Edson Sardinha Um político "renovista", que fez carreira nos "gloriosos tempos do cabrestismo" e defendia a "democradura". "Um estadista que bota os pés no hoje com os olhos no depois de amanhã". Esse era Odorico Paraguaçu por Odorico Paraguaçu. Conservador confesso, o prefeito de Sucupira era também um homem de muitas idéias. Uma delas, conquistar o mundo por meio do azeite de dendê. Outra, criar a Petropira, a estatal que tinha como missão encontrar petróleo em Sucupira.
"Emboramente esses retaguardistas, esses retrogradistas, esses ecologistas digam que não existe petróleo em Sucupira, nós vamos assinar um contrato de risco com a Petrobras. Desses que o risco é toda dela e o petróleo é nosso. E vamos provar o contrário", prometia.
"Vamos temperar o Brasil e, pra frentemente, vamos temperar o mundo, que mais uma vez se curvará diante do Brasil quando provar do nosso acarajé, do nosso vatapá e do nosso caruru. Vamos acarajeizar a América, vamos avatapar a Europa e, pensando nisso, meu coração verde amarelecido nada de braçada", vaticinava o prefeito em entrevista coletiva que contou até com o cartunista Ziraldo.
As semelhanças de Odorico com os atuais políticos ficam mais evidentes à frente, quando ele justifica a contratação de parentes para trabalhar em sua gestão na prefeitura. "Oxente, são cargos de confiança. Se a gente não tiver confiança em parentes, em quem vai ter confiança?". Ou ainda quando ele é denunciado por corrupção diante das câmeras.
"Minha resposta é uma só. Vou mandar apurar e, se for comprovada alguma prova, os claudicantes serão punidos doa a quem doer, porque não tenho compromisso com milagreiros nem com milagristas, meu compromisso é com o povo."
Os milagres do prefeito
Explorador da boa-fé dos eleitores, Odorico se envolveu num esquema "milagroso". Para desviar a atenção do povo de sua administração fraudulenta, contratou os serviços de um "fabricante" de milagres. Para pagar os préstimos do farsante, o prefeito assinou um contrato de dez anos para que o contratado pudesse explorar o comércio de medalhas e outras lembranças religiosas nas redondezas do novo espaço de peregrinação.
E se alguém acusava Odorico de explorar a fé do povo, o prefeito logo respondia: "Não vim pedir graça nenhuma, vim pedir pelo povo sucupirano. Não misturo política com religião".
O assassinato
Os anos se passavam, e Odorico não conseguia cumprir sua principal promessa de campanha: inaugurar o cemitério da cidade. Em meio a uma crise política, contratou o atormentado Zeca Diabo (Lima Duarte) - um homem simples que havia passado anos na cadeia, condenado por um crime que não cometeu - para transformá-lo em vítima de um falso atentado político.
Mas a farsa se tingiu de sangue. Transtornado ao descobrir que passara anos presos por causa de Odorico, Zeca Diabo fez o prefeito, enfim, inaugurar o cemitério da cidade. Mas na condição de morto. O "coronel" perdia a vida, mas não a pose: "Quem fez isso foi pago para me matar. Interesses antipatrióticos, uma superpotência, uma trama internacional, materiais atômicos que querem tomar Sucupira. Eles querem dominar o mundo apenasmente".
Odorico morto? Só se for pra você. Não perca amanhã: o prefeito volta nos braços do povo e vai a Nova Iorque.