova legenda os evangélicos conseguirão manter sua representatividade no cenário político, caso o sistema de voto em lista partidária seja adotado no país.
O único ponto da reforma que tem a simpatia do parlamentar é a fidelidade partidária, que, na opinião dele, vai fortalecer as legendas e evitar "barganhas políticas na formação das bases partidárias". De acordo com Adelor, o ideal seria obrigar o parlamentar a permanecer dois terços do mandato fiel a um só partido, sob pena de perder a cadeira se desrespeitasse a norma.
Segundo o coordenador da bancada, os evangélicos ainda não fecharam questão sobre a reforma política, já que os partidos também estão divididos em relação à proposta. "Nós queremos reabrir a discussão", diz o deputado. O voto na legenda é apontado como condição para o sucesso do financiamento público de campanha, que substituiria as tradicionais doações feitas pelo empresariado aos candidatos com os quais mantêm afinidade.
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