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Obras faraônicas ou liliputianas?

Congresso em Foco

15/10/2009 7:36

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Osvaldo Martins Rizzo *

"Você diz a verdade, e a verdade é o seu dom de iludir" (Caetano Veloso)

Num passado não muito remoto, por meio da grande imprensa, os "donos da verdade" iludiam a opinião pública nacional persuadindo-a de que o tamanho das obras de infraestrutura física projetadas era desnecessariamente avantajado para os fins a que se destinavam. Assim, elas teriam grande ociosidade funcional, desperdiçando o dinheiro do contribuinte. Para enquadrá-las como politicamente incorretas, as achincalhavam com o nome de "obras faraônicas", numa forçada alusão aos piramidais e, na obtusa ótica ocidental cristã, inúteis sepulcros dos reis do Egito antigo.

Provavelmente por seus parcos conhecimentos de álgebra, saber ausente na maioria das análises publicadas nos grandes matutinos, esses "deformadores de opinião" (quiçá serviçais dos interesses do grande capital financeiro na vinculação dos recursos para o pagamento dos juros da dívida pública) desconsideravam, em suas imprecisas análises, os cálculos de projeção da demanda futura que justificavam o porte daquelas construções, difamadas como demasiadamente grandes.

Apesar desse erro primário, os detratores tiveram êxito abordando de maneira simplista uma questão tecnicamente complexa, e os investimentos em infraestrutura física minguaram, sendo rebaixados na hierarquia das prioritárias questões nacionais (mesmo com a demanda crescendo), ajudando a derrubar ainda mais a competitividade da economia brasileira, entre outros malefícios esquecíveis.

As consequências não tardaram, e os previsíveis - e inevitáveis - transtornos causados pela insuficiente oferta de infraestrutura passaram a compor o cotidiano do cidadão brasileiro, desmentindo os irresponsáveis críticos. Estes, como qualquer outro habitante do país, também foram prejudicados pelos efeitos do racionamento de energia elétrica (e de água); do caos nos aeroportos; dos sazonais alagamentos urbanos; dos diários congestionamentos de trânsito nas grandes cidades; da dificuldade de escoamento da safra agrícola; do retorno de epidemias causadas pela falta de saneamento básico etc.

Comparando-se o estoque brasileiro atual da demanda reprimida de infraestrutura física com o porte das obras - que os "senhores da verdade" apelidariam de "faraônicas" - existentes ou em construção em outras partes do mundo, onde a questão é tratada com mais seriedade pela imprensa, observa-se que, deveras, o adjetivo que melhor qualifica as obras nacionais é "liliputianas". Como se fossem do imaginário lugar, criado pelo escritor inglês Swift e visitado por Gulliver em suas famosas viagens, onde tudo era pequeno.

O suposto porte exagerado das usinas hidrelétricas, tantas vezes criticado, foi insuficiente para evitar que a sociedade brasileira sofresse com a grave crise de racionamento de energia elétrica. A comissão formada pelo governo federal para identificar as causas do "apagão" concluiu que os investimentos em quase dois terços das obras previstas no plano duenal, obras necessárias para aumentar a oferta de energia elétrica, não foram executados, constituindo-se no principal motivo da eclosão da crise que ajudou a reduzir o já então cadente fluxo de investimentos diretos estrangeiros, agravando o déficit na conta corrente da balança de pagamentos, acelerando a desvalorização da moeda nacional e permitindo que, ao ser repassada para os preços internos, aumentasse a inflação.

Não por acaso as metas de inflação deixaram de ser alcançadas justamente com a decretação do racionamento de eletricidade, em meados de 2001. O colapso da oferta de energia elétrica ocorreu apesar do crescimento meramente vegetativo experimentado pelo PIB na década passada, e teria acontecido muito antes se a economia brasileira tivesse realmente crescido naquele decênio. Para haver crescimento econômico sustentável, é prioritária a garantia da oferta futura de eletricidade.

Outra obra que, outrora, foi sistematicamente criticada e assemelhada às tumbas dos faraós - a ponte ligando as cidades do Rio de Janeiro e Niterói, com cerca de 13 quilômetros de extensão - pode ser classificada como de modestas dimensões se comparada com aquelas em projeto, construídas ou em construção em outros países. Para ilustrar: na China, recentemente foi concluída a construção de uma ponte três vezes mais comprida.

Essa enorme deficiência física, ignorada pela nata dos articulistas da grande imprensa nacional, rebaixou o Brasil para a incômoda posição de ser o país com as piores condições de infraestrutura, dos seis mais importantes da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) - incluindo a Argentina -, abortando qualquer esforço significativo de crescimento econômico, inclusive o exportador. O porto brasileiro com maior movimento (em Santos, SP), caso tivesse a infraestrutura viária adequada, teria um volume de escoamento pelo menos 20% maior que o atual.                                   

* Osvaldo Martins Rizzo é engenheiro e ex-conselheiro do BNDES.

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