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Congresso em Foco
28/3/2010 6:00
Celso Lungaretti*
Em 1998, o Brasil perdeu o Mundial da França por causa de uma lambança de enfermeiro, da divisão do elenco e da pusilaminidade do técnico Zagallo.
Não vinha mesmo fazendo campanha brilhante: perdera da Noruega (1x2) na 1ª fase e necessitara dos pênaltis para despachar a Holanda nas semifinais (1x1 e 4x2).
Pior: a liderança do grupo era disputada por Dunga (apoiado pelos veteranos de 1994) e Bebeto (o preferido dos novatos), com direito a uma cabeçada do brucutu no bebê chorão durante a partida contra o Marrocos.
Poucas horas antes da final contra os anfitriães, Ronaldo Fenômeno recebe uma rotineira infiltração de xilocaína para diminuir as dores no seu joelho. Mal aplicada: atingiu uma veia e espalhou-se na corrente sanguínea, fazendo com que, 10 minutos depois, ele entrasse em convulsão.
Zagallo, acertadamente, pretendeu substitui-lo por Edmundo. Mas, o inacreditável Ricardo Teixeira, presidente da CBF, impôs uma mudança de escalação na enésima hora, em benefício do garoto-propaganda da Nike, que voltava sonado do tratamento de emergência.
Dunga ainda tentou dar força a Zagalo, para que mantivesse a decisão sensata. Mas, Bebeto usou sua influência no sentido oposto, favorecendo a aceitação do ultimato de Teixeira.
Inexistindo unanimidade no grupo, Zagallo ficou com as mãos livres ... para submeter-se ao cartola-mor, como sempre.
Os jogadores levaram para o campo os rancores do vestiário, fazendo exibição das mais apáticas no 1º tempo. Era tudo de que Zidaine precisava para praticamente liquidar o Brasil: 0x2.
Quando acordaram, já era tarde. A França resistiu à pressão brasileira, marcou outro gol em contra-ataque e poderia ter feito mais. A goleada por 0x3 saiu barata.
A frustração por haver deixado escapar uma Copa tida como ganha ainda se fazia sentir nas eliminatórias para o Mundial seguinte.
Em suas 18 partidas o Brasil foi dirigido por nada menos do que quatro técnicos: Luxemburgo, Candinho, Leão e Felipão. Acabou por garantir sua vaga apenas na última rodada, ficando 13 pontos atrás da Argentina e só três à frente do Uruguai (repescagem) e da Colômbia (desclassificada).
A família Scolari
Luiz Felipe Scolari, técnico de conceitos rústicos e muita força de caráter, era malvisto pela cartolagem, pois não tinha perfil de títere.
Assombrados pelo fantasma da desclassificação, os dirigentes, entretanto, acabaram cedendo à pressão dos torcedores, para quem, depois do fracasso de Luxemburgo, Felipão se tornara unanimidade -- como consequência, principalmente, de seu ótimo currículo nos mata-matas da Copa Libertadores da América.
Não foi nada além de razoável (três vitórias e três derrotas), mas segurou o rojão num momento crítico, bem de acordo com sua imagem de homem forte.
De quebra, indispôs-se com Romário, por suposta ou real má vontade do baixinho com o escrete. Afastou-o definitivamente, apesar do seu pedido de desculpas público e do lobby de cartolas & imprensa esportiva.
Situação paradoxal: queda de braço entre um técnico que era preferência nacional e um jogador, idem.
Para dar a volta por cima, Felipão fez uma jogada arriscadíssima, contrapondo um mito a outro mito: escolheu Ronaldo Fenômeno como seu artilheiro, embora viesse em maré de fracassos, contusões graves e longos períodos de convalescença, desde a fatídica final contra a França em 1998.
Com seu carisma e extrema habilidade motivacional, aproveitou as críticas à Seleção para fechar o grupo em torno de si. Era a Família Scolari lutando contra tudo e contra todos.
E a sorte o bafejou: não só Ronaldo renasceu das cinzas na Copa da Coréia do Sul/Japão, como a Seleção teve a tarefa facilitada por enfrentar as galinhas mortas que pediu a Deus.
Treinou contra a China (4x0), Costa Rica (5x2) e desperdiçou duas vezes a oportunidade de golear a incipiente Turquia, vencendo-a apenas por 2x1 na 1ª fase e 1x0 na semifinal (gol de Ronaldo, em bela arrancada pela meia-esquerda).
Nas oitavas-de-final, a Bélgica chegou a dar algum trabalho a são Marcos (um dos destaques da campanha), mas Rivaldo e Ronaldo resolveram. 2x0.
O único adversário de verdade foi o das quartas-de-final: a Inglaterra de Beckham, Owen e Campbell, que sobrevivera ao grupo da morte na 1ª fase (vencendo a Argentina, empatando com Suécia e Nigéria) e vinha de golear a Dinamarca. Não havia favorito.
Uma rara falha de Lúcio propiciou gol a Owen, mas o personagem do jogo seria Ronaldinho Gaúcho:
carregando a bola do meio-de-campo até a entrada da área, serviu Rivaldo, livre para empatar;
cobrando falta da zona morta (na intermediária, junto à lateral), acertou chute primoroso, encobrindo o goleiro Seaman, que esperava um cruzamento; e
foi expulso logo em seguida por causa de uma solada, mas os dez restantes souberam segurar o 2x1.
Depois de fazer a lição de casa contra a Turquia, teve pela frente uma Alemanha que nem sequer cogitava chegar à final: seu objetivo era preparar o time para a Copa seguinte, que iria disputar em casa.
Vitória, com autoridade, do Brasil de Marcos; Cafu, Lúcio, Edmilson, Roque Jr. e Roberto Carlos; Gilberto Silva, Kleberson e Ronaldinho Gaúcho (Juninho Paulista); Rivaldo e Ronaldo (Denilson).
Já criara mais chances no 1º tempo, quando Kleberson acertou o travessão e Oliver Kahn, o melhor goleiro do Mundial, andou fazendo defesas difíceis.
Decidiu no 2º. A tarefa foi facilitada por uma inusitada falha de Khan, que bateu roupa num chute forte mas defensável de Rivaldo, deixando Ronaldo à vontade para abrir o marcador.
A Alemanha saiu para o jogo e, em rápido contra-ataque pela direita, Kleberson cruzou, Rivaldo deixou passar e Ronaldo colocou no canto: 2x0.
Terminou a campanha com estatísticas invejáveis:
só vitórias, como em 1970 (quando um campeão jogava seis vezes, e não as atuais sete);
melhor ataque (18 gols);
artilheiro (Ronaldo, 8);
um dos vice-artilheiros (Rivaldo, 5, na companhia de Miroslav Klose, da Alemanha);
uma das melhores defesas (4 gols sofridos, atrás apenas da Alemanha, 3); e
melhor saldo de gols (14) de um campeão nos 18 Mundiais até hoje disputados.
Sem ser um esquadrão dos sonhos, como os de 1958, 1970 e 1982, o Brasil soube fazer valer a experiência e a qualidade técnica do seu elenco.
E, como sabia Napoleão Bonaparte, a sorte é fundamental, seja para oficiais numa guerra ou para técnicos num Mundial.
Felipão gastou toda que tinha - daí sua estrela nunca mais haver brilhado com a mesma intensidade.
Veja o gol de Ronaldo na final contra a Alemanha
* Jornalista e escritor, mantém os blogues
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/
http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/
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