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Congresso em Foco
22/9/2009 6:00
Osvaldo Martins Rizzo *
"O mercado não é uma invenção de mercadores, mas de teólogos"
(Dany-Robert Dufour - filósofo)
Enquanto arruinados agricultores indianos estão vendendo suas esposas e filhas por menos de US$ 200 para sobreviverem, vinicultores produzem menos champanhe francês deixando as uvas excedentes apodrecerem nos parreirais para evitar a queda dos preços, ajustando a oferta ao consumo desaquecido pela recessão global, outros dois efeitos da divina eficiência do mercado autorregulado.
Saciando a imediatista ganância de acionistas, estressados executivos de alta linhagem fraudam os balanços de grandes corporações, alardeando um pseudo e robusto lucro que infla a cotação das ações alteando os índices das bolsas de valores. Descobertas, essas malandragens gerarão descrença nos mesmos investidores que, outrora, exigiam o breve retorno do capital com taxas acima da média.
Deveras, vive-se uma fase do capitalismo selvagem onde predomina o foco no ganho rápido e inescrupuloso, um comportamento identificado pelo economista inglês John Maynard Keynes quando, décadas atrás, disse que "no longo prazo todos estaremos mortos".
Os sacerdotes desse desumano credo praticam a liturgia da inexistência do futuro desvalorizando a produção, o trabalho árduo e a perseverança na busca de resultados gratificantes em prazos longos. No Brasil, essas heresias são achincalhadas e nomeadas de "coisas dos anos 50" pelos oráculos patrocinados pela seita da alta burguesia financista. Eles continuam rezando, por meio da grande imprensa, a sua rançosa prece: "Não se perde dinheiro apostando contra o Brasil!".
Esse contexto revela, ainda, a impotência dos governos em fiscalizar os especulativos movimentos dos adoradores do deus mercado que arquitetam sofisticados esquemas forjadores de falsas demandas para elevar artificialmente o preço do ativo da moda, conhecidos por "bolhas".
Foi durante os anos 80 (a era Reagan) que o capitalismo contemporâneo sofreu uma importante mudança estrutural. O neoliberalismo venerador do deus mercado (formulado pelos teólogos da Escola de Chicago) rompeu com o sistema então vigente passando a pregar a alta artificial dos preços de ativos pré-escolhidos (criando as bolhas especulativas) junto com o exorcismo da mantença do poder aquisitivo real dos salários. Antes deste cisma, a keynesiana política econômica buscava o pleno emprego e a crescente remuneração do trabalho como contrapartida aos lucros do capital, fruto da produtividade obreira, um modelo desenvolvimentista socialmente mais justo.
Ao pregar arrocho salarial e mercado desregulamentado, concentrando riqueza e distribuindo pobreza, a doutrina Reagan gerou as sucessivas bolhas (dos imóveis, dos junk bonds, das empresas ponto com, das hipotecas sub primes etc.). O modelo anterior capitulou ante a brutalidade dos mercenários, cruzados serviçais da avareza do grande banqueiro ávido pelo lucro rápido obtido com o empréstimo de dinheiro caro para o consumo de bugigangas, propagandeado como o caminho da felicidade terrena, a serviço da crença no onisciente deus mercado estimulador do crescente endividamento privado através do crediário farto e saqueador de poupanças.
O sistema produtor/distributivo perdeu o lugar para o financista/concentrador, e nos países pobres a conversão da classe política a esse credo excludente gerou muita miséria. Segundo Mariano Tommasi, ex-diretor do Centro de Estudos para o Desenvolvimento Institucional da Argentina, os males que entravam o desenvolvimento da América Latina são profundos, estando relacionados com uma práxis política oportunista sem visão de futuro.
A congregação financista parece crer que o fim do mundo está próximo, expressando a trágica certeza que o ser humano tem da própria mortalidade. E pode estar certa, pois baseados em complexos e precisos cálculos físicos e matemáticos de composições de forças dinâmicas e órbitas de corpos celestes, renomados astrofísicos concluíram que, em 13 de abril de 2029, um portentoso asteróide, batizado de Apophys (nome grego do deus egípcio Apep, "o destruidor"), colidirá com a Terra podendo exterminar a economia mundial e, quiçá, toda a humanidade.
Assim, em menos de 20 anos, poderá ocorrer o apocalipse bíblico, o que influi na psique do financista porque o efeito desse catastrófico choque cósmico afeta a lucratividade de carteiras de investimentos tornando ilíquidos os títulos da dívida pública de longo prazo, derrubando o preço dos papeis derivativos dos financiamentos habitacionais das operações securitizadas, além de complicar os cálculos atuariais dos fundos de aposentadoria e transformar em pó os direitos creditórios dos recebíveis futuros.
* Engenheiro e ex-conselheiro do BNDES.
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